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II SÉRIE-C — NÚMERO 16

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No entanto, algumas dessas pessoas provavelmente não admitirão, nem sequer perante si próprias, que a

diferença os incomoda ou mesmo que lhes causa aversão e lhes determina a reações hostis.

Como já alguém afirmou, o racismo é o crime perfeito – quem o comete acha sempre que a culpa é da vítima.

Relativamente a estes fenómenos não há uma solução ou a solução.

Existirão, ao invés, inúmeros ângulos que necessitam de ser abordados sendo que, entre estes, os mais

prementes se prendem com a desigualdade e com a exclusão.

Como intervir perante o medo da diferença?

Como agir e o que fazer para a diferença não se transmute em desigualdade?

Mais: como intervir na sociedade atual onde a coberto do anonimato potenciado pelas redes sociais floresce

o sentimento anti-imigrante e onde grande parte dos males do mundo é imputado a um outro que, por qualquer

razão, nos seja dissemelhante?

Creio que uma das chaves – claro está que integrada numa miríade de outras – será a da inclusão.

O receio, o medo e a hostilidade serão, creio, tanto menores, quanto mais o diferente nos seja próximo,

quanto mais convivermos, repartirmos, e estabelecermos cumplicidades com esses outros.

Essa inclusão apenas se alcançará se os que aparentemente não são iguais frequentarem as mesmas

creches, o mesmo ensino pré-escolar, as mesmas escolas, forem vizinhos ou colegas de trabalho. Se tiverem

os mesmos estímulos.

Esta será, creio, uma das vias que possibilitará que a diferença deixe de convulsionar ou inquietar e se

converta em normalidade. Essa normalidade poderá então criar a oportunidade para, fazendo minhas as

palavras do Papa Francisco, «viver com a cultura do outro» e, ao vivê-la, a vermos e sentirmos como natural.

Importa, todavia, que não tenhamos ilusões: a estrada que importa percorrer é imensa e, não raras vezes, o

caminho parece infinito. Não obstante, acredito, firmemente, que um dia virá que todos concordarão, sem

reserva, com Gabriel Garcia Marques: uma pessoa só tem direito de olhar outra de cima para baixo no momento

de a ajudar a levantar-se.

Temos de construir sobre bons valores partilhados e ver na diversidade, não uma ameaça, mas antes uma

riqueza: Portugal não merece, nem espera de nós, outra atitude.

Termino felicitando mais a primeira Comissão por ter decidido iniciar um debate esclarecido sobre questões

subalternizadas no pensamento e discurso institucionais. Nesta matéria o negacionismo, a persistência na

desvalorização do fenómeno conduz ao desastre e à radicalização de posições.

Muito obrigada”.

VII – Visitas

Os trabalhos do relatório integraram 10 visitas, passando pela Região Norte, Bragança, concelho selecionado

porque no estudo do IHRU sobre habitação das comunidades ciganas é o território identificado com mais

situações de habitação não clássica. Na Região Centro, selecionámos Coimbra porque tem uma experiência,

que é única no país, um Centro de Estágio Habitacional para a Comunidade Cigana, de transição entre a

habitação não clássica e a habitação social. Na Região Sul, a visita realizou-se em Moura, porque tem famílias

ciganas a viver em diferentes contextos habitacionais e porque se estima (porque não há dados oficiais) que é

o concelho do país com maior percentagem de população das comunidades ciganas em relação à população

total.

As restantes visitas realizaram-se na Área Metropolitana de Lisboa, com visitas a bairros historicamente

relacionados com a comunidade afrodescendente, nas margens norte e sul do Tejo – Bairro do Alto da Cova da

Moura na Amadora; Bairro Terraços da Ponte antiga Quinta do Mocho em Loures; Bairro da Bela Vista e Quinta

da Paciência em Setúbal, Vale da Amoreira na Moita e uma Associação de Mulheres Ciganas, AMUCIP, no

Seixal.

Estas visitas foram sempre organizadas através de instituições da sociedade civil de auto representantes de

afrodescendentes e das comunidades ciganas ou outras Associações que desenvolvem trabalho com estas

comunidades, sendo sempre comunicadas as visitas aos Municípios e Freguesias para que acompanhassem a

deslocação.