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25 DE JANEIRO DE 2024

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Isto para dizer que o nosso problema nacional nunca foi o de as ideias serem debatidas com a antecedência necessária; o problema sempre foi o de conseguirmos ter uma estrutura social e económica que fosse acolhedora para essas novas ideias e que as conseguisse implementar.

O problema nunca foi sabermos qual é o lugar de Portugal na Europa e no mundo; o problema sempre foi que, na escolha entre o dinheiro fácil e o verdadeiro enriquecimento, as elites políticas e económicas escolheram o dinheiro fácil.

O dinheiro fácil foi o ouro do Brasil, o dinheiro fácil foi o extrativismo das colónias, o dinheiro fácil foi um certo tipo de fundos europeus, o dinheiro fácil é, hoje em dia, o turismo massificado e o imobiliário de luxo. O dinheiro fácil é também a fuga aos impostos — esse ainda é mais fácil! — e se há portas giratórias que levam da política aos negócios, também há algumas que vêm dos negócios, da evasão fiscal, para a política com financiamento pelo caminho. É bom que não esqueçamos disso.

O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — É bem verdade! Protestos do CH. O Sr. Rui Tavares (L): — Então, o problema nacional hoje continua a ser o de criar as condições do

verdadeiro enriquecimento e esse debate, que já existia na altura, passava, em primeiro lugar, pela qualificação…

Protestos do CH. Já vi que houve quem reagisse… Imaginem quem? Não por acaso. Protestos do CH. As condições para o verdadeiro enriquecimento passam pela valorização das pessoas, do conhecimento e

do território, passam pelas qualificações e é preciso dizer que conseguimos que elas hoje chegassem a um nível comparável à dos restantes países europeus. Passam por conseguirmos que o dinheiro fácil não passe pelo nosso País em busca da compra dos produtos que têm valor acrescentado e incorporação de conhecimento, tecnologia e técnica que comprávamos lá fora e que trazíamos cá para dentro e em que apenas uma elite pequena enriquecia e os outros ficavam de fora.

O mesmo se passa hoje em dia quando vemos casas à venda por milhões e milhões de euros a que as famílias normais não conseguem chegar e sabemos bem quem está do lado desse imobiliário de luxo e quem está do lado do direito de casa para morar.

O problema no nosso País tem sido sempre que damos meio passo para o progresso e não o complementamos com o restante: uma nova cultura de trabalho que traga esses jovens que hoje podem convergir ou, mais do que convergir com a média da União Europeia, superar a média da União Europeia à distância de um voo de Portugal para um país do centro da Europa.

Esses jovens não o fazem porque os impostos lá são mais baixos — às vezes são mais altos! —, fazem-no, porque os salários são mais altos, porque os serviços públicos, com esses salários mais altos, conseguem ter uma qualidade mais alta e serem mais universais e mais baratos. E fazem-no também porque encontram lá uma cultura de trabalho que os realiza, seja no público, seja no privado e no setor social e cooperativo.

É isso que precisamos de mudar em Portugal. E para mudar Portugal nós precisamos de renovar o nosso contrato democrático, o nosso contrato social e o nosso contrato ambiental.

Começo pelo último: no tempo em que Carlos Morato Roma escreveu este texto, enriquecer era industrializar e era isso também que ele defendia. Industrializar era queimar matéria fóssil para produzir e, portanto, poluir mais, sem, evidentemente, imaginar o que isso causaria ao nosso planeta através do aquecimento global do efeito de estufa.

Hoje não é assim. Saiu a notícia, ainda hoje, de que na União Europeia queimámos menos 16 % de matéria fóssil, emitimos menos 16 % de gases com efeito de estufa, e isso não significa que empobrecemos 16 %. Estamos a conseguir desacoplar a indústria das emissões carbónicas e conseguiremos, nos próximos anos —