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14 DE NOVEMBRO DE 2019

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granular permite, de algum modo, ultrapassar este obstáculo, melhorando-se ainda a sua dispersão

recorrendo a eletrólitos como gesso. Na prática, temos uma alteração das cargas electroestáticas devido à

adsorção nas partículas de argila de cadeias dos polímeros resultantes dos PAM, devido aos seus grupos

funcionais negativos, com os minerais de argila positivamente carregados. Tal adsorção permite, portanto, a

formação de agregados de solo mais estáveis através de pontes entre as moléculas funcionais de PAM (de

cargas negativas) e os catiões dos minerais de argila, especialmente Ca2+.

Os custos pouco elevados destes produtos, especialmente na forma granular, tornam o seu uso no futuro

prometedor, embora o seu efeito não seja de modo algum imediato dado que só ao fim de algum tempo após a

aplicação se deteta o aumento da coesão das partículas do solo.

4. EXTRAÇÃO E ORDENAMENTO FLORESTAL PÓS-FOGO

Um aspeto que não tem sido suficientemente debatido, pelo que chamamos a devida atenção para o

mesmo, reside na extração do material lenhoso após o fogo, nomeadamente a sua extração completa e

subsequente toragem no local, com a concomitante queima ou estilhaçamento dos resíduos vegetais.

Salienta-se que, de acordo com o inquérito já mencionado de Sousa (2011), num número expressivo dos

casos (78%), as árvores são cortadas na sua totalidade depois de um incêndio. Nestes casos, segundo as

respostas (50%), tal acontece entre os três e os seis meses após o fogo, através de corte raso seguido de

extração e transporte. Na maioria dos casos (60%) os agentes florestais indicaram que foram tomadas

precauções para preservar a regeneração natural pós-fogo, mantendo-se as árvores jovens.

Mas até que ponto a extração dos restos vegetais não representa realmente uma perturbação adicional,

reduzindo a biodiversidade e a capacidade de recuperação? Beschta et al. (2004) referem que os restos

vegetais ajudam na recuperação da vegetação e na retenção do solo, servem de armadilha para a deposição

de sementes e potenciam associações mutualistas planta-animal. Acresce que, tal como Leverkus et al. (2014)

e Marañón-Jiménez (2013) evidenciaram, a extração homogeneiza a vegetação, mas também a avifauna e

mamofauna, tendo os mesmos autores concluído que, mesmo em zonas mediterrânicas, a madeira queimada

é um componente útil do ecossistema, favorecendo a regeneração natural de curto e médio prazo. As razões

prendem-se com o facto destes resíduos atenuarem a indisponibilidade de nutrientes e o incremento do stress

hídrico, aumentando a viabilidade das sementes presentes.

Na verdade, numerosos estudos evidenciam que a presença de resíduos queimados incrementa a

regeneração, quer pelo microclima criado (ex. redução da radiação solar e da perda de humidade), quer pelo

fornecimento de nutrientes resultantes da decomposição da matéria orgânica particulada, além de que o abate

e remoção da madeira queimada podem aumentar a erosão e a compactação do solo (Shakesby et al., 1996;

Castro et al., 2011). Estes autores especificam que, no caso do pinheiro bravo, é muito importante, para a

proteção do solo, a permanência duma manta de agulhas, pelo que a extração do material lenhoso não

deveria ser realizada imediatamente após o fogo (no mínimo seria desejável um período de retenção entre 12-

15 semanas); salientam também que os ramos e troncos queimados permitem a presença de um banco de

sementes considerável, e a concomitante redução do stress hídrico, diminuição da foto-inibição e fornecimento

de nutrientes, aspetos que no conjunto se traduzem por um fenómeno de facilitação de posterior colonização

vegetal, um mecanismo de grande importância ecológica.

Conclui-se, em termos de ordenamento florestal, que estes materiais residuais devem ser usados no

sentido de propiciar a recuperação do ecossistema (Brewer, 2008; Brooker et al., 2008), sendo relevante, por

exemplo, a permanência da casca do eucalipto nomeadamente sobre a forma de mulching (Prats, 2012),

defendendo Shakesby et al. (1996) que, para esta espécie, a extração do material lenhoso pode ser realizada

mais cedo, comparativamente ao pinheiro bravo. Paralelamente, outros estudos em zonas mediterrânicas

(Siles et al., 2010) demonstraram que os materiais lenhosos ardidos, em conjunto com a presença de espécies

arbustivas incubadoras, as quais desempenham uma função de proteção (pelo que a completa roça de mato

pode ser indesejável), evitam o consumo por herbívoros (ex. caprinos), que é muito mais intenso na ausência

de qualquer forma de cobertura vegetal. Aliás, a própria densidade de germinação das principais espécies

arbustivas (p. ex. Erica spp. e Calluna vulgaris), podem facilitar a colonização por espécies florestais, mas tal

depende da severidade do fogo, com aumentos significativos para temperaturas de fogo mais baixas, mas