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26 DE JULHO DE 2019

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A verdade é que, confesso, não gosto de formar juízos com base em perceções. Confio em factos e não

simpatizo com presunções.

Também por esta razão, me regozijo pela promoção e realização do trabalho que originou o relatório hoje

aqui se apresentado e, mais ainda por a iniciativa partir dos eleitos do povo.

Sobre estas temáticas relacionadas com o racismo, a xenofobia e a discriminação étnico-racial tende a recair

um enorme manto de silêncio.

Tanto quanto me é dado a conhecer, são realizados alguns estudos sectoriais, mas não se encontra

disponível informação ampla e abrangente, suscetível de ser cruzadas e trabalhada, com base na qual se possa

extrair conclusões seguras sobre a realidade.

Perguntas tão simples como as de saber quantos são os membros destas comunidades; que idades têm;

quantos nasceram em Portugal; quantos aos que não nasceram, há quantos anos aqui residem, onde e como

vivem, quanto auferem, que graus de escolaridade detêm, que acesso a empregos, a habitação, a cuidados de

saúde ou a bens e serviços lhes são negados?

Estas questões não têm hoje resposta.

No entanto, se não conhecemos as várias vertentes do problema, nem tão pouco a sua dimensão, como é

que poderemos atuar de forma integrada e eficaz?

Parafraseando James Baldwin – uma das vozes mais influentes do movimento dos direitos civis, nos Estados

Unidos, “nem tudo o que enfrentamos pode ser mudado. Mas nada pode ser mudado enquanto não for

enfrentado. O confronto nem sempre traz uma solução para o problema, mas enquanto não enfrentarmos o

problema, não teremos solução”.

Durante décadas, apregoar a inexistência de fenómenos racistas na sociedade portuguesa tornou-se um

quase lugar-comum.

A repetição incessante da ideia não teve, contudo, a virtualidade de a converter em verdadeira.

A maior expressão de preconceito racial consiste, precisamente, na negação deste preconceito.

Porque, como escreveu Sofia de Mello Breyner, – «Vemos, ouvimos e lemos, Não podemos ignorar».

Falando na primeira pessoa, eu acrescentaria que se para além de vermos, ouvirmos e lermos, também

sentimos - essa ideia da inexistência de fenómenos racistas na sociedade portuguesa foi, paulatinamente,

perdendo solidez.

Um número não despiciendo de pessoas passou então a acreditar, na sequência de uma corrente de

pensamento que já emerge do século XIX, que a escola, o conhecimento e a cultura se encarregariam de

resolver a questão.

Bastaria esperar pelo decurso do tempo e pela emergência das novas gerações que, progressivamente, mais

escolarizadas teriam, necessariamente, uma abordagem e uma estar diferenciado e iminentemente inclusivo.

Claro que importa acreditar na educação e na escolarização, mas não há evidência de que essa seja, a

solução para os problemas do racismo e da xenofobia nas nossas sociedades.

Ninguém duvida que hoje, não só em Portugal, mas também na Europa, a população, principalmente a mais

jovem, alcançou um grau de escolarização muito superior relativamente às gerações que a precederam.

Mas esse facto determinou que tivesse diminuído, por exemplo, o discurso de ódio ou a reação perante a

diferença racial ou étnica?

Diria que não.

Pelo contrário, parece ter-se refundado, em pleno século XXI, um discurso de ódio ao diferente, com óbvio

recrudescimento das sociedades xenófobas e racistas.

É esta constatação que conduz à conclusão de que, relativamente a estas temáticas, bem como em relação

a outras, infelizmente a educação, o conhecimento e a cultura não consubstanciam a magia do Santo Graal.

Um grau de escolaridade mais elevado poderá tornar as reações mais subtis, menos primárias ou grosseiras,

mas não tem a faculdade de as eliminar.

Quantas e quantas vezes ouvimos, proferida pelas pessoas mais diversas e diferenciadas: não sou racista,

mas, sendo certo que após a adversativa se segue um cometário que, seguramente, exemplifica ou demonstra

um qualquer estereótipo negativo que marcará a diferença entre “nós e os outros”.

Inúmeras pessoas afirmarão, sem hesitar – que o racismo é estúpido.