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28 DE MAIO DE 1985

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se salvaguardando a eliminação de expansionismos totalitários e da ameaça que representam em termos de armamento e conquista militar.

O inimigo existe: é a ameaça representada por quem espezinha a liberdade. O pacifismo traz em si o gérmen do desarmamento ideológico dos jovens e da opinião pública em geral. Este desarmamento é o prefácio da submissão.

Quando começa a estar em causa a sobrevivencia de todos, é nossa convicção que só na defesa da liberdade, na vivência democrática e no respeito pelos direitos do homem, com a consolidação das tradições culturais dos povos livres, poderemos aspirar a ser minimamente bem sucedidos na esperança de que «paz em Uberdade» seja o caminho irreversível dos povos do Mundo.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Mário Franco, da Organização Mundial da Juventude.

O Sr. Mário Franco (Organização Mundial da Juventude) : — A Organização Mundial da Juventude irá fazer uma declaração no final dos trabalhos.

O Sr. Presidente: — Nesse caso, tem a palavra o António Eloy, dos Amigos da Terra — Associação Portuguesa de Ecologistas.

O Sr. António Eloy (Amigos da Terra — Associação Portuguesa de Ecologistas): — Desejo começar por juntar a minha palavra à do Paulo Mil-Homens no protesto contra a ausência nesta Conferência de qualquer representação do Governo, tendo sobretudo em conta que muitos dos aspectos aqui discutidos têm a ver com áreas muito concretas da política governamental. Parece-nos que foi um menosprezo total por esta Conferência a ausência de, pelo menos, uma representação mínima por parte do Conselho de Ministros. Igualmente é de lamentar a ausência de outras autoridades constituídas, numa Conferência que, apesar de lacunas è repetições discursivas que já várias vezes lamentámos, teve, quanto mais não seja, o interesse de aqui trazer uma confrontação diversa da que se assiste normalmente noutros hemiciclos e que teve o condão de dar a verificar que há, apesar de tudo, outra forma de discutir e uma maneira diferente de expor algumas ideias.

Sobre o tema referenciado no nosso programa como «Os jovens e o diálogo para a paz», que oferece um quadro bastante amplo para expressão, gostaria de começar, mais uma vez, por referir um aforismo oriental que diz que «o caminho que seguimos não é o caminho para sempre e que o nome que lhe damos não é um nome para sempre». Gostaria que tal não fosse entendido como uma intransigência em relação aos nossos princípios, mas sim, sobretudo, como a nossa capacidade de integrarmos outras ideias, outros discursos, na nossa maneira de estarmos aqui presentes; e quando digo «estarmos aqui presentes», refiro-me sobretudo à nossa maneira de reflectir e de agir.

A questão da paz é, de facto, bastante complexa; assenta no paradoxo entre a esperança e o medo. Ê em relação a esse paradoxo que temos de situar a

nossa resposta. Temos esperança na liberdade, temos esperança no mundo onde os conflitos não sejam dirimidos através da violência. E temos medo, porque pensamos que isso pode ser atingido através de uma imposição, de uma bota que nos venha calcar e uniformizar para todo o sempre, ad eternum, para 1000 anos.

Ê evidente que é em relação a este paradoxo que nós, ecologistas e pacifistas, tomamos uma posição clara. Tomamos uma posição clara pela esperança, apesar do medo.

O Jorge Ferreira toma uma posição diversa, que é a posição do seu campo político: toma a posição do medo, que é, aliás, a posição do campo político oposto. Ê face ao medo que nos inspira o adversário que a nossa esperança é mais diminuta. Temos medo, logo a nossa esperança encontra menos mecanismos de expressão. Ê curioso que o Jorge Ferreira utilize a mesma expressão «desarmamentista» que utiliza o bloco oposto. Neste caso, serão o bloco das sociedades ocidentais, que se encontram expressas num determinado tipo de organização social, e o das sociedades orientais, que têm igualmente o seu tipo específico de organização social: ambos defendem o desarmamento simultâneo bilateral, controlado, etc. Ambos o defendem nas intenções, mas, na prática, verificamos que de boas intenções está o mundo cheio e que continua a haver uma escalada progressiva pela conquista de áreas geo-estratégicas de poder e que os conflitos, em lugar de se suavizarem, em alternativa à sua acalmia e à sua aferição por métodos que seriam mais pacíficos, vão-se avolumando e vão-se agudizando as contradições entre os diferentes sistemas políticos.

Verificamos, por exemplo, que as despesas militares aumentam de ano para ano na mesma proporção em que aumentam os milhares de mortos e os milhares de carências em que este mundo vai vivendo. É este ponto que, muito concretamente, quero focar.

Como já referi ontem, é em relação às despesas militares que aqui entendemos situar um dos pontos da nossa aproximação. Obviamente que esta nossa aproximação tem a ver com os passos concretos no caminho da paz. Para nós, estes passos passam e estou de acordo com o Paulo Mil-Homens pela paz da nossa casa, pela paz connosco mesmos, a qual se traduz numa atitude não violenta que passa, nomeadamente, pela objecção à participação em instituições repressivas, tal como a instituição militar; passa igualmente, e do nosso ponto de vista, pela objecção de consciência a outro tipo de imposições.

Neste momento achamos que começa a ser altura de dar um passo diferente, através de uma campanha activa e concreta, pela diminuição das despesas militares. E esta diminuição pode e deve ser entendida como uma racionalização destas despesas. Achamos existirem sectores do aparelho militar que estão sob redimensionados, existem despesas que devem ser muito melhor auferidas se feitas noutros sectores diversos.

A nossa campanha aqui em Portugal situa-se muito concretamente em relação aos dois únicos tópicos que nos parecem passíveis do enquadramento numa perspectiva de diálogo para a paz. Ê evidente que depois, passando para uma discussão que teria mais a ver com geoestratégia e com um enquadramento mais amplo, existem outras condições, que têm a ver com política de blocos e que, sobretudo, têm a ver com