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25 DE MAJO DE 1985

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não estão criadas &s condições mínimas para que o jovem desenvolva as suas capacidades no sentido de melhorar, quer o seu nível de vida, quer o nível de vida de toda a comunidade. Exemplo vivo disto são os inúmeros jovens e crianças em idade escolar (que deveria ser, realmente, obrigatória) que são arrancados da escola, a fim de se ocuparem em trabalhos extenuantes e, muitas vezes, fora dos seus projectos.

A melhoria de vida, para a qual os jovens poderiam contribuir de modo satisfatório, deveria ser feita em prol de uma vida mais sã e aberta.

Os jovens necessitam de espaços onde possam ter autonomia para pôr em prática a sua criatividade. Por vezes, parece ser esquecido que o jovem é um ser com ideias, que, embora sujeitas a mudanças, deveriam ser escutadas. O jovem deve ter uma mais activa participação, intervir mais directamente nas decisões que são tomadas, quer pelos órgãos dos municípios em que vive, quer pelos órgãos estatais centrais.

Penso que, para se evitar a degradação juvenil de que muitos hoje se queixam, dever-se-ia dar um novo e merecido lugar ao jovem.

Para que esse lugar seja criado é preciso repensar, em primeiro lugar, a sociedade portuguesa; é preciso repensar a situação actual do País. Mas não é repensar a situação portuguesa a nível de soluções imediatas; é, ao contrário, estritamente necessário que a sociedade seja repensada em termos de futuro longo, em termos de continuação de uma vida que, embora degradada, pode ser recuperada e redinamizada. Criar um Ano Internacional da Juventude, aliás como criar um ano internacional de qualquer outra coisa, pode parecer a muitos um acto válido. Pois, quanto a mim, a criação do Ano Internacional da Juventude é um acto mesquinho e mesmo um tanto hipócrita, se atendermos que nos anos anteriores a 1985 pouco se tem feito em Portugal e no resto do mundo no sentido de integrar os jovens na sociedade. Esta não integração dos jovens pode tomar depois graves consequências, cuja principal é a degradação juvenil a que já me referi. Por outro lado, não há empregos, nem faculdades e escolas em número suficiente que satisfaçam o desejo de estudar de todos os jovens e ainda não há igualmente apoios estatais a iniciativas juvenis.

O jovem português, em face disto, tem de redescobrir outros caminhos, outra saída para as muitas crises que afectam o País e o Mundo. Cabe, portanto, ao jovem lutar por um lugar dentro da sociedade, mas antes esse mesmo jovem deve tentar modificar, de um medo não violento e não opressor, os padrões que regem esta sociedade consumista e exploradora em que actualmente vivemos.

Cabe ao jovem, exigir certos direitos (que, em contrapartida, implicarão deveres), mas exigi-los com consciência, no sentido da criação de novos postos de trabalho na área da conservação da natureza, do património nacional, por exemplo. Cabe igualmente ao jovem exigir a redução da jornada de trabalho com o propósito de diminuir o desemprego. Por fim, cabe ao jovem criar uma sociedade alternativa, mais sã, mais humana, mais justa!

O desânimo deve ser combatido com o meio mais eficaz: a esperança. Por fim, para que o Ano Internacional da Juventude deixe de ter o seu mesquinho significado, cabe ao jovem fazer que os direitos e deveres da juventude no mundo sejam respeitados.

Que a ameaça de uma vida inútil e sempre igual seja substituída por uma realidade nova, uma vida mais equilibrada!

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Conferencista- Alvaro Arranjo, da Juventude da UEDS.

O Sr. Álvaro Arranjo (Juventude ¿a UEDS): — Srs. Participantes, Srs. Convidados, Srs. Deputados: Como é de todos conhecido, a situação da maioria dos jovens portugueses é hoje caracterizada pelo mal-estar, desespero e ausência de horizontes.

Há 11 anos, em grande parte devido à acção da juventude de então, um vento de esperança varreu a sociedade portuguesa.

A guerra colonial, na qual um regime opressivo e retrógrado obrigou milhares de jovens a morrerem ou a ficarem estropiados, terminou.

A liberdade reconquistada contagiou a maior parte da sociedade. A criatividade, a imaginação, saltaram para a rua. Viveu-se um quotidiano de esperança, traduzido em milhares de iniciativas locais que corporizavam o desejo de transformação social.

Na escola, o velho ambiente opressivo foi substituído por novas relações aluno-professor, pela participação de professores e alunos na própria gestão da escola.

Em toda a sociedade velhos tabus, o moralismo hipócrita, foram postos em causa.

Pela primeira vez, as leis reconheceram a igualdade homem-mulher.

Porém, como seria de esperar, os detentores de privilégios, só possíveis de serem conservados através da exploração de outros homens, não ficaram parados. Gradualmente foram retomando o poder.

O poder político foi ocupado por defensores dos velhos esquemas liberáis-capitalistas apostados em restaurar antigos privilégios.

Outros, que pelo seu passado e as suas promessas criaram expectativas positivas, colocaram os seus ideais «na gaveta».

Fazendo suas as políticas da direita, aplicando as tradicionais medidas económicas überais-capitaüstas, contribuíram para lançar a dúvida sobre conceitos como socialismo e democracia, desmobilizando da luta politica vastos sectores das classes mais desfavorecidas, incluindo inúmeros jovens.

Como resultado desta evolução, o quotidiano da maioria dos jovens é hoje dominado pela necessidade de assegurar a subsistência do dia-a-dia. O desemprego é actualmente uma enorme nuvem ameaçadora. Aplicando uma politica económica, que deliberadamente provoca o desemprego, de acordo com os velhos princípios capitalistas impostos pelo Fundo Monetário Internacional, sucessivos governos impuseram o desespero e a ausência de horizontes à juventude.

Em paralelo com as políticas governamentais que aplicam em Portugal as medidas liberáis-capitalistas, verificamos que o sector do patronato português não investe porque continua a tentar derrubar o próprio regime. Para esses senhores só a supressão das liberdades e a restauração de um regime autoritário, mais ou menos camuflado, criaria condições para a sua actividade e a criação de novos empregos para os jovens.