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II SÉRIE — NÚMERO 94

Elas são o testemunho real de que a paz é possível se todos lutarmos por ela e a juventude em primeiro lugar:

Queridos pais e maninha:

Hoje, pego na caneta pela última vez para me despedir de vós para sempre. Quero fazê-lo de uma maneira muito simples, porque neste momento só o coração fala sinceramente com o coração. E por isso cada palavra amarrada está vazia. Se pudesse dizer-lhes tudo o que sinto e o que vivi em todo este tempo, o bom e o mau, não seriam suficientes estas duas horas que me restam e talvez não acreditassem. Mentiria se dissesse que morro com gosto. Quem é que morre de vontade, tão jovem como eu sou? Mas também não me lamento. Vou-me deste mundo com a minha convicção e uma fé enorme no futuro. O que me dói é pensar no vosso desgosto...

Desejo-lhes muitos anos de saúde e felicidade. O que o destino me roubou, que o dê a vós.

Beijoos pela última vez a todos e ofereço-lhes o meu coração.

Até sempre.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Calado Lopes, do Corpo Nacional de Escutas.

O Sr. Calado Lopes (Corpo Nacional de Escutas): — Srs. Conferencistas: Se procurarmos no dicionário o significado da palavra «paz» encontramos diversos sinónimos, tais como tranquilidade pública, cessação de hostilidades, sossego, serenidade de espírito e tantas outras.

Porém, na linguagem e no debate corrente a paz surge associada de uma forma mais estreita ao conceito da guerra, da beligerância, quer esta assuma a forma do confronto directo ou se manifeste nas formas mais discretas e sofisticadas da chamada «guerra fria».

A reflexão e a intervenção política, bem como as preocupações da comunicação social, atendem sobretudo a esta última dicotomia paz-guerra.

De resto, não será estranho que tal suceda, porquanto tal oposição prende-se a um fenómeno que, cora maior ou menor evidência, tem caracterizado a sociedade humana ao longo da sua história.

Refiro-me, naturalmente, à oposição vida-morte, que se encontra em todos os planos da actividade humana, seja ao nível da sua existência física, seja no plano intelectual ou na organização social.

Abordar a temática da paz-guerra significa interrogar-mo-nos sobre o fenómeno que se encontra na sua origem e lhe permite, infelizmente, ganhar a sua razão de ser — a violência.

Se olharmos com atenção à nossa volta, verificamos que a violência assume diversas formas e graus.

Creio que poderemos encontrar três formas peias quais a violência se nos apresenta.

A primeira é a violência recreativa. Encontramos esta forma de violência nas actividades ém que é exercida com o objectivo de exibir a perícia. Trata-se de uma violência que não é motivada pelo ódio ou pela intenção de destruir em si mesma. Encontra-se, por exemplo, em diversos jogos de actividades desportivas.

Mas uma segunda forma de violência, talvez bera mais significativa, porque mais clara, é aquela a que podemos chamar de violência reactiva.

Trata-se da violência que se emprega na defesa ou afirmação de valores ou convicções, quer eles sejam a liberdade, a propriedade, a ideologia ou quaisquer outros.

Ê um tipo de violência que, no fundo, tem as suas raízes no medo, o medo de que as nossas ideias não triunfem ou de que sejam banidas como concepções dominantes.

Mas é ainda uma violência ao serviço da vida, e não da morte, isto é, o seu objectivo é ainda preservar e não destruir.

Por último, encontraremos aquilo a que eu chamaria a violência compensatória. Trata-se de uma forma de violência que, na sua razão de ser, já não procura construir a vida, mas sim acabar com ela.

A violência surge, assim, como um fenómeno de compensação, substituindo a incapacidade pela actividade ciadora e produtiva do homem.

Ê este o sentido da guerra, entendida quer no confronto bélico directo, quer nas situações em que o homem individual se torna homicida ou delinquente. E, se procurámos atrás detectar as várias formas de violência, foi com a intenção de chamar a atenção para o facto de a violência ser hoje uma constante de qualquer sociedade, quer ela seja uma democracia, autoritária liberal ou popular.

De tal forma o fenómeno da violência hoje se encontra generalizado que ela já não surpreende — está banalizado!

Esta banalização não deixa de ter efeitos. E o mais importante de entre eles, a meu ver, é tornar quase impossível a divulgação da violência, pois esta divulgação não passará de mais uma crónica de jornal ou de mais uma notícia radiofónica.

Por outro lado, a banalização da violência faz com que ninguém se sinta responsável pela violência que cria. São os outros, nunca nós, que criam a violência.

Sendo assim os temas propostos —a paz e a guerra — não são apenas os acordos hipócritas SALT 2, o congelamento dos armamentos estratégicos, uma qualquer conferência de segurança europeia ou um diálogo Norte-Sul de protocolo.

Que fazer então para promover uma paz que pretendemos autêntica, com raízes?

Antes de mais, e seguramente, a paz é uma tarefa colectiva e individual, sem adiamentos, de todos os fazedores da paz.

E para fazer a paz é preciso sobretudo agir. Agir em três linhas de forças.

Em primeiro lugar, trata-se de agir no plano das condições sociais, criando uma sociedade mais abundante de recursos, promovendo uma repartição equilibrada da riqueza, para que cada um possa ter a liberdade de criar e de construir, a fim de ser ele próprio, admirando e aventurando-se na vida.

Num segundo nível de acção, trata-se de agir oure plano educativo em que cada jovem possa ser educado para uma nova sensibilidade e para uma atenção particular que lhe permitam localizar os fenómenos de violência, quer ela se manifeste de forma expressa, de forma discreta ou de forma sub-reptícia.

Ê preciso, ainda neste plano educativo, dar o exemplo, dar exemplos de paz, de que eu, tu e cada um de nós acreditamos na paz, de que estamos a promovê-la e queremos que outros participem desta tarefa.

Por fim, julgo que é necessário agir ao plano das instituições políticas, exigindo de cada deputado, de