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25 DE MAIO DE 1985

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entre nós todos. Já em relação à forma de os solucionar, estou convencido que o encontrar de uma solução comum será substancialmente mais difícil.

Mas interessa pensar que os problemas que hoje se põem aos jovens não são substancialmente diferentes daqueles que se punham há 10 anos atrás. E isto para nos lembrarmos que o 25 de Abril tinha em si uma aposta que apontava no sentido da democratização, entendida numa perspectiva económica, social e cultural.

Os jovens portugueses que antes do 25 de Abril viam o seu futuro coarctado e também os seus direitos coarctados à participação, hoje podem dizer que encontram apenas algumas diferenças; não são diferenças significativas, porque não importa ter uma concepção da democracia apenas como o direito instituído de se poderem livremente expressar, mas sim como um direito em que há, realmente, condições objectivas para as pessoas poderem participar.

Nesse sentido, vemos que a participação dos jovens, no Portugal do pós-25 de Abril, têm tido nestes últimos 10 anos não a resposta que gostaríamos, mas, infelizmente, aquela que quase toda uma geração tem tentado impor a nós próprios.

Nas soluções encontradas, a todos os níveis, e que a nós dizem respeito, porque são soluções do presente mas que terão, principalmente, efeitos no futuro, muito poucas vezes, aquando do momento da decisão, os jovens são chamados a participar.

Assistimos, por isso, em diversas áreas —e vou apenas referir as mais significativas—, por exemplo no campo da educação, sobre o qual já nem vale a pena falar, às eternas experiências que se vêm fazendo ao longo destes 10 anos. Neste campo há um aspecto que é muito mais importante. É que dá a sensação que a educação está a ser feita como se fosse para educar aqueles que a estão a desenvolver e como se fosse para dar respostas aos problemas que se põem à sociedade no ano de 1985 ou, muito provavelmente, no ano de 1987 ou 1990, quando os problemas que têm a ver, hoje, com a educação, no nosso entender, teriam que ser postos principalmente em duas ópticas: uma primeira, que tivesse em conta ser fundamental modificar as mentalidades em Portugal, porque estas não se transformam com a ruptura e é claramente necessário um processo de aprendizagem para as pessoas poderem alterar o seu processo de formação; uma segunda, que tivesse em conta que no campo educacional seria importante determinar quem é que estamos a formar e para quê, qual a sociedade de que, sem estarmos todos de acordo, seríamos capazes de vislumbrar os contornos daqui a 10 ou 15 anos, de forma a sermos então capazes, face a esses contornos da sociedade, de integrar um sistema de ensino para dar resposta aos problemas dessa altura e não aos de hoje.

No nosso entender nada disso é feito e o que se passa é que a juventude portuguesa encontra no ensino um lugar não de formação e de estímulo, mas claramente um lugar de frustração onde vai adquirir conhecimentos, na grande maioria dos casos, quase que obrigatoriamente.

Outra das áreas onde estou convencido de que não teremos grande dificuldade em encontrar convergência é no campo do trabalho. Não tenhamos a mínima dúvida de que, hoje, em Portugal, a geração clara-

mente mutilada neste campo é a juventude, pois mais de dois terços dos postos de trabalho não existentes são de jovens com menos de 30 anos. Jovens esses que têm que assistir a uma rotação de emprego que os obriga, muitas vezes, a ficar mais de 2 anos à espera do seu posto de trabalho.

Esta situação manter-se-á se não houver uma concepção de solidariedade social que procure encontrar uma resposta muito clara, não de um qualquer bónus aos jovens ou de uma qualquer mesada para que tenham uns tostões para gastar —pois os jovens não estão interessados em receber esmolas ou ajudas da sociedade desse tipo —, mas sim no sentido de poderem ter direito a participar na construção e de terem um posto de trabalho.

Os jovens precisam, também, de ter um tecto e de constituir uma família e isso hoje está-lhes praticamente vedado. Sem emprego, na grande maioria dos casos, já seria muito difícil constituírem família pelas responsabilidades que isso traz; mas muito mais difícil do que isso é, a seguir, não terem um tecto onde realmente possam viver.

Verifica-se, então, que a conjunção destas três simples componentes —um sistema educativo que frustra o jovem e que virá no futuro, de certeza absoluta, a frustrar a sociedade portuguesa (e vê-lo-emos depois), a inexistência de um posto de trabalho e a inexistência de um tecto — leva a que o jovem se veja completamente coarctado nos seus horizontes.

O jovem, que foi aquele que principalmente saiu para a rua no 25 de Abril, aquele que fez as alegrias de um país finalmente democrático e aquele que mais dá a cara, em todos os partidos e em todas as sensibilidades, quando é necessário apresentar de forma clara as suas propostas, acaba por ver, quase sempre, completamente coarctada a sua opção de esperança.

Então meus amigos não tenhamos a mínima dúvida de que quando todas as portas se fecham alguma terá de ficar aberta. Esperemos que, com a ajuda de todos, essa pelo menos seja a porta da democracia.

Por este espírito de defesa intransigente da democracia, da nossa concepção de democracia —e aqui estou convencido que nós jovens temos um grande ponto de confluência —, penso que nos devemos bater e cerrar fileiras.

Pessoalmente questiono — e a minha geração tem-no feito muito— se aquilo que, norma geral, é interpretado e apresentado como uma diferença entre os jovens e os menos jovens é apenas um conflito natural de gerações, pois penso que hoje este problema já não é só um conflito desse tipo — e se isso assim fosse não seria grave —, mas sim o conflito natural entre aqueles que tiveram a sua formação no antes 25 de Abril e aqueles que a tiveram claramente no pós-25 de Abril.

Este conflito é a confluência entre aqueles que tiveram a sua formação num país claramente fechado e aqueles que têm a sua formação num país claramente aberto; entre aqueles que têm a sua formação assente em que Portugal é um país pequeno e que, por isso, não pode encontrar resposta para os seus problemas e a concepção daqueles que dizem que somos um país pequeno, mas que temos um grande passado e que teremos de ter, certamente, um grande futuro.

Meus amigos, vou terminar dizendo que espero, principalmente, que desta reunião saia algo. Que se abram os caminhos e que, mais do que encontrar aqui