O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE JANEIRO DE 2024

9

A Sr.ª Rosário Gambôa (PS): — Pouco tempo depois desta mudança na estrutura acionista, ocorreram

diversas alterações no modelo de gestão da TSF, com a destituição do diretor editorial em 11 de setembro e a sua substituição no cargo por outro sem que fosse ouvido, conforme a lei, o conselho de redação. Os aumentos salariais acordados com a anterior administração ficaram sem efeito, e a TSF parou, em greve, durante 24 horas. Este era o prenúncio de uma onda de instabilidade que varreu todo o universo do grupo.

No dia 3 de outubro, o Partido Socialista, preocupado com os acontecimentos recentes e com a falta de idoneidade de um fundo desconhecido dominante neste grupo, manifestou publicamente a sua preocupação, instigando a ERC a agir, escrutinando as relações dos titulares por conta própria ou de outrem, as participações, os meios de financiamento, o capital social da nova estrutura que tinha entrado no grupo.

Após um período agónico de letargia, perpetuado por puro tacitismo do PSD, o novo Conselho Regulador da ERC tomou posse em 11 de novembro de 2023. A 8 de janeiro, através de um comunicado, a ERC informou da abertura de um processo administrativo autónomo para proceder, de acordo com o artigo 14.º da lei da transparência, à clarificação da cadeia de participações. Abriu também um procedimento noticioso para averiguar o domínio das operadoras da rádio, bem como para a verificação das consequências no pluralismo e linhas editoriais destes órgãos de informação com a entrada do novo acionista. Ou seja, a ERC está a fazer o seu trabalho.

Mas de setembro a dezembro um furacão de prepotência, gestão arbitrária e danosa varreu o universo da Global Media, fustigando de forma particularmente violenta marcas prestigiadas identitárias da comunicação social portuguesa, como a TSF, o JN, o DN, OJogo, o Dinheiro Vivo. O CEO (chief executive officer) do grupo tinha anunciado em setembro que iria implementar o mais grandioso projeto de media, com milhões de euros, mas em 6 de outubro comunicou que iria negociar com caráter de urgência a rescisão de 150 a 200 trabalhadores, avançando para uma reestruturação necessária, a seu ver, para evitar a falência do grupo.

Iniciou-se então uma reestruturação cega, sem qualquer referencial, pedindo inclusivamente aos diretores dos títulos que fizessem listas de despedimento. Com a mesma justificação, o salário de dezembro e o subsídio de Natal não foram pagos a 550 trabalhadores do grupo. Foi suspenso o pagamento a colaboradores do JN, deixando a descoberto extensas faixas do território onde o JN é marca de proximidade. Foram quebrados compromissos com fornecedores, afetando serviços essenciais, como o da relação com as agências noticiosas, silenciando podcasts e áudios, e pondo em causa o arquivo digital do JN e da TSF, quebrando o património do pluralismo da TSF e eliminando espaços de opinião. Onze diretores demitiram-se, acusando a direção de intromissões editoriais.

Num clima de enorme tensão arrasadora, os trabalhadores viram-se emparedados entre uma rescisão amigável e um despedimento coletivo. Sucederam-se greves, manifestações, participações à ERC. Entretanto, o CEO proferia comunicados com declarações públicas ruinosas, pondo em causa a viabilidade dos títulos do grupo, a sua credibilidade e valor, com falsidades, suspeições, antevisões catastróficas. Esta instabilidade gerada teve como reflexo acentuado uma quebra com falta de receitas de publicidade e de visibilidade mediática. No contexto de contenção, o CEO ainda decidiu recrutar para o grupo mais 35 pessoas, com um impacto salarial de 2,3 milhões anuais.

Sr.as e Srs. Deputados, entre muitas, há uma pergunta simples que ocorre ao mais singelo do senso comum: porque é que um fundo internacional que diz ter milhões, segundo o seu CEO, compra um grupo de media português com dívidas para, de seguida, o desmantelar, descredibilizar, destruir, inclusivamente, o valor de mercado daquilo que comprou? Se não era para fazer comunicação social, era para fazer o quê?

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Tens de perguntar ao Ministro da Cultura. Sr. Ministro, responda lá! A Sr.ª Rosário Gambôa (PS): — A 12.ª Comissão, através de requerimentos do PCP e do Bloco de

Esquerda, aprovados por unanimidade, viabilizou um conjunto de audições a diferentes entidades constitutivas do universo da Global Media. As dúvidas iniciais que fomos tendo foram-se acrescentando à medida que as audições decorriam, bem como as preocupações face à situação dos trabalhadores e à independência destes órgãos.

Ouvimos e registámos muita informação vasta e complexa, e, mais uma vez, por unanimidade e a requerimento do PS, foi aprovada a transcrição de todas as audições e o seu envio conjunto a entidades