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28 DE MAIO DE 1985

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cada homem público, que ajam no exercício das suas funções como construtores de relações que favoreçam a integração, e não a conflituosidade, provocando junto das instituições governamentais (a Assembleia da República e o Governo) e internacionais (ONU ou o Conselho da Europa) uma pressão continuada no sentido de que o Estado Português adopte uma política, ao nível dos negócios estrangeiros, que o identifique como um país amante da paz entre as nações.

Por último, é também preciso agir tendo em conta um empenhamento das organizações não partidárias nas novas problemáticas do desarmamento, da cooperação entre os povos, da política de defesa nacional e do controle das despesas militares através da discussão interna e de uma tomada de posição pública corajosa e frontal.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Conferencista Luís Monteiro.

O Sr. Luís Monteiro [Comissão de Juventude da AR (PSD)]: — Inicialmente eu tinha intenção de me cingir estritamente àquilo que nos era sugerido em termos do debate, ou seja, a «os jovens e o diálogo para a paz» e à questão do serviço cívico e militar. No entanto, as intervenções já aqui produzidas também servem um pouco para reflectir e para que nós nos possamos enquadrar uns em relação aos outros e dizermos aquilo que de nossa justiça pensamos em relação a cada uma das matérias já abordadas.

Em primeiro lugar, parece-me que, e começando pelo fim, o Calado Lopes fez um belo esforço de síntese no sentido de equacionar algumas questões e perspectivas em termos daquilo que pode ser consideiado a violência, a luta dos homens em prol da paz e, por último, o esforço de cada um de nós no sentido de conseguirmos uma sociedade mais justa ou, pelo menos, uma sociedade mais em paz consigo própria. E parece--me que isso é sempre positivo, vindo, especialmente como vem, de uma organização que não tem como sua tarefa prioritária a necessidade de influir na tomada das decisões políticas a nível do aparelho do Estado.

A segunda intervenção já me coloca alguns problemas, o que já me aconteceu ontem. O Carlos José, mais uma vez, abusou aqui de alguns códigos referenciados, do que nunca estaria à espera da parte dele. Fiquei muito satisfeito em saber que o Carlos José ultimamente anda defensor de algumas teorias bíblicas da «derrota da besta». Ficamos sempre satisfeitos em saber que os dogmas católicos ou pergaminhos cristãos também chegam a uma organização comunista.

De qualquer das formas, há dois ou três referenciais que não poderia deixar ficar em claro, até porque com eles estamos a iludirmo-nos a nós próprios, em termos das intervenções.

Primeiro, e remontando um bocado atrás, depois de ouvir a intervenção do Carlos José, sinceramente, fiquei com a ideia de que só havia dois inimigos à paz entre os homens e dê que estes sempre tinham sido iguais, fraternos, livres, e de que nunca tinha havido guerras no Mundo. Presumo que depois da intervenção do Carlos Xavier terei que mudar a minha opinião e considerar que os dois únicos males à paz na terra — que até hoje, nesta longa existência da humanidade, existiram — foram, respectivamente, a besta hitleriana

e a administração Reagan. De qualquer das formas, acho que há duas ou três coisas a referenciar em termos prévios à própria intervenção.

Em primeiro lugar, acho que a história, como um conjunto de postulados, pode ou não ser negada, sd termos de analise, mas isso é altamente subversivo, em termos de factos. E, em termos de factos, meus caros amigos, há algumas coisas que têm que ser equacionadas.

Em primeiro lugar, há dias, quando se colocou a questão na Assembleia da República da derrota sobre a besta hitleriana, foi abordada a problemática da participação de cada um nessa mesma derrota. É óbvio que, pessoalmente, não participei nela, pois, felizmente, ainda não tinha nascido, mas alguns jovens portugueses certamente terão participado no seu tempo, como jovens. No entanto, os jovens Bento Gonçalves e Álvaro Cunhal, na altura do estabelecimento do pacto Hitler-Estaline, não tomaram essa mesma posição; assumiram a posição da luta contra a democracia burguesa, da sobrevivência necessária do nacionalismo soviético contra o expansionismo capitalista e imperialista, logicamente, assumindo, de todo, a necessidade de fazer em Portugal a defesa do pacto germano-soviético, por um lado, e do reequacionamento das forças político--sociais da democracia na luta contra o capitalismo, inclusive em Portugal, quando então tínhamos entre nós o célebre governo ditador fascista, nazista, etc, de António de Oliveira Salazar. Este é, pois, o primeiro código referencial!

O segundo dizia também respeito a um conjunto de afirmações que aqui foram produzidas sobre a pretensão à paz.

Ê óbvio que considero que todos nós, jovens, temos pretensão à paz. Poderemos considerar que a paz é para cada um de nós uma coisa diferente ou que poderá assumir conotações diferenciadas. Penso, no entanto, que há uma coisa que merece aqui ser dita: a paz para nós é também o estarmos bem com nós próprios, e não estaria bem comigo próprio se não referenciasse, para além de tudo aquilo que aqui foi dito sobre a guerra do Vietname, sobre as sabotagens que são feitas na Nicarágua, aquilo que aconteceu na Hungria em 1956, na Checoslováquia, posteriormente no Afeganistão, no Chile e em muitos outros países.

Penso que a história, podendo ser analisada — e o nosso amigo Carlos José sabe perfeitamente que as análises da história dependem de cada um de nós e dos nossos próprios postulados ideológicos —, tem também uma determinada carga factual, que não pode ser negada nem iludida em relação aos restantes.

Iria então tentar entrar na temática em jogo: a questão, por um lado, do diálogo para a paz e a da nossa participação, enquanto actores de um determinado jogo social, nesse mesmo diálogo, e numa questão mais concreta que se nos oferece, que é a questão do serviço cívico e do serviço militar e da sua interpenetração ou da inter-relação que pode ter na participação na paz.

Foram já aqui feitas algumas afirmações sobre a questão do diálogo para a paz. Salientava, por um lado, a intervenção dô Calado Lopes, que não aludia indirectamente a isso — faz alusão a esse referenciai — e as intervenções do Paulo Mil-Homens e do António Eloy. Parece-me que não há muito mais por onde nos alongarmos, exceptuando considerar que cada um de nós, à sua maneira, por um lado, pretende a paz