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1786

II SÉRIE — NÚMERO 40

Portugal nos dias seguintes a estas datas por via aérea e, em duas ocasiões, de barco. As exportações autorizadas em Janeiro, Março e Dezembro de 1985, assim como as de Março, Abril e Maio de 1986, foram feitas por avião e, pelo menos as de 1986, através da companhia Southern Air Transport, cujos aparelhos saíram de Lisboa com destino declarado para a Guatemala e Canadá, onde nunca chegaram. As de Maio de 1985 e Julho de 1986, dado o seu grande volume, seguiram de barco, com partida do porto de Setúbal.

Presidente da Guatemala ordena inquérito

As autoridades da Guatemala negam ter recebido material de guerra português, não excluindo, porém, que nos seus aeroportos pudessem «transitar aviões com material para 'contras'». Por outro lado, voos destinados a um aeródromo que possui o código aeronáutico YSV (Saglek, Canadá) teriam efectivamente seguido para Hopango, em El Salvador. Um porta-voz da Southern Air Transport reconheceu quinta-feira que a companhia usava a designação YSV para se referir a Hopango, em El Salvador, o aeródromo usado nas operações encobertas norte-americanas de auxílio aos «contras».

Além destas exportações de material de guerra fabricado em Portugal, a DEFEX solicitou ainda, em 10 de Janeiro de 1985, autorização para o trânsito por Lisboa de 500 000 munições 7,62 short —bases não fabricadas em Portugal—, compradas em Bucareste, na Roménia, e alegadamente destinadas à Guatemala. Um pedido idêntico foi feito em 5 de Março de 1985, relativamente ao trânsito de igual quantidade de balas 7,62 X 39, parte de um lote de 1 500 000 munições polacas também supostamente adquiridas pela Guatemala — cujo Exército não possui armas deste calibre, de acordo com confirmações obtidas pelo Expresso. O trânsito pedido foi autorizado nos dois casos, tendo as munições sido confiadas, por razões de segurança, aos paióis da INDEP (Indústrias Nacionais de Armamento), uma empresa pública dependente do Ministério da Defesa.

O presidente da Guatemala, Oscar Padilla Vidaorre, soube o Expresso em Washington, ordenou «pessoalmente» que se fizesse um inquérito às falsas exportações de armas portuguesas para o seu país. Tanto quanto conseguimos saber, em Portugal, não há em curso nenhum inquérito a eventuais ilegalidades cometidas por entidades públicas ou privadas durante os governos de Soares e Cavaco Silva no tráfico de armas para a América Central. Segundo um porta-voz do MNE, «não há nenhuma indicação de que tenham ido armas portuguesas para os 'contras'».

(Expresso, de 17-1-87)

Segundo o «Washington Post», armas para «contras» passavam em Portugal

O jornal Washington Post revelou novos dados sobre o papel de Portugal como placa giratória dos carregamentos de armas para o Irão e para os rebeldes da Nicarágua.

Segundo o Post, o ex-membro do Conselho de Segurança tenente-coronel Oliver North enviou a 20 de Novembro de 1985 ao então conselheiro nacional de

Segurança, almirante John Poindexter, uma mensagem por computador segundo a qual os aviões que se encontravam em Portugal para transportar armas para os rebeldes da Nicarágua podiam, em vez disso, ser utilizados no transporte de mísseis Hawk de Israel para o Irão.

Estas informações foram obtidas pelo Post junto de fontes do Congresso norte-americano.

Na altura —refere o jornal— estava planeado o carregamento de dezoito mísseis antiaéreos Hawk de Israel para o Irão, via Portugal, num avião Boeing 747, tendo surgido problemas cora esse avião.

Entretanto, Portugal estava também a ser utilizado nessa altura para o transporte de armamento para a Nicarágua, pelo que se encontravam no país mais dois aviões de menor porte.

North teria então transmitido a Poindexter que, embora a hipótese de utilização desses dois aviões para o transporte de armas para o Irão fosse atrasar as entregas aos anti-sandinistas da Nicarágua, seria mesmo assim aceitável.

Desmentida demissão de Shultz

A Secretaria de Estado norte-americana negou «especulações surgidas na imprensa», segundo as quais o secretário de Estado George Shultz poderá apresentar muito brevemente a sua resignação por não ter sido informado sobre o fornecimento de armas ao Irão.

Comentando a anunciada hipótese de resignação, a porta-voz da Secretaria de Estado, Phyllis Oakley, disse que a informação «não tem qualquer fundamento» e citou o porta-voz da Casa Branca, Charles Redman, que presentemente acompanha Shultz numa viagem oficial a África, como tendo afirmado que a notícia «é um disparate pegado».

Alguns jornais de Washington sugeriram que a demissão do secretário de Estado era agora mais provável, depois da publicação de um memorando da Casa Branca contendo novos pormenores sobre a venda secreta de armas norte-americanas ao Irão, em troca de dinheiro destinado aos rebeldes nicaraguanos.

(Diário de Notícias, de 15-1-87)

As contas aos americanos

Daniel Inouye, presidente da comissão especial do Senado norte-americano formada para investigar o escândalo «Irangate», considera que a verdade dos factos só poderá ser completamente apurada ouvindo entidades estrangeiras.

A comissão tenciona mandar inquiridores ao estrangeiro. As informações provenientes de Washington afirmam que o presidente da comissão pensa concretamente em Israel, na Suíça, no Brunei e também no Irão, caso isso seja possível.

As informações são omissas quanto a Portugal. Mas a pista portuguesa do «Irangate» aparece frequentemente citada na imprensa norte-americana, sobretudo a propósito da parte mais escabrosa do escândalo: a transferência de fundos e material de guerra conseguidos através da operação Irão para os terroristas que agridem a Nicarágua.