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5 DE JANEIRO DE 2024

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sendo que muitas creches não têm sequer nutricionista no preparo das ementas.

Em grande parte das creches, as ementas mudaram pouco nas últimas décadas e baseiam-se numa oferta

de alimentos que já não está de acordo com as novas recomendações da OMS, European Society for Paediatric

Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) e DGS.

As refeições são pouco variadas, são pobres em vegetais (frequentemente só aparecem na sopa) e muitas

vezes os bebés comem pão ou bolacha várias vezes por dia.

Há ainda açúcar presente na alimentação de bebés com menos de dois anos numa base diária,

ocasionalmente em quantidades elevadas. Alguns exemplos desses produtos são:

- Papa Cerelac (33 g de açúcar por 100 g) (A);

- Iogurte de aromas (10 g por 100 g) (B);

- Bolacha Maria (14,8 g por 100 g) (C);

- Gelatina (14 g por 100 g) (D);

- Cereais de pequeno-almoço (24,7 g por 100 g) (E);

- Marmelada (60 g por 100 g) (F).

Além de produtos com açúcar adicionado, é comum ver nas ementas de creches produtos ultraprocessados

e com níveis elevados de sal e outros aditivos, tais como:

- Fiambre ou chourição (2,3 g de sal por 100 g) (G);

- Douradinhos (1,1 g por 100 g) (H);

- Salsichas (1,6 g por 100 g) (I);

- Creme vegetal (1,4 g por 100 g) (J);

- Bolachas de água e sal (1,9 g por 100 g) (K).

Os bebés portugueses fazem pelo menos 50 % das refeições em ambiente escolar. Para bebés com menos

de 12 meses, que ainda não introduziram o jantar, 100 % das refeições são feitas em ambiente escolar. A

alimentação nas creches tem por isso um peso muito grande no desenvolvimento de hábitos alimentares e na

saúde das crianças.

Como podemos esperar que bebés que não veem vegetais no prato, que comem papas e outros alimentos

cheios de açúcar numa base diária e que têm lanches tão pobres nutricionalmente (como já foi reconhecido pela

própria DGS) (10) venham posteriormente tornar-se adultos que seguem uma dieta saudável, quando não foram

esses os hábitos alimentares que lhes foram incutidos nos primeiros anos de vida?

Como podemos ter tantas creches, que são fiscalizadas, com ementas tão desatualizadas e tão pobres em

termos nutricionais?

Com os níveis de obesidade infantil a rondar os 12 % (e 30 % se falarmos de sobrepeso) (11), a alimentação

nas creches portuguesas é um assunto de saúde pública, que merece a atenção que lhe é devida.

É inaceitável que a legislação não tenha evoluído com as diretrizes e recomendações da OMS, DGS e

principais órgãos de saúde mundiais.

Considerando tudo o exposto, pedimos ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ao

Ministério da Saúde que seja criada uma legislação sobre alimentação nas creches com diretrizes claras que

incluam:

- Proibição de produtos com açúcar e sal adicionados nas ementas (incluindo lanches) e nos alimentos

vindos nas lancheiras dos berçários e creches portugueses (IPSS, creches privadas e amas);

- Obrigatoriedade de um nutricionista no desenvolvimento de ementas (incluindo lanches).

Fontes:

(1) Guia Alimentar da criança 0 aos 6 anos – DGS;

(2) Complementary Feeding – WHO;

(3) Added Sugars and Cardiovascular Disease Risk in Children: A Scientific Statement from the American

Heart Association;