23 DE SETEMBRO DE 2023
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O Sr. Presidente: — Está agora inscrita a Sr.ª Deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, a quem dou a palavra.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Tiago Estevão Martins, a propina tem os dias
contados? Quantos? Quer um papel e uma caneta para fazer a conta? O Sr. Tiago Estevão Martins (PS): — Isso é uma piada? A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — É que aquilo que eu vi não foi nenhum anúncio de fim da propina em
Portugal. O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Foi um seguro de vida da propina! A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Aquilo que eu vi foi um atestado, um seguro de vida, uma garantia, de que
a propina vai continuar a existir em Portugal. A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Exatamente! A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Foi isso que eu vi, contra, aliás, propostas do Bloco de Esquerda e até a
opinião de alguns dirigentes do Partido Socialista, aparentemente cada vez mais minoritária. O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Pede lá uma ficha para te inscreveres! A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, não há dúvida de que vivemos — e eu reconheço isso aos
Srs. Ministros — períodos de emergência. A falta de professores é catastrófica, o problema de alojamento para estudantes deslocados é uma tragédia.
Mas essa tragédia, e aqui repito o que disse há pouco, não resulta de um ato de sabotagem contra o Governo, nem de uma catástrofe natural.
No caso do alojamento dos alunos deslocados, essa tragédia resulta da falta de coragem — diria mais, da cobardia — deste Governo para enfrentar os privilégios, os negócios, a especulação no mercado imobiliário, deixando que os estudantes se tornassem no elo mais fraco de um mercado que se tornou selvagem.
É que, ao contrário do Sr. Ministro da Educação, que não faz ideia de quantos professores afinal faltam na escola pública, o Ministério do Ensino Superior tem um observatório, um observatório da desgraça, que é o Observatório do Alojamento Estudantil, um observatório que todos os meses nos diz uma coisa muito simples: há menos quartos e estão mais caros.
Há menos quartos e estão mais caros! E é isto que todos os alunos veem o verão inteiro: desde junho, julho, passam os exames já a pensar como é que vão conseguir um quarto na faculdade, passam o verão à procura do quarto na faculdade, chegam a setembro e continuam à espera de que o Governo se decida a dar uma resposta para o problema de quartos na faculdade.
Portanto, há um problema que é, obviamente, resultado de uma emergência, mas de uma emergência que não caiu do céu. E aquilo que o Governo se recusa a fazer é a tomar medidas que correspondam à dimensão da emergência, porque os apoios que o Governo vai prometendo são apoios direcionados apenas para os que menos têm daqueles que menos têm. Esses apoios não chegam à maioria dos estudantes deslocados.
O Governo, naturalmente, gasta cada vez mais dinheiro dos nossos impostos para os pagar, porque o mercado imobiliário conta com isso, conta com que o Governo continue a subsidiar a especulação, e não há medidas nem de emergência nem estruturais para resolver o problema do alojamento estudantil.
O Bloco de Esquerda também aqui apresentou propostas concretas, que foram completamente ignoradas. Até hoje não sabemos qual é o resultado dos protocolos que o Ministério do Ensino Superior anunciou que faria com o setor do turismo para garantir quartos a estudantes deslocados.
É uma medida de emergência? É, mas era preciso ter tratado dela em julho, não agora, quando os estudantes já estão à rasca, já estão a desistir, não agora, quando os estudantes já não sabem onde é que hão de ir dormir