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II SÉRIE — NÚMERO 94

a aproximação diversa que queremos fazer para igualmente se chegar a uma situação de não conflito e de não violência.

Achamos, mais uma vez, que é através do diálogo que isso se consegue, de um diálogo que se ofereça como positivo. Achamos que o diálogo positivo é um passo em frente, e um passo em frente é desarmar. E para desarmar não se pode esperar que aquele que está em frente desarme.

Ê evidente que aqui estamos mais uma vez a jogar com o paradoxo: nós temos medo; se desarmamos e os outros não desarmam, vai ser o caos, porque eles vêm por aí adentro, e já sabemos o que aconteceu noutros sítios! Só que, do nosso ponto de vista, esta é uma atitude eivada de falsidade, porque, se temos consciência do nosso sistema político e social, se temos a certeza de que assumirmos o nosso espaço de liberdade é uma atitude clara, é evidente que não podemos ter medo.

Mais uma vez é um falso paradoxo a questão que o Jorge levantou de «antes vermelhos que mortos». E um falso paradoxo. «Nem vermelhos nem mortos», diria eu; só que também é um falso paradoxo porque nós queremos ser vivos no nosso espaço, queremos ser vivos podendo dispor da nossa liberdade, e poder dispor da nossa Uberdade é também recusar este paradoxo que à partida está a situar maniqueisticamente o campo da paz e da guerra, numa conceptualização que nos parece falsa.

Em relação às áreas e aos meios mais eficazes para se chegar à paz existem milhentas opções. Podem colocar-se milhentas dúvidas no caminho da paz e no caminho da guerra. Para nós isso é muito claro, pois só há uma resposta, só há uma solução. O desarmamento e a liberdade não são para nós separáveis. Para nós desarmar é a única atitude de liberdade possível.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Carlos José, da Juventude Comunista Portuguesa.

O Sr. Carlos José (JCP): — Eis-nos chegados ao ponto sobre a paz, aspiração máxima e primeira de todos os jovens, de todo o Mundo. Hoje, milhões de homens e mulheres, novos e velhos, em todo o Mundo, levantam-se e afirmam a sua firmeza inequívoca na defesa desse bem supremo. Vivemos nestes dias uma situação que podemos classificar como a mais grave desde o fim da Segunda Guerra Mundial; tal facto exige de' todos um empenhamento muito grande, mas também uma enorme responsabilidade. Independentemente das considerações políticas que se façam —e nós não nos coibiremos de as fazer— sobre a situação actual, sobre os responsáveis, pensamos que todos temos a obrigação de, sem prejuízo dessas diferenças, procurar pontos de convergência no sentido da luta pela paz.

O ano de 1985 é marcado pelas comemorações do 40." aniversário da derrota do nazi-fascismo e do militarismo japonês. Data de profundo significado histórico e humano: a Humanidade, podemos dizê-lo, viveu nesses anos os seus mais terríveis dias, mas, com coragem, determinação e confiança, conseguiu levar de vencida essa batalha contra a besta suástica. É importante que saibamos daí retirar as devidas conclusões.

Nos dias de hoje bem precisamos delas. Nestes dias em que o monstro estúpido da guerra sem sentido le-

vanta de novo a cabeça, é necessário que reunamos todos as nossas forças, todos as nossas potencialidades para lhe fazermos frente com êxito, ê necessário, é imperioso, que todos os jovens, independentemente do seu posicionamento político, filosófico ou religioso, amantes da liberdade e do progresso, se levantem contra este rugido da besta.

Contudo, os dias que hoje vivemos são qualitativamente diferentes dos de há 40 anos. Os apetrechamentos tecnológicos desde então verificados colocam-nos hoje nas mãos a possibilidade da autodestruição total e completa. Pouco importa que o arsenal acumulado dê para destruir 5, 10 ou 20 vezes o nosso planeta; a nós, chega-nos uma, e só por isso devemos estar preocupados, só por isso devemos lutar.

Para nós, lutar pela paz, hoje, é lutar pela cooperação internacional na base dos princípios da reciprocidade e da não ingerência nos assuntos internos de cada país; lutar pela paz, hoje, é lutar contra o clima de guerra fria, contra a desenfreada e criminosa corrida aos armamentos, enfim, lutar contra os aventureiristas, terroristas e contra a iníqua administração de Reagan. Em todo o Mundo, para além das diferenças de toda a ordem que atravessam o movimento pela paz mundial, uma certeza comum existe: o responsável primeiro e total pelo actual agravamento externo da tensão internacional é a administração a que preside o Governo dos EUA.

O Sr. António Eloy (Amigos da Terra — Associação Portuguesa de Ecologistas): — E não sói

O Orador: — E esta é uma verdade indesmentível. Não existem «novas linguagens», «novos discursos», que a mascarem ou que a disfarcem. A corrida aos armamentos e a chantagem nuclear, a escalada de agressão contra os povos em luta pela sua libertação, pele» progresso social e pela independência nacional, hoje„ têm um nome: «United States of America». Para nós, a situação que hoje vivemos não é algo que resulte de paranóias mais ou menos patológicas do ser humano„ ela não é, em nosso entender, fruto de uma qualquer força irrestível do destino. Como tudo o que existe, o panorama que se nos oferece registar tem causas, causas que se radicam na essência mesma do sistema social que domina os EUA. Reagan não se inibe de o dizer:

Incentivar a corrida aos armamentos é obrigar a URSS a desviar verbas preciosas e, desta forma, impedir o desenvolvimento das realidade» económicas e sociais do socialismo.

Não é por acaso que as reais e sérias propostas de paz têm vindo dos sectores democráticos e progressistas mundiais, com destaque para os países socialistas. A sua enumeração ultrapassaria largamente o tempo permitido para esta intervenção; contudo, como nos merece particular destaque — pelo seu simbolismo, diriam alguns; pela sua grande e real importância, diremos nós —, a URSS foi o primeiro país que, em seds própria, na assembleia de todos os países do Mundc, afirmou, sem quaisquer dúvidas:

Assumimos o compromisso solene, perante a Humanidade inteira, de que jamais seremos os primeiros a desencadear um ataque nuclear, jamais seremos os primeiros a utilizar armas nucleares.