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28 DE MAIO DE 1985

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crescentemente a ser feitas despesas militares, que são improdutivas e que não vão para áreas sociais onde poderiam resolver ou minorar grande parte dos problemas mundiais.

O Sr. Carlos Miguel Coelho [Comissão da Juventude da Assembleia da República (PSD)]: — Muito bem!

O Orador: — Temos, como aqui disse, propostas concretas, que felizmente foram subscritas por algumas organizações de juventude, mas que infelizmente não o foram por outras. Devo dizer que uma das propostas concretas que referi está adequada ao que nos parece que deve ser a regulamentação do serviço cívico alternativo ao serviço militar, ou seja, nós defendemos que os objectores de consciência devem fazer um serviço social preferencialmente na área da educação para a paz. Nomeadamente, creio que a proposta que o Paulo Mil-Homens fez da criação de um instituto que tenha a ver com a defesa civil não violenta seria um passo extremamente positivo para adequar, neste momento, aquilo que é o conceito genérico global de defesa nacional a um conceito mais eficaz e que tivesse a ver com a nossa realidade, que respondesse às dúvidas das pessoas que, por razões éticas, morais, políticas ou económicas, recusam cumprir o serviço militar obrigatório.

Parece-nos que o actual diploma relativo à objecção de consciência —e devo registar com grande agrado a posição da JSD em relação a ele— é um diploma que tem lacunas, e apraz-me que, nomeadamente o Luís Monteiro e também o Carlos Miguel Coelho, tenham registado o que nos parece serem as principais lacunas desse documento.

Creio que se trata de dois passos concretos que nós damos no sentido de paz; penso que a paz não se consegue com declarações abstractas, mas com cometimento individual em relação ao mundo em que estamos e à sociedade em que vivemos. Devo, aliás, dizer que não considero que haja por parte de certas pessoas, que vestindo a capa da pomba, têm, no fundo, um coração de abutre ...

Risos.

... nenhuma autoridade para falar da paz, nem sequer para invocar o movimento pacifista que constantemente falseiam e desvirtuam. Aliás, podia aqui lembrar que há 2 anos, num festival em Tróia, que se dizia ser pela paz, fui agredido, e eu e os elementos dos Amigos da Terra fomos expulsos quando nos atrevemos a falar da paz, da objecção de consciência e da não violência.

O Sr. Carlos Miguel Coelho [Comissão de Juventude da Assembleia da República (PSD)]: — Muito bem!

O Orador: — Podia igualmente referir outros pontos polémicos em outras reuniões supostas pela paz, onde participei e onde fui acolhido com grandes silêncios, senão vaias ou mesmo ostracismo. Estamos disponíveis para falar de paz com toda a gente, estamos disponíveis par falar de tudo com toda a gente, achamos é que sob o peso das palavras não se deve esconder hipocrisia e, ao fim ao cabo, coisas que nelas não <&ãíò escritas.

Finalmente, queria dizer que esta Conferência, apesar de tudo, permitiu alguns contactos agradáveis e, além daqueles dois factos já referidos que me sensibilizaram, podia dizer que me sensibilizou igualmente o facto de estar com todos vós e aqui discutir alguns pontos e trazer-vos algumas das nossas reflexões.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Fernando Paes Afonso.

O Sr. Fernando Paes Afonso (Juventude Centrista) : — Era primeiro lugar, queria manifestar o meu regozijo mas não sei se percebi bem por um dos nossos colegas da Juventude Comunista Portuguesa ter afirmado que a JCP está solidária com todos os povos em luta. É que é a primeira vez que ouço a JCP criticar abertamente a União Soviética, é a primeira vez que vejo a JCP estar solidária com o povo do Afeganistão, com o povo polaco ...

Aplausos.

Devo, pois, dar-vos os parabéns por estarem realmente a melhorar na luta pela paz.

Queria agora fazer alguns comentários àquilo que ouvi no que diz respeito a este importante tema. Trata-se de um tema importante porque por ser uma constante da juventude e isso é de salientar — a juventude é pela paz, a juventude é em si a paz. Aliás, todos nós queremos a paz, ardorosa e ardentemente, simplesmente a paz não é fácil. Assim, aquilo que nos diferencia muitas vezes é a metodologia para atingir a paz, isto é, o modo como se chega lá, é isso que está em questão.

Não está em causa defender ou ser contra a paz, isso nem sequer está em causa, o que discutimos aqui é como se chega lá, e aí não posso deixar de subscrever aquilo que aqui ouvi, nomeadamente ao Carlos Miguel Coelho, no que diz respeito ao desarmamento simultâneo. Isso é que está em questão.

Os Soviéticos e o globo de Leste, habilmente, adoptaram para si aquela máxima chinesa que diz que o melhor guerreiro é aquele que vence a batalha sem disparar um tiro. Essa é a vontade do bloco de Leste, ou seja, o desarme ideológico do Ocidente da forma o mais fácil possível, no sentido de depois vencerem a guerra sem dispararem um tiro. Ê de facto isso que aqui está em causa, essa é a verdadeira discussão, pois todos somos pela paz da mesma forma e com o mesmo ardor, mas não podemos ter ilusão nenhuma que ser pela paz é ser, por exemplo, pelo desarmamento bilateral e simultâneo.

Por outro lado, há coisas que aqui ouvi que não posso subscrever. Essa luta pela paz tem obviamente manifestações concretas aqui no País e nas posições das diversas organizações políticas ou não políticas de juventude. E quero aqui abrir um perên teses para dizer que me pareceu haver uma confusão entre alguns protagonistas dos partidos políticos e a instituição Assembleia da República em si. Houve aqui uma confusão que começa a ser perigosa, sobretudo nesta conversa sobre a paz; a paz faz-se em democracia, não conheço paz sem ser em democracia e isso pode-se ver muito bem no Animal's Farm (Triunfo dos Porcos), de George Orwell, que de alguma maneira ilustra isto que agora disse.