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28 DE MAIO DE 1985

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tira a Filipe, quando tiver tomado tudo o resto, vir-nos atacar a nós. Isto é para ele, sem dúvida, a paz, mas nunca para nós.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Alfredo Abreu, da INTERCULTURA.

O Sr. Alfredo Abreu (INTERCULTURA): — Antes de abordar o tema «paz» do ponto de vista da minha organização, e uma vez que a paz é um dos objectivos por que nós existimos, quero, mais uma vez — já que é a terceira vez que falo convosco —, chamar a atenção para o facto de me sentir inconfortável com o método de trabalho que foi adoptado para esta Conferencia. Não posso deixar de dizê-lo porque o sinto na pele e sinto que não produzi praticamente nada durante estes 3 dias, porque a maneira como as coisas foram organizadas não o permitiu.

Nas nossas organizações temos objectivos bem delimitados, e, portanto, é-nos difícil falar da paz, do desenvolvimento ou da educação em termos gerais, abordando todos os pontos, porque, quando muito, o que nós temos é um ponto de vista pessoal, e não de organização sobre esses assuntos.

Faço também parte da geração do 25 de Abril, sou um daqueles jovens que, quando ele aconteceu, passaram muitas horas nas associações de estudantes dos liceus a falar, muitas vezes sem o objectivo concreto, mas a falar porque tínhamos a oportunidade de o fazer. Só que, passados 11 anos, já não estamos — e falo por aqueles que quiserem aceitar isto — com a disponibilidade, ou com a vontade sequer, de falarmos das coisas só por falar, de darmos os nossos pontos de vista baseados naquilo que ouvimos e que sabemos.

Tenho notado, particularmente em relação aos jovens da minha organização, que eles estão interessados em fazer alguma coisa de concreto. Quando lhes dizemos que um dos objectivos da INTERCULTURA é lutar pela paz e pela compreensão entre os homens, eles põem-se numa posição de cepticismo e riem-se. Acham que «muito bem, está bem, isso é bom para o papel, mas nós não podemos fazer nada».

Já quando lhes propomos um programa concreto em que a paz acabe por sair minimamente focada e tocada pelas pessoas, então sim, eles vêm participar. Ê uma questão de disponibilidade. E as pessoas agora têm disponibilidade para fazer alguma coisa de concreto, de útil, e é muito difícil para mim, já neste ambiente e com esta prática diária com as pessoas da minha organização, ficar aqui três dias a falar de temas de uma maneira muito geral. É claro que há aqui pessoas — e mais uma vez vou-me referir às organizações político-partidarias que aqui estão— que têm como função chegarem a conclusões, chegarem a delimitar as suas ideias sobre a sua posição em relação a estes assuntos que aqui temos focado. Mas, repito, uma vez que para as organizações não partidárias isso não constitui o seu dia-a-dia, a nossa participação aqui não foi nada facilitada.

Teria sido talvez mais fácil se pudéssemos falar uns com os outros, não de assuntos gerais, mas dar a nossa opinião mais em estilo de conversa, facilitando mais o diálogo. De qualquer das maneiras devo dizer

que achei de qualquer modo útil vir aqui, não só porque vos conheci, mas também porque acho que foi a primeira vez que isto aconteceu e penso que poderá servir de base ou de partida para outras iniciativas, porventura mais concretas, da nossa parte.

Aplausos.

Pausa.

Desculpem este tempo, mas prefiro citar literalmente a base da comunicação que vos vou fazer. Ê que nos objectivos da minha organização —a INTERCULTURA — enquadra-se o que vou citar: «Ê objectivo da INTERCULTURA — isso consta dos estatutos e é o que tentamos fazer todos os dias — contribuir para a compreensão e paz entre os povos. Consideramos que a compreensão será conseguida pela interacção humana directa e entende-se por paz o estado dinâmico em que os conflitos e a agressividade existentes entre e dentro dos homens e dos povos são resolvidos não violente-mente».

Ora, queria falar-vos de três coisas concretas qws fazemos na nossa organização: uma delas é um programa que está a acontecer, neste momento, em Portugal.

Trouxemos do Luxemburgo uma turma de alunos do ensino preparatório —que, portanto, podem se? considerados ainda como crianças—, constituída metade (10) por filhos de luxemburgueses e outra metade por filhos de cidadãos portugueses que estão a trabalhar no Luxemburgo. A razão por que os trazemos a Portugal é a dificuldade ou a falta de identidade que sentem as crianças portuguesas que lá vivem, peio facto de não conhecerem bem a sua cultura e também por estarem num meio que lhes é estranho e às vezes até adverso; calculamos que vindo a Portugal e conhecendo os seus laços culturais, elas possam sentir-se mais seguras de si e dar uma contribuição melhor para a comunidade em que estão inseridas neste momento.

Em relação às crianças luxemburguesas —que reflectem o ponto de vista dos pais, que é o de sobre os emigrantes terem a ideia do muito pobre, já que eles são geralmente uma faixa social muito estrita das comunidades que os enviam—, queremos que essas crianças tenham a oportunidade de conhecer o nosso país, de saberem que os colegas também têm uma cultura, têm carros, televisões e escolas. Ê muito importante que as crianças saibam isso.

Estas crianças estão agora em Coimbra durante 15 dias. Estão a viver, cada uma delas, com uma fasoí-lia portuguesa e estão a frequentar a escola preparatória todos os dias, fazendo visitas a Contmôriga, as Portugal dos Pequeninos e às fábricas de cerveja.

Risos.

Estão a conhecer a sociedade portuguesa no seu todo, estão a conhecer aquilo que existe no nosso país.

Durante este tempo serão as crianças portuguesas filhas de emigrantes que terão o papel de liderar, de guiar ou de proteger e servir de intérpretes às crianças luxemburguesas. Há, portanto, uma iaversãos uma troca de papéis entre aqueles que geralmente mandam, que têm o poder e que tomam conta das ioiciaíivas e„ neste momento, as coisas vão acontecer de maneira diferente.