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46 | II Série A - Número: 034 | 6 de Janeiro de 2007

Anexo II

Diocese de Vila Real

Zona Pastoral Douro I

Comemorando dos 250 anos da Região Demarcada do Douro — perplexidades e preocupações

Os párocos da região Douro I da Diocese de Vila Real, que abrange as freguesias dos concelhos de Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Penaguião, na sua reunião mensal de 12 de Outubro do corrente ano, reflectiram, entre outros assuntos de ordem pastoral, sobre os problemas humanos das gentes durienses relativamente ao principal trabalho agrícola da zona: a vinha e o vinho. Estamos a celebrar os 250 anos da fundação da Companhia dos Vinhos do Alto Douro. Este acontecimento não nos pode deixar indiferentes, a nós e aos nossos paroquianos. Mais do que celebrar o passado, interessa analisar o presente e lançar o olhar sobre o futuro.
A crise que se abate sobre o Douro, especialmente sobre os pequenos e médios viticultores, tem muito a ver com uma nova situação político-económica: a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, o fenómeno da globalização, a instalação do liberalismo económico numa concorrência feroz e a grata notícia da classificação de parte desta região como Património Mundial. Aos nossos ouvidos chegam continuamente os queixumes e até a revolta de muitas pessoas da mais antiga região demarcada de vinhos do mundo. Não podemos deixar de chamar a atenção de todos para a situação actual de injustiça e miséria que estão a viver.
A nosso ver, a presente situação, que é grave sobretudo para os pequenos e médios viticultores, caracteriza-se pelos factos seguintes:

1 — O preço dos vinhos tem vindo a degradar-se nos últimos anos para o produtor, enquanto as despesas com o cultivo da vinha aumentam cada vez mais. Aquilo que ultimamente se tem recebido não dá, muitas vezes, para as despesas da vindima; 2 — As associações representativas destes produtores — a Casa do Douro e as adegas cooperativas — atravessam uma grave crise financeira, estão divididas, fragilizadas e têm cada vez menos poder negocial; 3 — As úItimas medidas legislativas referentes a este sector permitiram a grupos económicos e empresas que agregam capitais e forte poder interventivo no comércio nacional e internacional o aumento extraordinário da superfície de novos plantios em zonas privilegiadas desta região, com a certeza de obterem a concessão das melhores letras (A-B-C) para o «vinho tratado», beneficiando da grande soma de empréstimos gratuitos vindos da Comunidade Europeia. Estes potentados económicos reforçaram «de graça» o seu poder, tanto na produção como na comercialização dos vinhos. Conseguiram, assim, impor no jogo da concorrência os seus interesses, em desfavor dos pequenos e médios produtores.
4 — O negócio do vinho continua a enriquecer alguns, que não os que trabalham e mourejam durante todo o ano no cultivo da vinha. Estes estão cada vez mais pobres.
Os pequenos e médios viticultores do Douro não merecem ser transformados em simples proletários, sem futuro para si e seus filhos, obrigados a vender e abandonar suas pequenas propriedades. Foram eles também que fizeram de montes, vales e encostas do Douro e seus afluentes este admirável jardim de vinhas — único no mundo.
5 — Amamos muito a nossa terra, esta bela região do Alto Douro — Património da Humanidade. Fazemos um grande apelo a que ele se conserve e preserve. Mais importante do que a paisagem são, no entanto, as pessoas. O turismo, até agora, constitui uma débil alternativa como fonte de créditos para a nossa gente.
Oferece emprego a um pequeno número de habitantes e temos um fundado receio de que se torne apenas num «turismo de passagem». Os muitos milhares de turistas que se passeiam pelo rio Douro vão e vêm, como a água do rio, e poucas ou nenhumas vantagens económicas deixam nas margens.
6 — Tal como todo o interior de Portugal, o Douro corre o risco de ser visto apenas como paisagem ou lugar de passagem, se não forem criados núcleos de desenvolvimento que fixem as pessoas aos seus lugares. A hemorragia demográfica continua num país cada vez mais desequilibrado, gordo à beira-mar e esquelético no interior. A população do interior é cada vez mais idosa. O mundo rural vai morrendo. Tudo contribui para que seja cada vez mais difícil viver na aldeia. A chamada «descentralização» tem sido um logro.

Analisado o presente, ousamos, mais uma vez fazer um veemente apelo a todos os responsáveis implicados no futuro da nossa região, no sentido de abrir perspectivas novas para um futuro melhor. E, embora não seja competência nossa, parece-nos:

A — Ser muito importante a união solidária das associações representativas dos viticultores da Região Demarcada do Douro, detectar a razão da crise financeira que atravessam e estabelecer uma gestão rigorosa que defenda os reais interesses dos associados, antes de tudo. É para isso que elas existem e não para criar empregos ou respaldar interesses político-partidários;