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II SÉRIE — NÚMERO 94

Esperamos que, depois, com a divulgação doe resultados desta iniciativa, não só as outras crianças e os professores da escola do Luxemburgo tenham a oportunidade de tomar conhecimento destes resultados, mas que também em Portugal eles possam ser divulgados pelos meios de comunicação social.

Esta é uma das maneiras concretas como nós pensamos ou queremos trabalhar o tema da paz. £ através do diálogo, através do conhecimento das pessoas.

Vocês, com certeza, conhecem bem um programa — que já é muito antigo cá em Portugal, já tem cerca de 30 anos — em que jovens do ensino secundário vão, durante um ano, estudar num país estrangeiro, seja na Jugoslávia, seja no Chile, seja nos Estados Unidos da América. Durante um ano eles vivem com uma família desse país, frequentam uma escola e participam na vida comunitária.

Através destes programas, que são acompanhados de uma grande fase de preparação antes da partida e depois da chegada, para que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer profundamente as alterações que se deram neles, através destes programas, disse, tentamos colocar pessoas em situações muito diferentes, em situações em que vai haver conflito, porque as culturas têm de, forçosamente, funcionar de maneira diferente, e é através desses conflitos, mas dentro da família, que eles têm possibilidade de os resolver de um modo não violento. Esta é também uma maneira que temos de contribuir para a paz, o que fazemos de modo muito concreto.

For último, quero citar-vos um testemunho pessoal: também participei num desses programas, também vivi um ano num país estrangeiro, e, no fim dessa estada, jovens de 32 países, que comigo participavam nesse programa, viajavam em conjunto, e um dia, apesar de estar frio na altura, fomos a uma praia, firamos 33, de 33 países diferentes, em que havia desde israelitas e palestinianos a chilenos e argentinos — que ne altura tinham um problema de conflito de fronteiras bastante acentuado—, de neo-zelandeses a australianos, povos com ligações pouco simpáticas, às vezes. Havia, assim, representantes de países que se davam melhor e outros que se davam menos bem. Mas, na altura, lembro-me que me dirigi à praia e, olhando para a água, vi 32 pessoas da minha idade que, embora vindos de culturas diferentes, algumas mesmo em conflito, estavam, naquele momento, a brincar dentro de água como se fossem todos da mesma família.

Aquilo influenciou-me — na altura tinha 18 anos —, é uma imagem que não vou nunca esquecer, pois sei, desde então, que afinal as diferenças podem ser ultrapassadas quando as pessoas se conhecem melhor e quando elas dialogam entre si.

£ assim que contribuímos para a paz. Não vos posso falar de como se constrói a paz a nível mundial porque não é para isso que está vocacionada a minha organização. Nós estamos vocacionados para dar um contributo concreto e definido em várias áreas, mas é algo em que participamos individualmente, em que começamos por obter paz dentro de nós próprios primeiro, e depois, em diálogo com os outros, tentamos fabricá-la também a nível intercultural.

Era, pois, esta a comunicação que queria fazer, já que não posso falar do desarmamento ou de coisas maiores, pois não nos dedicamos a isso na nossa orga-

nização. Mas ia acabar com uma citação — e tem de haver uma citação sobre a paz, é mesmo forçoso que tenha de haver uma, pois há muitos anos que as pessoas falam sobre isto — que encontrei hoje, de manhã, quando lia a Bíblia. Antes, porém, devo dizer-lhes que a minha organização não tem qualquer tipo de filiações político-partidárias ou religiosas. No entanto, trata-se de um testemunho pessoal que quero dar de uma parte que encontrei na Biblia e que diz assim:

Aqueles que trabalham pela paz vão lançando a semente que lhes dará uma colheita de justiça e de paz.

Falarmos menos dela, talvez, e começarmos nós próprios a praticá-la mais, de um modo ou de outro, acho que seria um bom princípio.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Depois de o Alfredo Abreu nos ter feito passar um calafrio pela espinha, pensando na sugestão de tomar banho em Dezembro nas praias do Tejo, passo a palavra à Margarida Marques.

A Sr.0 Margarida Marques [Comissão de Juventude da Assembleia da República. (PS)]: — A minha intervenção é um pouco suscitada por uma afirmação que ouvi há pouco e que vou transcrever, ou melhor, vou repetir:

A corrida aos armamentos dos EBtados Unido3 da América leva a União Soviética a transferir verbas que deveriam ser canalizadas para a assistência social.

De facto, como não aceito tão facilmente este espírito de sacrifício que nos foi aqui apresentado por parte da União Soviética, gostava de vos ler algumas referências de uma declaração sobre a paz que subscrevi há uns tempos atrás, que continuam a ser actuais e que respondem, de alguma maneira —embora não sejam só uma resposta —, a esta questão.

Em primeiro lugar, a afirmação de que a paz é uma condição essencial da transformação social e um elemento necessariamente presente numa sociedade socialista, democrática e autogestionária. A paz permite e é fruto da participação contra a passividade e a submissão. A paz é a força de uma sociedade libertada das suas dominações ancestrais. A paz é uma exigência da nova ordem internacional, mais justa e mais solidária nos planos económico e político.

A guerra é a expressão das injustiças e da exploração, ao nível internacional, exercendo-se contra os mais débeis e em benefício dos interessados das grandes potências.

A corrida aos armamentos a que continuamos a assistir é eticamente condenável e imoral, já que desperdiça recursos humanos, matérias-primas, solo, potencial industrial e conhecimentos científicos que, objectivamente, são roubados aos povos subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.

O milhão de dólares gasto por minuto em armamento em todo o mundo —dados das Nações Unidas — é um insulto aos povos carenciados alimentar-mente, bem como em condições sanitárias, sociais e culturais.