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II SÉRIE — NÚMERO 94

tunistas de determinados grupos de interesses do que para se debater o problema global e integrado da defesa europeia. Continua-se a deixar a defesa europeia ao cuidado dos Estados Unidos e, em certa medida, teima-se em recusar assumir esta posição: se queremos defender a nossa casa, quem o deve fazer somos nós e não devemos ficar à espera que sejam os outros a terem o trabalho todo. Tudo isso é muito bonito até ao dia em que os outros precisem da nossa casa, pois nessa altura correremos o risco de sermos postos na

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Hoje em dia é praticamente impensável a hipótese de uma guerra europeia. De vez em quando esse fantasma alastra nalgumas situações, fala-se de que um determinado país tem um contencioso contra outro, imas, no meu entender, isso não passa de uma forma emotiva de se tentar bloquear soluções e consensos. Tenta-se agitar certos nacionalismos, certas forças internas que podem perturbar a ordem dos trabalhos.

Mas, atenção, isto não quer dizer que se seja apologista de uma integração europeia plena, no sentido da perda de identidade nacional. E, quanto a isso, a rainha organização tem uma posição extraordinariamente particular: somos a favor de uma integração europeia, somos a favor de uma Europa supranacional, em que a identidade nacional seja mantida — e, no nosso entender, a melhor forma de a manter é através da monarquia.

Em relação à democracia, que é aquilo que, penso, nos distingue, em termos europeus, do resto do Mundo, somos uma das regiões do Mundo onde de há anos para cá mais se fala em democracia. Neste momento a democracia europeia talvez seja uma das mais ricas, mas ao mesmo tempo uma das mais frágeis. Isto porque, ao contrário do que acontece naquele país que é considerado por alguns o baluarte da democracia, nos próprios Estados Unidos, embora a democracia funcione, funciona entre dois grandes blocos que são o grupo republicano e o grupo democrático.

Ora, na Europa isso não aconteceu, salvo nn1g^m«n excepções, como é o caso da Inglaterra, onde também existem dois grandes partidos, verificando-se, contudo, que do ponto de vista europeu os partidos são muito mais fragmentados, em termos de implantação, o que torna mais problemáticos os problemas governativos, mas muito mais ricas as discussões, porque há muito mais vozes e muito mais opiniões a serem transmitidas.

Em virtude dessas capacidades, dessa fragilidade própria da democracia, que permite a intervenção individual — e o fim da democracia deve ser a democracia plena, deve ser a possibilidade de todos os indivíduos participarem nas decisões—, a Europa está, em meu entender, mais próxima disso do que as outras regiões do Mundo, o que tem como grave desvantagem a fragilidade que causa ao sistema, porque permite às próprias pessoas que querem subverter o sistema utilizarem-no para esse fim.

A solução residirá talvez num consenso. A Europa precisa de ser defendida e uma posição fraca nunca conduz a resultados pautáveis. De um modo geral, sempre que uma organização vai para a mesa de negociações com as cartas dadas o priori, ou seja, quando se fazem concessões à partida para se permitir a própria realização de um qualquer encontro, essa organização que faz as concessões, á partida, vai numa posição de inferioridade.

Ora, em termos de conjunto das nações, em termos de conjunto de poderes —porque não nos podemos esquecer de que o Mundo funciona em termos de poderes—, é preciso partir-se sempre de uma posição de igualdade. Não deverá haver nem superiores, nem inferiores; deverá haver, sim, pessoas, entidades ou organizações em igualdade de circunstâncias.

Tem-se falado muito aqui de paz, mas até agora poucas propostas concretas foram apresentadas.

Partindo do princípio de que a integração europeia é, neste momento, para Portugal, um dado concreto, um dado, em certa medida, irreversível, temos uma proposta a apresentar, isto é, a de que Portugal passe a ser um membro activo na implementação de uma verdadeira comunidade europeia de defesa, que será orientada segundo dois grandes vectores, um dos quais é a existência de um exército europeu integrado, supranacional, constituído por voluntários. Haverá, sim, um comando militar integrado europeu, evitando-se assim um duplicação de estruturas que, no nosso entender, desviam verbas que podiam ser melhor aproveitadas noutros campos, unificado não só em termos de estruturas de comando, mas também em termos de material utilizado, evitando a dispersão por não sei quantos materiais bélicos, que tornam difíceis as situações de guerra. £ preciso ver-se que hoje em dia, mesmo em termos da NATO, a existência dê diferentes parques de armamento faz com que numa situação de guerra, por exemplo, a França não possa fornecer, em peças sobresselentes, a Alemanha ou qualquer outro país, se tal for necessário.

Ê necessário que esta situação termine e que passe a haver compatibilidade de equipamento para evitar despesas supérfluas.

Outro vector extraordinariamente importante será o vector de defesa civil nacional, que passará por um serviço cívico, em que terão lugar, em nosso entender, todos os objectores de consciência e todas as pessoas que tiverem problemas em pegar em armas. O exército deverá ser voluntário, o serviço cívico, o serviço e os -cursos de defesa civil deverão ser obrigatórios. Tal passa-se nalguns países, nomeadamente na Suécia e na Suíça.

Em relação ao papel dos jovens, que até agora foi relativamente pouco focado, direi que os jovens são, por natureza e de certa maneira, por definição — isto é um pouco estereotípico, mas talvez não esteja completamente errado—, idealistas. São pessoas que, de uma maneira geral, estão dispostas a vencer fronteiras, a lutar contra um status quo instituído. São pessoas que têm à frente uma vida e que têm melhor oportunidade de criar organizações novas e de criar estruturas movas que lhes permitam um melhor desenvolvimento das suas capacidades.

Propomos, portanto, aos jovens que se interessem sobre estes pontos e que, em vez de tomarem atitudes puramente emotivas, pensem activamente no que devem fazer e que participem activamente.

Em relação a isto, e só para terminar, gostava — já que o tema é a paz — de ler umas breves linhas que Demóstenes escreveu nas Filípicas — uma série áe cartas ao povo ateniense durante a ascensão ao poder de Filipe da Macedónia, o pai de Alexandre Magno:

£ preciso ser-se insensato para se considerar como um estado de paz uma situação que penei-