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7 DE FEVEREIRO DE 1987

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garante que os responsáveis pela DEFEX soubessem qual o verdadeiro destino das armas e das munições. Todavia, a partir de agora, a Direcção Nacional de Armamentos, responsável pelo controle das quantidades, preces e destinos de tais mercadorias, passará a fazer, sobre a mesma empresa, um teste sistemático. Diga-se, aqui, que, normalmente, o controle é aleatório e isso facilitou muito as coisas.

O Diário de Notícias contactou também Rui Machete, o qual garantiu que «nestes casos de venda de armamento não eram os ministros nem os secretários de Estado que despachavam». E o antigo ministro, actual presidente da Comissão Parlamentar de Economia e Finanças, garantiu que, enquanto foi titular da pasta da Defesa, não foi «solicitada nenhuma questão relativa a armamento».

O gabinete do primeiro-ministro — afirma o Diário de Notícias — afirmou, por seu turno, que, desde que o actual Governo tomou posse, nunca foi dada autorização para que qualquer avião passasse com armamento para os «contras» da Nicarágua.

Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros se abriu com o nosso colega, afirmando o embaixador Brito e Cunha que «Portugal está a ser vítima de especulação externa nesta matéria». E, referindo-se ao incidente com o avião que esteve retido na Portela e que transportava armas para o Irão, o mesmo diplomata reiterou a afirmação anteriormente proferida de que «nunca este Governo deu o seu consentimento para o trânsito, em território nacional, de armamento americano com destino a Teerão».

Depois da tentativa de encontrar Marcelino de Brito, procurámos, à hora da abertura do serviço normal, falar com José Garnel, o outro gerente da DEFEX. O funcionário que nos atendeu afirmou-nos não saber dele e o assunto só poder ser analisado por qualquer dos gerentes.

Entretanto, a Juventude Comunista Portuguesa distribuía um comunicado em que se verbera a implicação portuguesa no fornecimento de armas aos «contras» e se exige que o Governo esclareça a opinião pública. :

(Diário Popular, de 20-1-87)

Embaixador americano organizeis tráfico para os «contras» em Portugal — afirma o «Miami Herald»

Miami. — Frank Shakespeare, ex-embaixador dos Estados Unidos em Portugal, organizou o tráfico de armas de Lisboa para os terroristas somozistas em colaboração com a CIA e com o tenente-coronel Oliver North, revelou ontem o Miami Herald. O jornal não especifica qual a atitude do Governo português perante esta ingerência.

O Miami Herald foi o primeiro jornal a revelar aspectos da pista portuguesa do «Irangate» quando denunciou que aviões da Southern Air Transport, a companhia da CIA, operavam no abastecimento de armas ao Irão e aos «contras» a partir de Portugal.

Na sua edição de ontem o Miami Herald afirma que os ex-embaixadores dos Estados Unidos na Costa Rica e em Portugal ajudaram o antigo operacional do Conselho de Segurança Nacional, Oliver North na expedição de armas para os terroristas que agridem a Nicarágua.

O jornal cita um cabecilha dos «contras», que afirma que Frank Shakespeare organizou^ o transporte de armas de Portugal para a América Central.

O Miami Herald acrescenta que o tenente-coronel Oliver North beneficiou da colaboração da CIA em Portugal para comprar armas. Além disso, comunicava frequentemente com os responsáveis e agentes da CIA na Costa Rica e nas Honduras.

O jornal e a France Presse, a agência que o cita, não dão informações sobre a atitude do Governo português perante estas movimentações promovidas por meios governamentais estrangeiros em Portugal.

Frank Shakespeare, o ex-embaixador citado, é actualmente o chefe da missão diplomática norte-americana no Vaticano.

«Escala fácil»

Washington. — As revelações do Miami Herald reforçaram o teor do despacho feito pelo correspondente da agência Lusa em Washington segundo o qual a imprensa dos Estados Unidos considera que Portugal é uma «escala fácil» para operações secretas.

Manuel Lage, o correspondente da Lusa, cita notícias publicadas pela imprensa norte-americana sobre a pista portuguesa do «Irangate» segundo as quais uma «burocracia desorganizada e pouco sofisticada permite que tudo possa ser feito através de Portugal».

O trabalho de Manuel Lage, que também é funcionário da Rádio Voz da América, enuncia um conjunto de factos que nas últimas semanas têm sido divulgados pela imprensa norte-americana e portuguesa sobre o envolvimento de Portugal no «Irangate».

Afirma que apenas 10 % das armas produzidas em Portugal se destinam às Forças Armadas portuguesas. 90 % são para exportação. O despacho cita declarações de um ex-ministro português da Defesa, que não nomeia, que pretende «justificar» a exportação de armamento para focos de grande tensão com a necessidade de garantir os postos de trabalho no sector da produção de material de guerra.

Manuel Lage evoca igualmente a intervenção da CIA para libertar um voo transportando armas para os «contras» que esteve retido em Lisboa pelos serviços alfandegários portugueses em 20 de Novembro de 1985. Estas dificuldades foram confirmadas pelo próprio Oliver North ao então presidente do Conselho de Segurança Nacional, John Poindexter, conforme consta de tim registo informático em poder das comissões norte-americanas de investigação do «Irangate».

O registo informático revela que o avião transportando armas foi desbloqueado com a alegação ce que se tratava de uma «missão humanitária».

A imprensa norte-americana, segundo o despacho do correspondente da Lusa, «tem ainda citado as condições embaraçosas criadas para o governo de Lisboa, indicando que a natureza das relações entre os EUA e Portugal, com uma assistência norte-americana no valor de 500 milhões de dólares, mais 100 milhões em auxílio militar, tornou difícil a Lisboa protestar pela utilização que estava a ser feita dos portos e aeroportos».

A pista da droga

Nova Iorque. — Os terroristas somozistas traficaram cocaína para os Estados Unidos com o objectivo de financiarem as suas compras de armas e foram ajuda-