O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

18 DE MARÇO DE 2023

19

Os dados relativos ao Museu da Cidade – Extensão do Romantismo são os seguintes:

Visitantes Participantes

2019 28 879 5930

2020 9 255 1544

2021 5 012 1032

2022 12 953 3388

V – OPINIÃO DA RELATORA

Na polémica pública sobre a requalificação do Museu Romântico – agora Extensão do Romantismo –

sabemos qual foi o fósforo que propiciou o incêndio. Uma publicação na página de Facebook do Feira do Livro

do Porto em 2021 onde se lia: «Se conhecia o anterior Museu Romântico da Macieirinha, prometemos que

este novo espaço nada tem a ver com o local que outrora visitou. O espaço despiu-se dos adereços de casa

burguesa oitocentista e vestiu-se de contemporaneidade. Não acredita? Visite a exposição Quando a Terra

Voltar a Brilhar Verde para Ti, veja as relações criadas no seu interior e comprove isso mesmo, de terça a

domingo, com acesso livre».

A assumida prepotência do texto, uma certa arrogância de quem prometia um mundo novo num museu

«velho» por quem a cidade nutria um especial carinho e que persistia na memória coletiva, promoveu os

protestos que se seguiram. As redes sociais primeiro, os meios de comunicação social depois, ao lado dos

académicos, historiadores, peticionários, foram reclamando nos dias e semanas seguintes, os espaços de

diálogo com o município que não tinham existido previamente e requeriam a recuperação do espaço histórico

e expositivo e o ambiente decorativo oitocentista que tinha sido desmantelado.

Quem visitou a exposição de abertura do novo Pólo do Romantismo intitulada QUANDO A TERRA

VOLTAR A BRILHAR VERDE PARA TI, verificou que a casa museu que ilustrava a vida de uma casa

burguesa no Porto da época romântica onde tinha vivido o exilado Rei de Sardenha e Príncipe do Piemonte,

Carlos Alberto de Saboia, tinha sido descaracterizada, perdendo-se o espírito da época, o espírito do sítio, das

pessoas e da memória oitocentista, tendo-se transformado num espaço de exibição de arte contemporânea e

performática com muito pouco diálogo com as coleções históricas que sempre vestiram a casa.

Passou mais de um ano e o espaço expositivo do Pólo do Romantismo exibe agora a sua segunda

exposição temporária, METAMORFOSES – IMANÊNCIA VEGETAL, MINERAL E ANIMAL NO ESPAO

DOMÉSTICO ROMÂNTICO onde considero ser notório um esforço do município do Porto em encontrar um

ponto de equilíbrio entre a promoção das coleções que compõem o espólio do Museu da Cidade e as linhas

programáticas das curadorias, mas não é percetível que os portuenses tenham aderido às transformações

operadas. É certo que os públicos recuperados do período pandemia regressam ao Museu, mas sem dados

desagregados, não se sabe quantos deles são nacionais e muito menos o número dos portuenses que o

visitam.

O Museu Romântico sempre fez parte da memória coletiva da cidade, foi crescendo como espaço afetivo

de um período histórico e com ele fomos construindo narrativas identitárias, patrimoniais e históricas. Nada

tendo contra as leituras de cruzamento com a contemporaneidade, a lógica expositiva do antigo Museu do

Romantismo, podendo ser objetos de melhorias, era, no seu conjunto, indissociável da envolvente. Os

espaços idílicos e bucólicos dos jardins da Quinta da Macieirinha contribuem para a construção desse espaço

de fuga histórica. Uma descaracterização tão profunda como a que sucedeu, sem nenhum debate alargado

com a cidade, sem que tenham sido apresentadas razões ponderadas para esta transformação, sem uma

cuidada política comunicacional sobre as transformações previstas, levou a reações tão intempestivas quanto

previsíveis por parte dos munícipes.

Como espaço de apresentação e representação da cidade e dos seus habitantes, o Museu da Cidade- seja

ou não polinucleado – deve trabalhar os temas chave da sua história urbana patrimonial e identitária, de forma

que os munícipes se reconheçam na cidade que é sua e a possam também descobrir na sua diversidade.

Quando os documentos estratégicos da Unesco Habitat colocam no centro das políticas urbanas o Direito à

Cidade, na defesa da sua gestão participada, em que a promoção da cultura é vista como alavanca de coesão