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16 DE ABRIL DE 2015 101

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 1431/XII (4.ª)

RECUPERAÇÃO URGENTE DA MATA DO BUÇACO E A SUA VALORIZAÇÃO PARA O

RECONHECIMENTO ENQUANTO PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE

A Mata Nacional do Buçaco estende-se por 105 hectares e é um imenso monumento nacional onde se junta

património florestal e edificado, militar, religioso e arquitetónico, constituindo um conjunto único no país e um

ponto de relevante interesse da região centro do país.

No séc. XVII, o espaço onde hoje se situa a Mata Nacional do Buçaco foi vendido pelo bispado de Coimbra

à Ordem dos Carmelitas Descalços. A Mata foi ocupada por esta Ordem desde o ano de 1630, período a partir

do qual foram construídos os seus muros, caminhos e ermidas, bem como o Convento de Santa Cruz. Ao longo

dos cerca de 200 anos em que os Monges lá permaneceram começaram a plantar a mata e a introduzir espécies

de todo o mundo.

Em 1838 a Mata passou para património do Estado, tendo continuado, contudo, a introdução de novas

espécies. Desta forma, a Mata possui, atualmente, espécies vegetais do mundo inteiro, algumas delas oriundas

da América, de Creta, do Ganges, de Goa, da Itália e do Líbano, além do mundialmente conhecido cedro do

Buçaco. Em 1888 estavam já inventariadas 400 espécies indígenas e 300 espécies exóticas da flora da Mata

do Buçaco. Para além da diversidade de plantas de todo o mundo, a Mata contém, também, uma área de floresta

climácica, a nossa floresta primitiva. Esta variedade de espécies não tem paralelo em parques europeus, o que

faz da Mata Nacional um verdadeiro templo botânico.

O trabalho de identificação da fauna e flora existente foi recentemente aprofundado pela Universidade de

Aveiro. Nesse processo foi também demonstrada a riqueza da fauna da Mata, onde foram identificadas mais de

150 espécies de animais vertebrados. A título de exemplo da riqueza da Mata Nacional do Buçaco, das 25

espécies de morcegos existentes em Portugal Continental, 14 espécies foram já identificadas no perímetro da

Mata.

Um outro aspeto histórico a salientar é a sua relevância ao nível da história militar. Foi no ano de 1810 que

se realizou a batalha do Bussaco, onde os portugueses e os seus aliados ingleses lutaram contra as tropas de

Napoleão Bonaparte. Nessa batalha, as tropas anglo-lusas eram comandadas pelo 1º Duque de Wellington,

Arthur Wellesley, e as francesas comandadas por André Massena.

Do conjunto monumental classificado destacam-se, entre outros, o edifício neomanuelino do Palace Hotel do

Bussaco; o edifício do Convento de Santa Cruz, datado do séc. XVII e a Via Sacra e as suas ermidas também

elas datados do séc. XVII.

O Palace Hotel do Bussaco foi já categorizado como um dos mais belos e históricos hotéis do mundo. Este

palácio, projetado no último quartel do séc. XIX, está decorado com painéis de azulejos, frescos e quadros

alusivos à Epopeia dos Descobrimentos portugueses. A importância deste edifício levou a que fosse considerado

Imóvel de Interesse Público em 1996.

O Convento de Santa Cruz e as ermidas são parte do legado deixado pela Ordem dos Carmelitas Descalços.

A Via Crucis, para além de importar as distâncias exatas do percurso de Jerusalém, é um dos poucos percursos

no mundo que representa as 20 estações dos Passos da Paixão. As cruzes existentes na época dos Monges

foram substituídas por capelas com imagens em terracota e tamanho natural, feitas por Costa Mota (sobrinho)

nos anos de 1938-39.

Este é, portanto, um conjunto único de edifícios com evidente relevo patrimonial. No entanto, um estudo feito

pelo Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro alerta para o eminente risco de ruína de

muitos destes edifícios, apontando a necessidade de intervenções urgentes. A acontecer o cenário de ruína

ficaria perdido para sempre um conjunto monumental muito particular e único e perder-se-ia uma parte

importante da história que caracteriza a Mata Nacional do Buçaco.

Em janeiro de 2013, o ciclone Gong abateu-se sobre a Mata, provocando a queda de inúmeras árvores. Os

estragos que daí resultaram foram vários: desde a destruição ou obstrução de alguns trilhos que percorrem este

espaço até à destruição de telhados e parte das paredes de muitas das ermidas que fazem parte da Via Sacra.

Desde então que muitos destes edifícios se encontram totalmente expostos à chuva, tendo-se acelerado a

degradação dos mesmos.