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7 DE FEVEREIRO DE 1987

1783

que a corrupção ocupa nestas histórias um lugar relevante, o que deveria ser suficiente para que o actual Governo, ainda que não responsável pelo que se passou antes, se empenhasse profundamente no esclarecimento destes escândalos.

O jornal Miami Herald, o primeiro a revelar o envolvimento de Portugal no «Irangate», afirma que foi o ex-embaixador norte-americano em Lisboa, e actual chefe da missão diplomática norte-americana no Vaticano, quem organizou o transporte de armas de Portugal para a América Central e que o tenente-coronel Oliver North beneficiou da colaboração da CIA em Portugal para comprar armas. Todas estas notícias são divulgadas sem a referência a qualquer comentário do Governo português.

Por arrastamento com tudo isto vem também o desprestígio da indústria portuguesa de armamento, caracterizada como produzindo «material obsoleto e totalmente ultrapassado no âmbito da NATO», como, por exemplo, granadas de artilharia e morteiros «mais próprios da guerra das trincheiras de 1914, que apenas encontram interessados nos conflitos que se verificam no Terceiro Mundo».

(Diário de Lisboa, de 20-1-87)

Escândalo «Irangate» mais próximo de Lisboa

A 20 de Novembro de 1985 o tenente-coronel Oliver North informou o então vice-chefe do Conselho Nacional de Segurança, almirante Poindexter, através de uma mensagem por computador, que aviões localizados em Portugal, destinados a transportar armas para os rebeldes nicaraguenses, podiam ser utilizados, em alternativa, para levar mísseis Hawk de fabrico norte-americano de Israel para o Irão, com escala por Lisboa.

As fontes do Congresso responsáveis pela informação acrescentaram que a mensagem se encontrava entre muitas outras enviadas por North a Poindexter a propósito de esforços para ajudar Israel a entregar as armas norte-americanas a Teerão. Os colaboradores presidenciais esperavam que os mísseis estimulassem os iranianos a esforçarem-se por conseguir a libertação dos cidadãos norte-americanos retidos como reféns no L/bano por extremistas islâmicos favoráveis a Teerão.

A mensagem de North a Poindexter em 1985 evidencia o que um membro do Congresso classificou como «a primeira relação» entre a implicação de North na venda de armas ao Irão e aquilo que parece ter sido um esforço concertado de remessa de armas aos «contras» numa altura em que o Congresso tinha proibido o apoio militar norte-americano aos rebeldes.

Segundo uma fonte, dezoito mísseis Hawk anticarro estavam para ser enviados num Boeing 747, mas «houve problemas com o aparelho». Lisboa estava então a ser utilizada como ponto de transferência para armas destinadas aos «contras», disse a mesma fonte, acrescentando que North tinha descoberto em Portugal dois aviões de menores dimensões disponíveis para transportar os Hawk. North informou PoindexteT que, embora o desvio desses dois aviões para a missão de transporte dos mísseis fosse atrasar o esquema de abastecimento de armas aos «contras», esse atraso era aceitável.

As mensagens figuravam em discos de computador entregues na semana passada pela Casa Branca às comissões de informações do Senado e da Câmara dos Representantes. Portanto, essa informação não estava disponível quando a comissão do Senado redigiu um relatório sobre as audiências a que procedeu em Dezembro último.

Fontes do Congresso disseram que o pessoal das duas comissões procedeu já a uma apreciação preliminar do novo material, mas que até agora não conseguiu identificar quem pagou as armas destinadas aos «contras» ou os serviços do avião fretado em Portugal para proceder ao transporte.

Embora da mensagem de North a Poindexter se possa deduzir que ele tinha alguma influência sobre o modo como os aviões eram utilizados, o papel do tenente-coronel continua pouco claro.

Segundo anteriores declarações de várias pessoas aos comités de informação das duas câmaras, North terá levado a CIA a arranjar um avião para levar os mísseis Hawk de Israel para Portugal, e daqui para o Irão.

Esse envio dos dezoito mísseis em Novembro de 1985 integrava-se num plano mais vasto elaborado conjuntamente pelos israelitas, pelos iranianos e pela Casa Branca. O objectivo, segundo North declarou então a um colega, era conseguir a libertação dos reféns no Líbano antes do Natal de 1985.

Contudo, não houve quaisquer libertações depois da remessa, que aliás foi rejeitada pelos iranianos, alegando terem sido vigarizados.

Ao desembalarem as armas os especialistas de Teerão descobriram que se tratava de um modelo obsoleto e que alguns tinham aposta a estrela de David, insígnia israelita. Os mísseis acabaram por ser retirados do Irão em Fevereiro de 1986 pelos aviões que ali fizeram chegar uma primeira remessa de 1000 mísseis anticarro Tow.

Funcionários governamentais em Washington responsabilizaram pela embrulhada dos Hawk o negociante de armas israelita Yaacove Nimrodi e um intermediário iraniano, Manucher Ghorbanifar, que tinham engendrado o negócio. Por outro lado, investigadores ligados às comissões do Congresso disseram na terça--feira, dia 13, que até então não tinha sido possível detectar o rasto dos fundos entregues pelos iranianos aos israelitas para pagamento dos mísseis.

Walter Píncus, Washington. The Washington Postf Los Angeles Times News Service/O Jornal.

(O Jornal, de 16-1-87)

Enquanto o ministro presta esclarecimentos aos deputados sobre os gastos com equipamento, avolumam-se os escândalos por Portugal ser uma placa giratória do envio de armas para o Irão e Nicarágua.

Negócios de armamento: nem tudo é límpido

Novos dados sobre o papel de Portugal como placa giratória dos carregamentos de armas norte-americanas para o Irão e para os rebeldes da Nicarágua foram divulgados na edição de ontem do jornal Washington Post.