O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

26 DE NOVEMBRO DE 2015 25

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 21/XIII (1.ª)

RECOMENDA AO GOVERNO MEDIDAS SOBRE PRAXES ACADÉMICAS

Todos os anos assistimos em muitas instituições de ensino superior, público e privado, a praxes violentas,

como se o momento de entrada no ensino superior fosse um momento de exceção, onde tudo é permitido.

O que nenhum cidadão permitiria no espaço público, como a simulação de atos sexuais ou pessoas a rastejar

guiadas por outras, supostamente seus “superiores”, é prática comum e quotidiana em algumas das praxes que

se realizam um pouco por todo o País.

A emissão no canal 1 da RTP do documentário Praxis, que já tinha sido projetado na Assembleia da

República, apanhou meio país desprevenido com a extensão e “naturalidade” de tais práticas. Algumas

reportagens que têm passado nos últimos dias nos canais televisivos, por seu lado, mostram uma realidade

menos conhecida e cada vez mais comum nos “conselhos de praxe”: pactos de silêncio, termos de

responsabilidade sem qualquer validade jurídica – ilibando os praxistas de quaisquer mazelas físicas ou

psíquicas infringidas aos alunos praxados – e mensagens cifradas e com pseudónimos, próprias de

organizações clandestinas.

Nos últimos 10 anos multiplicaram-se os casos vindos a público de violência associados às praxes de norte

a sul do País. Alguns destes “abusos”, relatados nas páginas dos jornais, permitiram dar visibilidade a uma

realidade que vai muito para além dos casos conhecidos.

O primeiro caso relacionado com as praxes académicas, que entrou na sala de um tribunal e encheu páginas

de jornais, remete a 2003, quando a aluna do Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros, Ana Sofia Damião,

denunciou as agressões a que havia sido sujeita durante as praxes. A instituição de ensino decidiu na altura

defender os agressores e, posteriormente, sancionar tanto os agressores como a agredida de igual forma,

defendendo corporativamente a violência.

Em março do mesmo ano, na Escola Superior Agrária de Santarém, Ana Santos também denunciou a

violência das praxes a que foi sujeita, realizando uma queixa na polícia e escrevendo uma carta ao Ministério

Público. Neste caso, o presidente do Conselho Diretivo abriu um inquérito sobre o sucedido, mas,

simultaneamente, deu uma entrevista à revista Visão onde defendia que também ele tinha recebido “bosta no

corpo” e que era essa a tradição daquela escola agrária.

Já em 2004 veio a público um caso bastante mais grave. Diogo Macedo, aluno da Universidade Lusíada de

Famalicão, falecera em 2001 no hospital após uma praxe da tuna daquela instituição. A Universidade Lusíada

de Famalicão não abriu qualquer inquérito e fez saber que qualquer aluno que prestasse declarações à imprensa

sobre o sucedido seria expulso. Nunca se veio a conhecer com detalhe o que aconteceu naquela praxe e o

processo-crime foi arquivado pelo Ministério Público de Famalicão. Apenas em 2012, o Tribunal da Relação do

Porto condenar a instituição de ensino a pagar uma indemnização à família do Diogo Macedo.

A 28 de novembro de 2006, um estudante da Escola Superior Agrária de Coimbra ficou paraplégico como

resultado de uma praxe. A escola lamentou o sucedido e o Ministério com a tutela do Ensino Superior na altura

apelou à responsabilidade das instituições, mas nunca foi aberto nenhum processo judicial ou cível e a culpa

morreu, de novo, solteira.

No mesmo ano em Elvas, um outro aluno ficou também paraplégico depois de um acidente numa praxe

académica. Neste caso os organizadores da praxe alegaram que o aluno tinha participado de livre vontade e a

faculdade rejeitou qualquer responsabilidade, apesar do acidente ter ocorrido nas suas instalações.

Em 2011, os jornais deram conta de uma aluna do primeiro ano da Academia Militar do Exército que havia

sido internada devido à violência de uma praxe nas instalações da Escola, na Amadora.

E agora, em 2015, um conjunto de estudantes estão a ser julgados em tribunal por homicídio de colegas em

atividades de praxe. O crime reporta a Abril do passado ano (2014) em Braga. Os quatro estudantes da

Universidade do Minho são acusados de homicídio por negligência.

Os exemplos repetem-se e são a face visível de que não se tratam de “casos” ou “abusos” pontuais, mas sim

de uma cultura de violência inerente à prática da praxe. Subjacente a estas práticas detetamos uma hierarquia

inventada e arbitrária, que se instala entre alunos e alunas duma mesma escola, alimentando todo um sistema

de obediência de uns supostos mais “fracos” a outros supostos mais “fortes”.

Durante vários anos as instituições de ensino superior, públicas e privadas, contribuíram para a banalização