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II SERIE — NUMERO 40

já assumidos, pela que nos anos de 1985 e 1986 continuaram as exportações para Damasco no valor de mais de 4 milhões de contos.

O Irão procurava, entretanto, abastecer-se no mercado português, um dos poucos em condições de fabricar, a preços convidativos o material pouco sofisticado para municiar a sua infantaria e artilharia. Durante os anos do embargo agentes do Governo Iraniano pressionavam as autoridade de Lisboa para alterarem a sua política. Um dos intermediários entre Teerão e Lisboa, a Norte Importadora, uma tradicional empresa de importação e exportação de armas, manteve contactos com membros do Executivo da AD, em particular Marcelo Rebelo de Sousa, sobre ambiciosos projectos que os iranianos se propunham efectuar em Portugal.

Para esse efeito esteve em Portugal, em Maio de 1985, uma missão militar iraniana composta por representantes do Ministério da Defesa e dos três ramos das Forças Armadas iranianas, que visitou, na maior discrição e durante 48 dias, todos os sectores industriais e militares portugueses susceptíveis de serem utilizados pelo Irão.

Foi estudada, em especial, a utilização das instalações da SETENAVE e das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico para a manutenção de toda a frota naval e aérea do Irão. De acordo com fontes bem informadas, estes projectos, que se arrastam há anos, estão agora em apreciação pelo Executivo de Cavaco Silva.

Golpes sujos

Depois de o Governo de Soares ter decidido abrir as portas ao Irão, o mercado dos ayatollahs apresentava-se aos olhos dos vencedores de armas como uma excelente fonte de receita. A competição intensa deu lugar a golpes de toda a ordem, dos quais um dos mais famosos no meio do comércio de armas foi o aparecimento em Londres de um lote de armamento português, incluindo G-3; granadas de morteiros e de artilharia, oferecido a preços inferiores aos praticados pelo mercado nacional.

Pouco depois de serem autorizadas as vendas, um tradicional negociante português de armas encomendou a fábricas nacionais uma volumosa entrega de armas e munições. Vendo nessa encomenda uma maneira de se lançarem também no mercado internacional, alguns dos gestores dessas empresas resolveram oferecer ao Irão, através de um intermediário em Londres, esse mesmo armamento a preços consideravelmente inferiores aos praticados habitualmente, curto-circuitando o negociante português que tinha feito originalmente a encomenda. Esta situação acabou por criar problemas que, segundo uma fonte ligada ao meio, «foram de certo modo graves» dentro do próprio regime iraniano, uma vez que as compras feitas até aí a Portugal tinham tido um custo superior ao que lhes surgia agora através de um intermediário londrino.

Dois negociantes, de nacionalidade francesa e libanesa, conseguiram, em 13 de Outubro de 1983, comprar ao INDEP 2000 espingardas G-3 e 1 milhão de munições de 9 mm, afirmando que se destinavam ao Irão. Este lote foi vendido pelos referidos negociantes juntamente com pistolas-metralhadoras alemãs-fed erais MP5A3 (para operações especiais). Estas últimas viriam a aparecer mais tarde nas mãos de terroristas libaneses.

Uma fonte do Ministério da Defesa disse ao Expresso que, de há algum tempo a esta parte, «havia o cuidado de recusar a exportação para certos países de material que possa ser usado em actividades terroristas.

Esta preocupação recente não veio a tempo de impedir que Portugal exportasse para o Líbano, refúgio de todas as organizações terroristas do Médio Oriente, 400 toneladas de armas e munições entre 1983 e 1986.

O cliente Irão mobilizou os esforços e a imaginação de muitos empreendedores funcionários de empresas públicas de armamento. Alpoim Galvão, o antigo presidente da EXTRA (Explosivos da Trafaria, uma empresa de capital maioritariamente público), associou-se com um seu colega de administração, Ângelo Caldas, para comprar o título da empresa Fábrica de Pólvora de Barcarena. Trata-se de uma velha empresa desactivada, cujas instalações foram compradas por uma empresa de electrónica, depois de ter perdido o alvará para manufacturação de explosivos. Utilizando o nome e os estatutos da empresa, que permitem a comercialização de material de guerra. Alpoim Galvão vai — segundo as nossas fontes— realizar uma assembleia geral de accionistas para reactivar a empresa. «Como já não têm o alvará para fabricar explosivos, a única coisa que previsivelmente vão fazer é comercializar material de guerra», afirmou-nos uma fonte do EMGFA.

Com a corda no pescoço

Apesar do filão iraniano, o INDEP vive com a corda ao pescoço. Os 3,9 milhões de contos de vendas em 1984 não impediram um resultado negativo de 63 000 contos, embora em 1983 tenha tido um lucro líquido

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de 69 000 contos, para um volume de negócios de 4,6 milhões de contos. Em 1985 a situação viria, porém, a inverter-se e o INDEP teve uma situação líquida de 2,8 milhões de contos, num volume de vendas ligeiramente superior a 6,5 milhões de contos.

Por seu turno, a Sociedade Portuguesa de Explosivos tem vindo a registar uma descida constante dos seus resultados líquidos desde 1983, passando de 1,042 milhões de contos para 692 000 em 1984, e 122000 contos em 1985.