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II SÉRIE — NÚMERO 94

Mas reivindicar esse direito, só por si, não chega, é necessário levar à prática, já, iniciativas nesse sentido.

Saliento aqui o papel cada vez maior e mais importante das organizações independentes, tanto do poder político como de organizações partidárias, que, não só a nível nacional mas também a nível internacional, conjuntamente com organizações congéneres, desenvolvem iniciativas comuns em prol da paz e de um maior entendimento entre os povos.

E para concluir afirmamos que a paz só é possível através de um diálogo baseado na tolerância, no saber ouvir e na tentativa sincera de compreender as opiniões e a filosofia dos outros.

E faço uma proposta muito concreta na sequência deste tema: a criação de uma estrutura, que seria, hipoteticamente, o instituto de educação para a paz.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Jorge Ferreira, da Juventude Centrista.

O Sr. IJorge Ferreira (JC): — Apesar de existirem pessoas nesta sala que se têm frequentemente insurgido contra o facto de determinados conferencistas falarem de improviso e outros preferirem preparar o trabalho com tempo, eu, apesar de tet sido sempre um pouco contra isso, vou continuar na tradição que encetei desde anteontem e correr o risco de fechar o diálogo, fixando algumas ideias no papel e reprodu-zindo-as aqui oralmente.

O crescente clima de tensão mundial e o impressionante poder destrutivo acumulado pelo desenvolvimento dos modernos arsenais bélicos têm sido de molde a confrontar a Humanidade com a possibilidade de autodestruição e têm feito crescer uma incontida aspiração dos homens à paz.

Como um suor frio ou como opção consciente para a vida do planeta, a ninguém, e por maior razão à juventude preocupada que hoje somos, serão indiferentes a necessidade e o apelo convicto a esforços autênticos dos dirigentes políticos no sentido de, consequentemente, prosseguirem a paz e o desarmamento como objectivos não só de política nacional mas, e principalmente, de projecção universal.

Mas se ser jovem e juvenilmente interveniente no debate a este respeito implica a dimensão utópica e idealista de sonhar com algo que se antevê longínquo, porventura inatingível, também exige, a nosso ver, a coragem de olhar em redor, não imitar a avestruz e apurar criticamente qual o modo mais apto a preservar a paz que, apesar de tudo, temos para evitar a catástrofe e a destruição que não queremos.

E que fique claro que para nós a paz não é um fim em si mesmo, mas sim um instrumento para uma renovada existência do homem. Este só faz sentido em liberdade, valor ôntico-social de permanente exercício, escopo teológico da paz. Donde que a luta pela paz não pode perder de vista a dimensão de afirmação de valores fundamentais para a dignidade humana: a uberdade e a democracia são exemplos desses valores. Consequentemente, é um erro, um perigoso risco mesmo, quando não uma malévola intenção, abstrair do confronto deste valores básicos com os seus conhecidos antónimos, traduzidos em blocos geo-estraté-gicos distintos, que só ganharemos em assumir e não disfarçar.

Vivemos numa época marcada pela tensão produzida pelo choque das superpotências e dos diversos interesses que lhes subjazem. A sociedade internacional vive numa convulsão provocada por constantes fricções que em concretos centros nevrálgicos vão opondo os interesses geo-estratégicos ocidentais e os da URSS. São pequenas batalhas, a que Nixon chamou «a terceira guerra», isto é, aquela que não é objecto de declaração formal, mas que evolui em confrontações parciais e indirectas.

Nesta original «terceira guerra» ocorrem duas posturas distintas entre os interesses em conflito.

Foi Khrutchev, numa reunião do Partido Comunista da União Soviética, quem disse:

A nessa política é apenas força, apenas a desorientação do inimigo. Não o podemos dizer em voz alta, mas é assim que deve ser.

A postura imperialista militar soviética caracteriza-se, por outro lado, pela instrumentalização de exércitos de outros países, como é o caso de Cuba, do Vietname e de outros países submetidos pela força. Robert Close, ex-presidente da Comissão de Defesa da Bélgica, observou, a propósito, que desde a fundação da União Soviética este país já obteve o controle directo de 3 500 000 km2 e outros 4 000 000 km2 e 130 000 000 de pessoas indirectamente dominadas.

A diferença radical de valores entre as 2 superpotências está, de resto, bem patente nos blocos militares em que se integram. Enquanto a Aliança Atlântica respeita a soberania e independência dos seus membros, o Pacto de Varsóvia constitui um bloco monolítico construído sobre a doutrina da soberania limitada. Enquanto a Aiiança Atlântica tem natureza defensiva, o Pacto de Varsóvia tem uma natureza essencialmente agressiva, desde logo para os próprios povos dos países que o integram, tendo, aliás, precedido a Aliança Atlântica no tempo. Enfim, se pretendermos aferir as diferenças em função da liberdade, basta observar a liberdade de afirmação, expressão e movimento dos grupos pcciSstas no Ocidente e a perseguição que lhes é feita no Leste.

É neste entendimento da actual situação internacional que centramos a nossa atitude face ao pacifismo. André Glucksmann proclamou lapidarmente que ao desespero pacifista do «antes vermelhos que mortos» a autêntica estratégia da única paz que vale a pena é «nem vermelhos nem mortos». Para nós, a proclamação pacifista é coincidência nos termos.

A paz é o ânimo do justo e correr o risco de frequentar o Metropolitano de Nova Iorque ou as «zonas proibidas» dos grandes centros urbanos da Europa livre não poderá jamais comparar-se ao internamento e controle das inteligências, que degradam a vida humana no mero estado vegetativo. O exercício ético-jurídico, filosófico e vivencial desta verdade rejeita, à partida, as ideologias da paz, entendida esta como a capitulação unilateral perante o terror.

Porque queremos a paz, defendemos um intransigente desamamento simultâneo, bilateral e gradual. Esta intenção naturalmente que pressupõe o estabelecimento do equilíbrio em termos de armamento, Por isso, também, não somos pacifistas. A paz só faz sentido enquanto quadro de afirmação de uma vontade de defesa legítima e justa da identidade cultural e política,