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28 DE MAIO DE 1985

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Afirmarão alguns que isto é demagogia. Nós dizemos: se os governos de todos os países do Mundo fizerem a mesma afirmação solene, então as armas serão desnecessárias e o caminho será, inevitavelmente, o desarmamento total.

Mas isso não acontece, e não acontece por acaso. Não acontece porque há homens, há interesses que não estão nisso interessados. A indústria de armamento é hoje uma das mais prósperas: à custa delas, governos há que, por exemplo o da Alemanha de Hitler, resolvem os seus problemas de desemprego e de crescimento económico.

Sobre esta questão da paz é frequente ouvirmos alguém dizer: eu sou independente, logo sou contra todas as superpotências, porque todas são responsáveis, já que todas têm armas.

O Sr. António Eloy (Amigos da Terra — Associação de Ecologistas): — Ê verdade!

O Orador: — A esses amigos nós dizemos: ser independente, hoje, é lutar, lutar corajosa e abnegadamente pela paz e pelo desanuviamento, e para lutarmos é necessário analisar correctamente as situações reais, definir os responsáveis e depois as acções para contrariar as suas intenções. Uma análise séria ao concreto não pode ignorar ou mascarar verdades insofismáveis atrás formuladas.

Nós, comunistas, temos em alta consideração a preservação dos valores da paz e da amizade entre os povos. Para nós, a paz e a solidariedade são coisas indissociáveis. Daí que não podemos deixar de afirmar claramente, nesta Conferência sobre a juventude, que debate as questões da paz, a nossa firme e inabalável solidariedade com todos os povos em luta contra regimes opressivos e que enfrentam com coragem as ameaças e as chantagens da administração Reagan, que agora ocupa a Casa Branca.

Não podemos deixar de referir particularmente a nossa activa solidariedade com a Nicarágua sandinista e revolucionária — aproveitando para acusar de totalmente criminoso e inaceitável o bloqueio económico decretado pelos Estados Unidos da América a este país soberano e independente— e também a solidariedade com Nelson Mandela, com todos os presos que se encontram nos cárceres do apparteid e com a luta do povo negro da Africa do Sul, assim como com o povo da Namíbia, em luta contra o regime mais iníquo que existe neste momento à face deste planeta e que é apoiado em todos os planos pelos Estados Unidos da América.

Nós, comunistas portugueses, sabemos bem o valor da solidariedade, sentimo-lo em centenas de ocasiões durante a dura luta contra o fascismo. Diz-se que são ideias velhas, linguagens e discursos ultrapassados. Diremos que se enganam rotundamente os que assim pensam; não há novos discursos ou linguagens que possam trasvestir os nossos profundos sentimentos internacionalistas.

Adivinho, nos sorrisos maliciosos que observo nesta sala, a ideia seguinte: «lá estão estes a repetir a casseite de Moscovo».

O Sr. António Eloy (Amigos da Terra — Associação Portuguesa de Ecologistas): — £ verdade!

O Orador: — «O que eles querem é que, em vez dos Estados Unidos, seja a URSS a mandar e a ditar os destinos do nosso país». A esses dizemos: se há aqui alguém que não tem a receber dos presentes nenhuma lição de defesa da independência nacional, esse alguém somos certamente nós. Nenhuma organização se encontra tão próximo das realidades deste país, do sentir das gentes que fazem o seu povo, da sua cultura, como nós.

O que se passa é que quem normalmente o diz atira pedras, mas tem telhados de vidro.

O Grupo Parlamentar do PCP vai ver discutido na próxima semana, aqui, na Assembleia da República, o seu projecto de lei que proíbe a instalação, trânsito e armazenamento de armas nucleares no nosso país, ao invés do que fazem os partidos no Governo. Daqui pergunto: que fizeram as organizações aqui presentes, em particular as juventudes dos partidos do Governo, para impedir o acordo insultuoso assinado recentemente acerca da utilização da Base das Lajes pelas forças dos Estados Unidos? Que posições e acções desencadearam contra a possibilidade de utilização da base de Beja pelas forças de intervenção rápida? Que fizeram essas organizações no sentido de exigir do Governo uma garantia clara e inequívoca de que não serão instaladas armas nucleares em Portugal ou de que não estarão já armazenadas tais armas em território nacional? Que acções apoiaram contra as autorizações para o trânsito de submarinos armados com mísseis nucleares no rio Tejo? Que fazem sobre a construção da estação de rastreio em Almodôvar, peça importante nos planos da chamada «guerra das estrelas»? Antes de se fazerem acusações gratuitas, pense-se e reflicta-se sobre as opiniões próprias. Não se diga que tudo isto é resultado natural dâ presença do nosso país na NATO; todos sabemos que há países pertencentes à NATO com posicionamentos e políticas bem diferentes, bem longe da actuação de dependência, de ajoelhar servil aos interesses americanos por parte do Governo Português.

O triste espectáculo dado aquando da recente visita a Portugal dô Presidente Reagan é exemplo bem evidente do que vimos dizendo. A propósito, queremos interrogar os presentes sobre se a liberdade que aos quatro ventos se apregoa é a liberdade que permite que, num país soberano e independente, jovens sejam detidos pela polícia, no exercício de direitos constitucionais claramente expressos, por estarem a propagandear as acções de protesto efectuadas aquando da dita visita.

Não é com operações de maquilhagem linguística ou discursiva que se resolvem os problemas.

Para terminar, só mais uma nota: não existem fatalidades do destino e com confiança, afirmamos: a paz é possível. O XII Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, a realizar em Moscovo no próximo Verão, e que está a ser intensa e entusiasticamente preparado pela juventude em todo o Mundo, enquanto fórum maior, mais importante e significativo jamais realizado, será, por certo, a prova disso.

Desejávamos terminar com uma mensagem de esperança e confiança. Do fundo dos cárceres de Hitler, de dentro dos mais obscuros recantos da opressão, chegaram-nos umas linhas que gostaríamos de ler aqui. São as palavras de um prisioneiro de Hitler que em 1942 foi executado poucas horas depois de as ter escrito.