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II SÉRIE-A — NÚMERO 3

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viúvas (30,6%) e solteiras (15,8%) do que em pessoas casadas (9,2%).

Sabe-se que o isolamento social aumenta com a idade, mas embora as pessoas de mais idade possam estar

socialmente mais isoladas não significa que reportem sentirem-se mais sós.

A solidão não se reduz a um problema da população idosa, como é comum pensar-se. Ocorre em qualquer

idade, agravando-se em casos de doença prolongada, deficiência, abuso, problemas económicos ou

psicológicos.

Apesar de estar fortemente correlacionada com o avançar da idade (seja pelo acontecimento de situações

como a reforma profissional, a morte de pessoas próximas e de referência ou o surgimento de doenças

debilitantes), as evidências demonstram a existência de picos de solidão noutras faixas etárias, nomeadamente

na adolescência, variando em cada país e cultura.

A agência de notícias BBC elaborou o estudo BBC Loneliness Experiment, junto de três universidades

britânicas (Manchester, Exeter e Brunel) que abrangeu 55 mil participantes em todo o mundo, o qual revelou

que a solidão atinge 25% dos idosos com mais de 75 anos e 40% dos jovens de até 24 anos. Também o estudo

«Reflexos da COVID-19 na saúde mental de estudantes universitários», realizado em Portugal, demonstra que

a pandemia afetou a saúde mental dos estudantes, particularmente as mulheres, que se sentiram mais ansiosas

e depressivas com o confinamento.

Vários estudos remetem para a diferença entre sentir necessidade de estar só e sentimento de solidão,

considerando que esta pode ser fator perturbador de desenvolvimento psicológico saudável nos jovens,

principalmente numa fase em que muitos se afastam dos familiares para seguirem estudos universitários, outros

perdem grupos de pares de referência e ainda outros poderão manifestar maiores dificuldades de adaptação às

mudanças.

Não obstante este tipo de dados que vão surgindo, são necessários estudos aprofundados sobre a solidão

e seu impacto nos vários grupos sociais e etários. Tanto mais que este fenómeno é mais preocupante em

pessoas com maior fragilidade económico-social, como as que se encontram em risco ou em situação de

pobreza. Com efeito, estar desconectado dos outros, especialmente pelas desigualdades sociais e ausência de

oportunidades, intensifica o fenómeno da solidão.

São ainda considerados fatores de risco de isolamento social e de solidão a impossibilidade de realizar

atividades de lazer e convívio, a institucionalização em centros de dia, de reabilitação e de acolhimento, bem

como a redução do estado de saúde, a perda de mobilidade, a reduzida acessibilidade, a própria organização

urbanística e habitacional, os episódios de violência e maus tratos, as mudanças de casa, escola ou emprego

ou a própria situação de desemprego, entre tantos outros.

A solidão não se cinge às zonas mais isoladas do país, pelo contrário, por razões associadas às dinâmicas

cotidianas vividas nos contextos urbanos, a solidão está muito presente em muitas das vidas humanas nas

cidades.

Por outro lado, a solidão pode afetar, de forma muito violenta, a saúde física e mental de qualquer ser vivo.

Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a solidão já é apontada como uma epidemia, tanto pelo número de

pessoas que afeta, como pelo seu impacto nas suas vidas. Uma investigação apresentada na 125.ª Convenção

Anual da Associação Americana de Psicologia, em 2017, refere mesmo que «a solidão é um perigo iminente

para a saúde pública», avançando com afirmações de que a solidão aumenta o risco de morte prematura em

30% das pessoas, que pode ser tão prejudicial à saúde como fumar 15 cigarros por dia e que se revela um fator

de maior risco para a saúde do que a obesidade.

Um estudo recente1 procurou também investigar a dimensão da associação entre as deficientes relações

sociais e as doenças cardíacas, bem como com os acidentes vasculares cerebrais (as duas maiores causas de

morte nos países desenvolvidos, como é o caso de Portugal), tendo concluído que o isolamento social aumenta

o risco de doença cardíaca em 29% e de acidente vascular cerebral em 32%.

Diversos estudos têm demonstrado igualmente que a solidão agrava o risco de doença psicológica e física,

aumentando, nomeadamente, o risco de morte prematura, sendo já comparável a outros fatores de risco para a

saúde global.

1 Loneliness and social isolation as risk factors for coronary heart disease and stroke: systematic review and meta-analysis of longitudinal observational studies (https://heart.bmj.com/content/102/13/1009), Among Older Adults: A National Survey of Adults 45+ (https://www.aarp.org/research/topics/life/info-2014/loneliness_2010.html)