9 DE-ABRIL DE 1990 293
© Sr. Presidente: — Perguntava se algum dos Sts: Deputados se opde a que suspendamos os traba- lhos. da Comissao, entre :as 16 € as 17 horas. ;
Pausa.
Como nao ha objecgoes, nds suspenderemos os nos-
sos trabalhos entre as 16 e as 17 horas. Presumo que
qg reuniao sera na Assembleia da Republica. Pedia ao
sr. Deputado Octavio Teixeira o favor de as 17 horas
dizer a0 Governo que tem mais que fazer e que a Co-
missao esta a sua espera. Isto para que nds possamos
recomecar os trabalhos as 17 horas.
Tem a palavra o Sr. Deputado Vieira de Castro.
O Sr. Vieira de Castro (PSD): — O Sr. Presidente
eeu proprio ja tivemos oportunidade de na Comissao
Permanente da Assembleia da Republica, que reuniu
na semana passada, nos pronunciarmos sobre as ulti-
mas noticias que surgiram na comunicac4o social a pro-
pésito deste inquérito. Por esse motivo nao me vou
alongar. Limitar-me-ei a condenar liminarmente essas
fugas de informagao, que a meu ver nao tém nenhuma
espécie de utilidade, tanto mais que a Comissao apro-
you por unanimidade uma proposta no sentido de que
todo 0 processo seja passivel de ser consultado. Assim,
nao vejo que interesse possa ter adiantar supostas con-
clusdes do inquérito. Alias, a titulo de mera curiosi-
dade e para informagao de alguns Srs. Deputados que
possam nao ter lido, 0 semandario a que o Sr. Presi-
dente se referiu dizia ha tempos que 0 Grupo Parla-
mentar do Partido Social-Democrata iria ter um grande
problema porque «Vieira de Castro, presidente da Co-
missio de Inquérito, vai deixar de ser deputado e ja
tem um relatério feito, a revelia de todos os seus cole-
gas da Comissao». Nao vale a pena comentar mais.
Como VV. Ex.*® bem sabem, nunca fui presidente desta
Comissao, portanto, logo’ aia grosseria da falsidade
da noticia. Por outro lado, nunca tive nenhum relato-
rio feito, nem sequer nenhum rascunho. A unica coisa
que tenho sao sublinhados nos documentos de que dis-
ponho. :
No que concerne ao Tribunal Constitucional, ainda
nao foi distribuido o acérdao. O pedido que a Comis-
sio fez nao ira ser satisfeito. Se os Srs. Deputados
membros da Comissao tiverem nisso alguma curiosi-
dade, eu poderei indicar quais eram os tais meios de
quase-liquidez que existiam em Dezembro do 1985.
Acredito que nao tenham qualquer interesse. Fiz ape-
nas essa referencia porque disponho desses elementos
a titulo particular, ja que isso me foi facultado pelo
Sr. Ministro. Se porventura os Srs. Deputados enten-
derem que tem algum interesse para a Comissao eu re-
velar esse numero, ndo terei mais do que descer a ¢s-
cada e ir A minha gaveta busca-los aqui o direi aos
Sts. Deputados, suprindo em certa medida a auséncia
da resposta do Tribunal Constitucional.
O Sr. Presidente: Tem a palavra 0 Sr. Deputado
Carlos Candal.
O SrCarlos Candal (PS): — Sr. Presidente, ja fo-
Tam postos aqui alguns problemas. ss
Quanto a essa noticia sobre 0 acordao do Tribunal
Constitucional, proponho-me fazer varias considera-
¢oes.
Em primeiro lugar; creio que a Comiss4o ou, se ela
nao tiver legitimidade para isso, OS lideres dos diver-
SOs grupos parlamentares, Ou © Sr. Presidente, deve
formalizar um protesto.em»relagdo ao Tribunal Cons-
titucional (TC). De facto, penso que nao ha confiden-
cialidade. nos. acérdaos,.do. TC. Nao,conhe¢o.o regi-
mento do Tribunal Constitucional em pormenor, mas
de qualquer maneira haaqui pelo menos um quebra
da praxe minima, qual seja a.de em primeira mao. ser
informado.o directamente, interessado.
A segunda consideragao,é de ordem politica. Penso
que no tera. dignidade para ser feita em plenario, mas
entendo também. que nado pode deixar de ser feita.
E acerca do precedente. que se.abre em matéria de o
TC facultar as. declaracdes de rendimentos. Sou fron-
talmente contra a Lei do Patrimonio e Rendimentos.
Acho que nao passa. de um simulacro dos rendimentos
e do patriménio dos politicos, sem utilidade absoluta-
mente nenhuma, € com o inconveniente de se virar con-
tra o prestigio das instituigdes. Na opiniao publica que
se esquece de apresentar a relacdo... Devo dizer que
ja defendi pelo menos 25 faltosos, e gracas a um pre-
ceito —e nao é imodéstia — que escamoteadamente foi
inserido na ultima lei da amnistia por mim proprio nao
tem havido muita gente a ser julgada. Realmente, se
nao existisse esse preceito que amnistia a negligéncia,
todos os dias hayeria politicos a responder criminal-
mente em querela, 0 que € desprestigiante. Poe-se aqui
um problema de critica a essa lei, que precisa ou de
ser revogada, pura e simplesmente, ou de ser reformu-
lada e substituida por outra. Pde-se um problema preo-
cupante sobre um excesso de secretismo e confidencia-
lidade que o TC inaugura com este indeferimento.
De facto, se uma comissao de inquérito, e no oficio
estavam os elementos, em meu entender, necessarios €
suficientes para ser despachado favoravelmente, nao
tem acesso as declarac6es, entao pergunta-se quem é
que tem. Quem € ‘que, com mais estatuto, tem esse
acesso? Esse € um problema complicado.
Além disso, como nao ha recurso: da decisao do TC
e nem podemos propriamente puxar as orelhas indivi-
dualmente aos conselheiros, e nao me parece que seja
de bom tom vir a publico fazer essa critica, bem como
nao.me parece legitimo que se oficie ao Tribunal Cons-
titucional, o problema € politico e tem de ser aflorado.
A outra questo ainda:sobre isto tem a yer com al-
guma falta de cortesia e de rigor que foi posta no con-
siderando de que 0 requerimento foi feito de molde a
ser indeferido. E evidente que 0 requerimento foi feito
como. todos os outros. Dir-se-a: podia ter sido com-
plementado. Bem agora que se sabe do. indeferimento,
se de antemao isso se calculasse, era talvez possivel o
requerimento ter tido mais molho, passo o calao. S6
que também nao percebo como nem porqué. Porqué
este requerimento?
Portanto, solidarizo-me com a posicao do Sr. Presi-
dente, embora nao saia maculado por isso. Nao penso
que haja problema de maior.
Esta é a primeira comissao de inquérito a que per-
tenco. Ha aqui especialistas de comissdes de inquérito.
Devo dizer que tiro uma conclusao e um ensinamento
do decurso dos trabalhos e das inconfidéncias. Esta-
mos no fim do funcionamento da Comissao, mas tal-
vez ainda estejamos a tempo de fazer algo. Assim, en-
tendo e proponho que se faca, por confianca no
presidente, ou muito sumaria e rapidamente no fim da
reunido, por consenso, um texto informativo que
aborte, sem quebrar a confidencialidade dos trabalhos,
nado-as especulacdes de. pormenor ou as noticias de
caixa mas pelo menos 0 erro grosseiro. Desde logo,