I SÉRIE — NÚMERO 40
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acentuada. Olham para o Parlamento e dizem: que respostas temos daqui? Nenhuma. Parece que o dia de hoje não está a acontecer e que este Parlamento não consegue olhar para ele, sabendo a profundidade que tem e o problema enraizado da cultura institucional portuguesa dos últimos anos.
Nós vivemos uma crise de instituições profundíssima. Quem o ignorar será arrolado e ultrapassado pela História, porque a História não perdoa aos que ignoram os movimentos mais básicos de soberania do seu País: o povo. O povo, esse que sempre nos olha à espera de uma palavra, de uma resposta, de algo que diga «nós estamos aqui e estamos a ouvir».
À hora a que estamos neste Parlamento, o País debate-se com mais um escândalo de corrupção nacional. À hora a que estamos neste Parlamento, mais um autarca está detido à espera de ser ouvido por um tribunal. À hora a que estamos neste Parlamento, o País vive novas suspeitas sobre a política, sobre os políticos, sobre as autarquias e sobre o Governo.
Mas, mesmo assim, nada impediu o PS de subir à tribuna, não para falar da Madeira, dos Açores ou do Governo, mas para falar da solução do 10 de março, para falar dos votos e para falar de eleições.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem! O Sr. André Ventura (CH): — Por isso, não é dessas eleições que temos de falar hoje, é das portas giratórias,
da corrupção e da degradação institucional que marca a realidade portuguesa. Sr. Presidente, permita-me recordar um episódio que acho que deve hoje ser do conhecimento público. O
antigo Ministro socialista Manuel Pinho, como todos sabemos, tinha a tutela da EDP. Esse mesmo ministro adjudicou a uma empresa o Plano Estratégico Nacional do Turismo por 1 milhão de euros. Repito, o Ministro Manuel Pinho adjudicou a uma empresa alemã o Plano Estratégico Nacional do Turismo por 1 milhão de euros. Um dia, Manuel Pinho deixou de ser ministro, como todos deixaremos de ser políticos um dia. Para onde é que ele foi trabalhar? Para uma subsidiária dessa empresa à qual deu 1 milhão de euros!
Se isto não é motivo suficiente para olhar nos olhos dos portugueses e dizer que a degradação mais profunda da República está a acontecer sob os nossos olhos, então, nós hoje não só estamos a falhar como estamos a ignorar o mais profundo do povo português.
Aplausos do CH. Será isto novo na República Portuguesa? Não. Jorge Coelho foi Ministro das Obras Públicas e, quando saiu, foi trabalhar para a Mota-Engil. Ferreira do Amaral teve a tutela da Lusoponte, que foi constituída sob o seu consulado. O Sr. Francisco César (PS): — Isso não é verdade! O Sr. André Ventura (CH): — Um dia, Ferreira do Amaral deixou de ser político, como nós todos deixaremos
de o ser um dia, e foi trabalhar para a Lusoponte. Se isto não é motivo suficiente para olharmos de frente os portugueses e lhes dizermos que algo de muito degradante aqui se passa, então, já não sei que motivo haverá para o fazermos.
Protestos do Deputado do PS Francisco César. Também podemos falar dos Açores, se quiser, Sr. Deputado! O Sr. Deputado é o último a poder falar sobre
o que quer que seja em Portugal. Aplausos do CH. O Sr. Deputado é o último a poder falar do que quer que seja em Portugal, mas quando quiser falar dos
Açores e dos familiares que o PS lá tem colocados, falaremos, porque é sempre o PS a tê-los lá. Quando quiser, falaremos disso, Sr. Deputado.