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II SÉRIE — NÚMERO 92

Recentemente, a Juventude Socialista, tentando contribuir para minimizar, ainda que pouco —não temos a veleidade de eliminar—, alguns dos problemas dos jovens, criou um programa que denominou Telefone fovem. Como prevíamos, a grande percentagem de jovens que nos contactam —quero dizer-vos que o seu número já ultrapassou os 500 desde que há três semanas pusemos esse telefone a funcionar— são jovens que nos dizem «vivo sozinho», «dou-me mal com o meu pai», «não tenho emprego», «fui despedido».

A taxa de desemprego em Portugal não é muito elevada, tendo como espelho e como comparação os países que compõem a CEE. Reconheço o erro desta comparação porque as realidades, sobretudo a económica, não são iguais. No entanto, a componente juvenil desse desemprego em Portugal é muito maior que o peso da componente juvenil nos países da CEE. E maior perigo do que esse é já a percentagem, que se eleva, de jovens desempregados que prolongam o tempo de duração do seu desemprego por mais de 12 meses, segundo Joaquim Pinto Coelho.

O Fundo Social Europeu poderá ser uma das respostas a alguns destes problemas.

Terei oportunidade de em sede própria —penso que talvez amanhã — me referir a esta questão, apresentando uma proposta concreta da organização a que pertenço.

Continuando, e só para dar mais alguns números, segundo um estudo feito pelo FAOJ, em 1983 28 % dos jovens que fumam consomem diariamente um maço de tabaco, ou seja não se incluem nem os que fumam mais nem os que consomem menos. Quer dizer que em 1983, em Portugal, 170 240 jovens fumavam por dia um maço de tabaco. Estes 170 240 jovens, fumando um maço de tabaco por dia, deram a produzir à Tabaqueira Nacional 61 286 400 maços de tabaco, ou sejam 1 225 000 728 cigarros. E dispenso mais números, pois, à semelhança de John Donne, «não adianta perguntar por quem os sinos dobram». Eles dobram, inevitavelmente, por nós. Mas dobram por nós, ou continuarão a dobrar, se continuarmos no imobilismo em que nos situamos. Ê que os jovens —e sobretudo nós, que representamos uma elite dos jovens portugueses — têm essa responsabilidade.

Quero recordar que escravo não é aquele que vive algemado; é aquele que vive permanentemente à espera de que alguém o vá libertar.

Nós, jovens, temos a palavra mais importante a dar. Como disse no início, mais do que constatar, é preciso encontrar soluções, sem dogmas, que pertencem exclusivamente ao passado. Hoje não é preciso ler a futurologia dos livros de Jean Fourastié ou de Toffler para aprendermos que a história, de facto, mudou de ritmo.

O desafio que hoje se põe, sobretudo a nós próprios, não é tanto entre a esquerda e a direita, entre Marx e Friedman, mas sim entre o passado e o futuro, entre o passado que rejeitamos e o futuro que queremos construir.

Ontem estávamos todos contra qualquer coisa, sabíamos, no mínimo, o que não queríamos. Hoje temos de saber aquilo que queremos. Há que discutir, há que dialogar.

Nós. os jovens, somos inseparáveis do futuro, somos sementes de ideias e sementes do progresso. Temos de encontrar aquilo que nos une e que vai ser concretizado brilhantemente no dia 15 de Julho pela criação formal do Conselho Nacional de Juventude, em que participam organizações partidárias, que vão desde a Juventude Comunista até à Juventude Centrista, e onde participam organizações não partidárias, desde sindicais e culturais a sócio-econóraicas.

E hoje irreversível o processo de criação do futuro. Falta —e que falta faz!— discutir o futuro que queremos construir. Ribeiro Sanches, enciclopedista do século xviii, escreveu há duzentos anos «as dificuldades que um reino velho tem a emendar». Hoje far-nos-ia bem tornar a ler o que Ribeiro Sanches escreveu há duzentos anos — sublinho — porque muito do que ele escreveu continua actual.

Há que renovar as mentalidades de que tanto falou António Sérgio há bastante tempo. Mas não basta dizê-lo; tem de o ser de facto.

A crise maior que hoje assola a vida portuguesa não é a crise económica; é a crise profunda dos valores, é a crise profunda da identidade, direi mesmo que é a crise da nossa consciência colectiva.

Hoje o Poder repele os jovens, torna-os desconfiados.

A descentralização e a regionalização administrativa do País são um processo importante para que os jovens sejam levados e procurados para a construção do próprio futuro.

Daqui faço um apelo aos colegas dirigentes que aqui estão no sentido de que espalhem por todas as organizações o apelo para que os jovens participem activamente na vida e nos órgãos da sua autarquia.

Hoje, se formos aí fora, vemos que 1 600 000 jovens entram na escola primária e no ensino secundário. Muitos desses jovens, quando terminam o curso ou quando abandonam o sistema escolar — digo «escolar» porque entendo que neste país não há sistema educativo—, são confrontados com duas situações: as portas do trabalho, os empregos, estão fechadas.

Daqui a dez anos são esses 1 600 000 jovens, que estão entre os 8 e os 18 anos. que vão decidir eleitoralmente o futuro deste país. Eu temo ter de dizer qualquer dia que eles vão decidir eleitoralmente o futuro deste regime. Fala-se na CEE, mas penso que a melhor maneira de olharmos para a CEE será fazer um esforço para olharmos com maior preocupação para dentro do próprio país.

Temos de ter uma visão multipolar do Mundo, sem armas, porque não há mísseis bons nem mísseis maus, temos que pugnar por um desarmamento bilateral ou mesmo multilateral e preconizando não ingerências em Estados soberanos, sejam eles a Nicarágua ou o Afeganistão.

E esta a forma de caminharmos no Mundo e na democracia, porque a democracia não existe, caminha-se para ela. Quem diz que a democracia existe fá-lo porque está instalado na democracia, e nós, jovens, não podemos permitir que ninguém, sobretudo nenhum democrata, se instale na democracia.

Se. paralelamente ao Plenário da Assembleia da República que temos neste pais, funcionasse, por exemplo, nesta Sala ou noutra qualquer, pois não nos interessa o espaço físico, uma outra assembleia constituída por jovens, com certeza que muitas das