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II SÉRIE — NÚMERO 40

semelhantes a acompanhar novas encomendas. Todos os certificados, segundo as autoridades da Guatemala, são falsos.

O general Cesar Augusto mostrar-se-ia, na segunda--feira passada, «surpreso» pelas revelações feitas pelo Expresso na sua última edição, afirmando não possuir «grau hierárquico suficiente para assinar tais documentos». Afirmações que seriam corroboradas por Hernandez Mendez, ministro da Defesa da Guatemala, que afirmou não estar o general Rojas envolvido nessas transacções e anunciando que o Governo da Guatemala iria «abrir um inquérito para determinar se alguém do Governo anterior esteve envolvido» nesta operação. Por seu lado, o capitão Juan Fernando Cifuentes, porta-voz das Forças Armadas da Guatemala, afirmou que o seu país não comprou material de guerra a Portugal depois de 1984. As últimas vendas de material bélico português para a Guatemala ocorreram em 1980.

Por seu turno, o embaixador da Guatemala em Washington, Oscar Padilla Vidaorre, afirmou-nos que o Presidente Vinicio Cerezo ordenou «pessoalmente» uma investigação, acrescentando que «não pode negar» a possibilidade de se tratar de uma fraude praticada durante o anterior governo militar. «Não podemos ser responsabilizados pelas acções do governo militar», disse o embaixador, que viu cópias dos documentos e declarou parecerem-lhe «documentos oficiais».

Fontes diplomáticas centro-americanas em Washington admitiram ao Expresso a possibilidade de os certificados poderem ter sido forjados «com a cumplicidade de militares guatemaltecos».

«I ranga te» em Lisboa

Em princípio de 1984, quando já se adivinhava que o Congresso norte-americano iria cortar a ajuda militar aos «contras», um grupo que incluía o tenente-coronel Oliver Noith, um «operacional» do Conselho Nacional de Segurança —considerado «um herói» pelo Presidente Reagan devido aos seus feitos em combate no Vietname— começou a preparar um plano secreto para canalizar ajuda aos «contras» através de terceiros países, usando fundos privados. Em finais de 1984, depois de o Congresso cortar o auxílio militar, North e os seus associados puseram em acção o seu plano: o envio de armamento aos anti-sandinistas a partir de terceiros países.

Portugal foi um dos escolhidos. Ainda não é claro como é que Oliver North e o general Secord foram bater à porta da DEFEX. Um dos canais poderá ter sido Thomas Clines, um antigo agente da CIA com quem a DEFEX mantém relações comerciais, como admitiu na segunda-feira passada um dos sócios da empresa, Pinto Garnel, durante um encontro com jornalistas.

A Energy Resources International, de acordo com fontes ligadas à comissão do Congresso norte-americano que investiga o escândalo «Irangate», foi fundada por Thomas Clines «com a finalidade de fornecer armas aos 'contras'». Sublinhe-se, por outro lado, que a morada conhecida da ERI coincide com a do escritório do general Richard Secord e que no mesmo edifício não existe qualquer empresa com a designação Energy Resources International.

Segundo fontes em Washington, Thomas Clines será um dos «homens de bastidores» das operações secretas

do Conselho Nacional de Segurança. Clines tem-se deslocado com frequência a Lisboa nos últimos meses, como afirmou ao Expresso uma fonte que declarou «conhecê-lo bastante bem».

Investigação «por amostragem»

Os pedidos apresentados pela DEFEX em Dezembro de 1984 foram autorizados pelo Ministério da Defesa depois de o Ministério dos Negócios Estrangeiros não ter levantado objecções à exportação de armas para a Guatemala.

O parecer do Ministério dos Negócios Estrangeiros não tem carácter vinculativo e é um processo de rotina.

Se não existem razões políticas óbvias que obstem ao envio de material de guerra para um país potencial comprador, o MNE limita-se a dizer que não existe inconveniente. No Ministério da Defesa o critério de autorização é o de evitar, segundo nos disse um informador, «a venda de armas a países controversos», sublinhando «o respeito pelo embargo de armamento à África do Sul». A capacidade de averiguar a legitimidade dos certificados de destino final é «muito limitada» e faz-se normalmente «por amostragem». Um responsável militar do Ministério da Defesa explicou que este método consiste em verificar os documentos de forma aleatória e normalmente por canais diplomáticos. «O facto de não existir em Lisboa embaixada de um dado país torna muito difícil a verificação e os serviços nem sequer dispõem de telexes ou compute-dores», explicou a mesma fonte.

No que se refere concretamente ao caso «Irangate», e mais especificamente às vendas de armas para a Guatemala, um alto funcionário da Defesa assegurou que «só agora se sabe o que se estava a passar. Se os documentos são falsos, então fomos ludibriados». «Além disso — salientou —, o facto de essas exportações terem sido acompanhadas, por duas vezes, pot munições adquiridas a países de Leste afastar-nos-iam quaisquer suspeitas. Não entrava na cabeça de ninguém que os países socialistas estivessem a vender armas aos 'contras'». Todas as fontes com quem contactámos a nível militar têm agora «poucas dúvidas» de que as armas foram mesmo para os «contras».

Aviões e barcos para a «Guatemala»

A primeira autorização de exportação foi concedida no dia 21 de Taneiro de 1985, referente a 29,81 dc munições 7,62 e granadas de morteiro de 60 mm e 80 mm, no valor de 19 362 contos. O carregamento partiria de avião poucos dias depois, juntamente com meio milhão de munições 7,62 short. Estas munições, adquiridas em Bucareste, estavam depositadas em trânsito nos paióis do INDEP a pedido da DEFEX.

As 19 t anteriores eram apenas um modesto começo.

Em 14 de Fevereiro do mesmo ano a Energy Resources International apresentou às autoridades portuguesas, através da DEFEX, mais cinco certificados de destino final, assinados pelo general Rojas, pedindo a venda para a Guatemala de uma impressionante lista de material: 43 509 kg de TNT; 1500 detonadores; 10 000 granadas de mão do tipo M-79; 3000 granadas de morteiro de 60 mm; 2000 granadas de morteiro de 81 mm; 150 metralhadoras; 150 morteiros de