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II SÉRIE — NÚMERO 40

dos nessa operação pelas agências americanas de controle da droga (DEA) e de espionagem (CIA).

A informação é divulgada pela revista Newsweek na sua edição de ontem, que publica abundante soma de pormenores sobre a componente da droga do escândalo «Irangate».

A revista baseou as suas informações em declarações de dois traficantes de droga que estão a cumprir penas de prisão em Miami.

George Morales e Gary Betzner, os dois detidos, afirmam que os «contras» pediram ajuda para o tráfico de cocaína com destino aos Estados Unidos depois de o Congresso norte-americano ter cancelado o auxílio militar que Washington lhes concedia.

«Os 'contras' no terreno estavam desesperados, não tinham feijões suficientes para comer», declarou Morales, um emigrante colombiano proprietário de uma empresa de voos charter. O outro detido, Gary Betzner, é um traficante de droga e armas. «Ajudei no tráfico de substância ilegal (cocaína), mas também participei no tráfico de armas, com o conhecimento pleno e a assistência da DEA e da CIA», disse Betzner.

A cocaína da Colômbia era enviada para os Estados Unidos em aviões fornecidos por Morales e pilotados por Betzner a partir de pistas utilizadas pelos «contras» na Costa Rica, acrescenta a Newsweek.

A componente de tráfico de droga do «Irangate» já fora denunciada anteriormente a propósito das actividades do tenente-coronel Oliver North. São conhecidas informações segundo as quais North propôs o aproveitamento dos aviões que transportavam armas para os «contras» para carregarem cocaína da Colômbia para os Estados Unidos.

(O Diário, de 20-1-87)

A pista portuguesa do «Irangate» — Tudo foi realizado em «legalidade» à portuguesa

À primeira vista o prédio n.° 82 da Rua do Presidente Arriaga, em Lisboa, não tem nada de especial. A não ser o facto de, pelo seu rés-do-chão, passar uma das conexões não menos importantes do chamado «Irangate». Ali funciona a DEFEX Portugal — Representações, Importação e Exportação, L.da, referida como tendo exportado 5,6 milhões de dólares de armas destinadas aos «contras» da Nicarágua. A firma é propriedade de José Garnel e Marcelino Brito, este último conhecido por uma fracassada tentativa para se tornar presidente do Sporting. Nem um nem outro se encontrara neste momento em Portugal e na sua ausência não conseguimos encontrar alguém que responda pela firma. Só empregados e a maior parte das pessoas que lá trabalham «praticamente só sabem do assunto pelos jornais».

Embora este assunto das armas para os somozistas se reporte a 1985 (a menos que outros fornecimentos posteriores tenham sido feitos), o silêncio do Governo português em tudo isto tem sido, no mínimo, estranho. Só a grande pressão da imprensa nacional e estrangeira fez com que surgissem algumas declarações que, além de pouco esclarecerem, deixam supor que, a traduzirem a verdade, as autoridades portuguesas revelam ou uma chocante ingenuidade ou uma total incapacidade para controlarem as vendas de armas para o estrangeiro.

O Ministério da Defesa, segundo um matutino lisboeta de hoje, tem já conhecimento de que Lisboa foi placa giratória para o fornecimento de armas aos «contras» da Nicarágua. Mas insiste em que tudo foi feito em conformidade com a lei vigente.

Uma fonte do Ministério da Defesa citada pelo Diário de Notícias revelou que o pedido para esta operação de venda de armas foi pedido pela firma DEFEX e despachado pelo então secretário de Estado da Defesa, Figueiredo Lopes, depois de parecer prévio favorável do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que tem de pronunciar-se quanto às implicações que a nível de política externa possam ter os respectivos fornecimentos.

Segundo o informador daquele matutino, os pedidos estavam correctos. As armas tinham como destino a Guatemala e o negócio seguiu o seu curso, tendo a DEFEX sido autorizada a efectuar a transacção.

A referida fonte afirmou ainda que «nada nos garante que a DEFEX soubesse qual o destino verdadeiro do armamento», mas que a partir de agora a Direcção Nacional de Armamentos, que faz o controle das quantidades, preços e destinos das mercadorias, passará a fazer sobre esta empresa um teste sistemático, contrariamente ao que acontece normalmente, em que os testes são aleatórios.

Competindo à Direcção Nacional de Armamentos fazer o controle do destino das mercadorias, verifica-se que afinal nada controlava. Sabe-se que o destino do armamento era a Guatemala, mas ainda não fo: revelado o nome do destinatário nesse país. Era o respectivo Governo? Ou era outra DEFEX qualquer que depois reexpedia o material?

No entanto, pelo menos formalmente, a maior preocupação de qualquer país que vende armas é adquirir a certeza absoluta do seu destino final.

Contradições

Enquanto o Ministério da Defesa, segundo o Diário de Noticias, afirma que os certificados estavam correctos e que o despacho foi dado por Figueiredo Dias, secretário de Estado da Defesa nessa altura, Rui Machete, que era ministro da Defesa, afirma que neste caso de venda de armamento não eram os ministros nem os secretários de Estado que despachavam e que durante a sua permanência à frente do Ministério da Defesa não foi solicitada nenhuma questão relativa a armamento.

Quem despachou afinal a autorização para este negócio?

Por sua vez, o gabinete do Primeiro-Ministro garante que desde que este Governo tomou posse nunca deu autorização para que qualquer avião passasse com armamento para os «contras» da Nicarágua.

Brito e Cunha, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, diz que «Portugal está a ser vítima de especulação externa» e que este Governo nunca deu o seu consentimento para o trânsito em território nacional de armamento americano com destino a Teerão.

O facto é que Portugal surge agora na imprensa internacional como uma espécie de «república das bananas», onde tudo se pode fazer. E quando essa imprensa afirma que o nosso país é «escala fácil para operações secretas», facilitada por «uma polícia e funcionários alfandegários mal pagos», está a sugerir