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14 DE NOVEMBRO DE 2019

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Outra consequência do fogo resulta no aumento da hidrofobicidade (repelência à água) do solo, processo

que se intensifica continuamente até aos 250º C, com efeitos diretos na diminuição da infiltração da água,

resultado da acumulação de cinzas, volatilização dos compostos orgânicos e posterior condensação nas

partículas do solo. Não obstante, acima dos 350º C pode haver uma reversão e destruição das substâncias

hidrofóbicas. No entanto, o carbono e o azoto tendem a ser completamente volatilizados a temperaturas

superiores a 550º C (Pereira et al., 2018). Outros elementos, como cálcio (Ca) e magnésio (Mg), necessitam

de temperaturas mais altas para serem volatilizados, acabando por ser exportados através das cinzas.

Acresce que o mencionado aumento do pH e da condutividade favorecem também a solubilidade de catiões

como Ca, Mg, sódio (Na) e potássio (K). Saliente-se que, mesmo para temperaturas superiores a 80º C,

verifica-se já uma alteração profunda na flora microbiana do solo, com o seu desaparecimento completo acima

dos 150º C (Mataix-Solera et al., 2008).

Muito preocupante, e ainda pouco estudada, é também a contaminação proveniente de substâncias

químicas que integram os retardantes aplicados no combate aos incêndios (como os produtos

organofosforados), ou resultantes da alteração da matéria orgânica, gerando a produção de compostos

aromáticos policíclicos (PAH) quando a temperatura é muito elevada (Campo et al., 2017) ou de compostos de

difenil-brómio (PBDE), podendo exercer grande toxicidade e um efeito de bioacumulação.

A erosão hídrica é causada pelo efeito splash (mobilização das partículas de com solo com a energia

cinética das gotas de água) e pelo escoamento superficial, variando de acordo com a intensidade e quantidade

da precipitação, bem como do comprimento da encosta e rugosidade superficial, aspetos potenciados pela

mencionada impermeabilização das camadas superficiais. As alterações hidrológicas que podem ocasionar

cheias intensas e perdas de solo são muto variáveis de acordo com a natureza da combustão. Acresce que a

estrutura, textura e porosidade do solo variam também com as condições térmicas verificadas à superfície

durante o fogo. Por exemplo, os incêndios muito intensos podem levar à fusão das argilas e ao aumento

proporcional do limo e areia.

As consequências da erosão são, portanto, difíceis de avaliar até porque, com altas temperaturas, pode

ocorrer a recristalização de alguns minerais, essencialmente hidróxidos de ferro (Fe) e alumínio (Al), o que

sendo positivo, por aumentar a estabilidade do solo, traduz-se em baixos teores de matéria orgânica, afetando

a regeneração da vegetação (Mataix-Solera et al., 2011). Por sua vez, com a ausência de vegetação em

declives moderados a elevados existe uma elevada suscetibilidade para a formação de ravinas, aumentando a

escorrência em detrimento da infiltração (Martins Pedrosa, 2013). Aliás, como mostram Baptista et al. (2013),

após o incêndio a declividade passa a ser o fator condicionante da perda de solo, o que acontece

especialmente em solos incipientes. Por sua vez, os impactes da erosão torrencial levam ao transporte de

sedimentos para as linhas de água, com o concomitante assoreamento dos rios, diminuindo a sua capacidade

de vazão, incrementando cheias rápidas e potenciando ainda a erosão fluvial (Fernandes, et al., 2013;

Pacheco et al., 2015).

A maior parte dos estudos realizados em zonas de influência mediterrânica mostram que os 1.º e 2.º anos

após o fogo são os períodos mais críticos no aumento do escoamento e perda de solo (Cerdá, 1998), bem

como de azoto e fósforo (Hosseini et al., 2017), com efeitos cumulativos à medida que aumenta a recorrência

do fogo, podendo conduzir à eutrofização das linhas de água. Se bem que haja uma resiliência de curto prazo

ao fogo, este período de recuperação pode ser posto em causa em situações de seca, dado que esta atrasa a

recuperação da cobertura vegetal (Mayor et al., 2007). Isto é, segundo estes autores as perdas de solo em

sistemas mediterrânicos são substanciais, não somente quando ocorrem picos de precipitação poucos meses

a seguir ao fogo, mas também quando estes surgem vários anos após, especialmente quando, em

consequência de fenómenos de seca, a proteção conferida pela vegetação é escassa.

3. TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE ESTABILIZAÇÃO DE EMERGÊNCIA

Após o fogo, a intervenção a realizar no solo deve localizar-se nas vertentes mais ou menos inclinadas e

nos canais de escoamento, segundo Vallejo e Alloza (2018) que analisaram a aplicação destas medidas na

Península Ibérica. Os procedimentos de correção torrencial após os fogos florestais, com muitas décadas de

aplicação em Portugal, foram profusamente utilizados na região centro do país, complementados com a