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72 | II Série A - Número: 045 | 11 de Março de 2010

A degradação acentuada a que chegou o estado material das escolas portuguesas só é justificável pela subalternização a que esses mesmos governos, ao longo de décadas, votaram o parque escolar. As escolas, tal como os seus recursos humanos e particularmente os seus funcionários não docentes, foram sujeitas a um período de desinvestimento que permitiu que os edifícios e recursos materiais atingissem um estado, em muitos casos, absolutamente adverso à realização do processo de ensino-aprendizagem com sucesso e qualidade. Ainda mais grave foi a forma como os sucessivos governos discriminaram visivelmente as escolas em função dos públicos estudantis. Não raramente as escolas dos centros urbanos dispõem de infraestruturas e equipamentos muito mais adequados do que as escolas da periferia, do interior ou dos arredores urbanos. Paralelamente a esta discrepância, surge uma discrepância social ainda mais grave, com base numa objectiva, embora ilegal, triagem social dos estudantes.
Com a aplicação da nova tendência política, iniciada vigorosamente pelo XVII Governo Constitucional, de profissionalização do ensino secundário, um vasto conjunto de escolas tem sido sujeito a uma conversão forçada do seu objectivo: muitas escolas secundárias são agora convertidas em autênticos centros de formação profissional, assumindo como objectivo a preparação estritamente profissional dos estudantes, particularmente daqueles que se inserem em meios mais empobrecidos, ou seja, os filhos dos operários e trabalhadores.Com esta política de conversão e desfiguração da escola pública, o Governo ataca um dos pilares fundamentais da democracia e opta pela constituição, ou melhor, pela recuperação da escola dual. Isto significa que existe, cada vez mais, uma escola pública a duas velocidades: uma para quem pode seguir os estudos para o ensino superior e outra para quem não tem outra opção senão ingressar directamente no mundo do trabalho sem direitos, obtendo para tal uma formação de banda estreita.
Se são graves, do ponto de vista político, os efeitos desta política educativa, mais grave se tornam perante a estratégia de empresarialização e privatização gradual e progressiva do sistema educativo, nomeadamente do parque escolar. Ora, a criação da empresa Parque Escolar não é apenas uma medida administrativa, de acordo com o texto do próprio decreto-lei que a cria, mas mais ainda de acordo com os impactos que já tem a intervenção da referida empresa na gestão do parque escolar. Tenta dizer-nos o Governo que a empresa tem como objectivo levar a cabo o processo de reabilitação urgente do parque escolar.
Porém, quando observamos as reais capacidades da «Parque Escolar, EPE», verificamos facilmente que vai bem mais além. Estabelece o diploma que cria a empresa que ela «tem por objecto o planeamento, gestão, desenvolvimento e execução do programa de modernização e manutenção da rede pública de escolas secundárias e outras afectas ao Ministério da Educação». Objectivamente, o Governo cria uma empresa para cumprir objectivos políticos, não meramente administrativos nem meramente técnicos.
A opacidade e as legítimas dúvidas que resultam da forma processual como a «Parque Escolar, EPE», contrata e adjudica projectos e empreitadas são efeitos perversos dessa demissão política do Governo. Mas, independentemente da forma, para o PCP o mais grave continua a ser o contorno político desta estratégia, pois ela representa materialmente a privatização e empresarialização do parque escolar e da sua gestão. Esta empresa possui a capacidade de gerir os equipamentos didácticos, as infra-estruturas desportivas e as demais, independentemente dos órgãos de gestão das escolas e das opções que pudessem vir a ter sobre os edifícios e sua gestão. No essencial, a gestão de um vastíssimo conjunto de património edificado passa para tutela de uma empresa que a comandará, de acordo com o decreto-lei que a cria, sob «moldes empresariais».
Em última análise, a escola deixará de ser gerida em função das necessidades reais do País, para o ser em função de critérios empresariais, ou seja, em função dos lucros que dela se possam retirar. É sabida a apetência e a voracidade de vários interesses privados no controlo e posse do sistema educativo. Com a criação desta empresa, o Governo avança claramente com um sinal positivo para esses interesses que aguardam, pacientes, a sua parte desse valiosíssimo «mercado educativo».
Aliás, com a criação da Parque Escolar, EPE, o Governo conseguiu já remeter uma boa parte das suas responsabilidades sociais para empresas privadas, quer seja na construção ou renovação das infra-estruturas, ou na concessão e externalização de serviços. A privatização de cantinas, refeitórios, bares, papelarias, espaços desportivos, a externalização da contratação de recursos humanos é já uma expressão desta política.
O PCP entende que a manutenção do parque escolar e, particularmente, as opções políticas que lhe devem presidir devem ser da estrita competência do Estado, escrutinável e politicamente assumida. Deve ser o próprio Estado, através do Ministério da tutela, a decidir democraticamente a estratégia para as escolas, estratégia onde se insere forçosamente a gestão do parque escolar e dos recursos que o integram. Sem