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II SÉRIE-E — NÚMERO 4

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estabilização das encostas e das bacias de receção. Os açudes utilizavam frequentemente materiais de

alvenaria argamassada, mas houve também recurso a gabiões, alvenaria de pedra solta, alvenaria mista,

betão armado e, mais recentemente, laje (Fernandes et al., 2013). Devido aos elevados custos e, também, ao

seu impacte visual, estas estruturas nos fluxos de escoamento têm vindo a ser substituídas por técnicas de

Engenharia Natural (troncos, faxinas, empacotamentos, enrocamentos vegetados, etc.).

Nas encostas a resistência ao escoamento tem sido feita essencialmente com barreiras de troncos e

faxinas. A monitorização realizada revela uma nítida eficácia na retenção de matéria orgânica e sedimentos,

no curto prazo, mas é escassa a informação para períodos mais dilatados (González-Romero et al., 2018).

Trabalhos como os de Badía et al. (2015) verificaram que, mesmo para barreiras de troncos, a capacidade de

retenção mantinha-se ativa nos primeiros quatro anos após instalação e, de modo mais significativo, a

eficiência de retenção aumentava em zonas áridas. Esta capacidade de armazenamento pode ainda ser

aumentada combinando bacias de retenção em simultâneo com açudes de tronco, designados vulgarmente

como LDD: log debris dam (Fox, 2011).

Existe, na verdade, um largo universo de técnicas disponíveis para encostas. Coelho et al. (2010)

identificaram mesmo um total de 27 técnicas distintas adaptadas ao pós-fogo, sendo as mais correntes o

mulch, hidromulch, cordões de mulch, sementeira e hidrosementeira, barreiras (troncos, tubos de nylon

revestidos de palha ou geomantas), mobilização do solo, como lavoura e escarificação, terraceamento,

barreiras transversais em canais (fardos de palha, troncos, blocos/enrocamento, sacos de areia), além de

múltiplos processos para proteção dos caminhos florestais.

Um óbice à aplicação de muitas destas técnicas reside nos seus elevados custos. Por isso, Bento-

Gonçalves et al. (2013) testaram processos de baixo custo, como coberturas de palha e caruma, que

apresentaram também bons resultados, embora a sua eficácia diminua após o 1.º ano com a decomposição

dos materiais. A aplicação de mulch tira partido do material orgânico particulado existente, sendo, portanto, um

processo de baixo custo, mas não tem passado na maioria das vezes de aplicações em projetos

demonstrativos. A utilização de mulch de detritos florestais, particularmente de cascas de eucalipto trituradas,

obteve resultados muito interessantes em áreas ardidas da região centro, mas o hidromulch, que inclui fibras

orgânicas projetadas e ainda sementes de leguminosas e gramíneas, obteve resultados superiores no controle

da erosão (Prats et al, 2013), embora com custos superiores. A aplicação extensiva de misturas de sementes

de gramíneas e leguminosas constitui, igualmente, um dos processos mais difundidos (Barreiro et al., 2013),

procedimento que ultrapassou já, mesmo na Península Ibérica, a mera fase experimental.

Em Espanha, e com particular incidência na Galiza, especialmente após os fogos de 2006 em que em 12

dias terão ardido cerca de 75 000 ha (Carballas et al., 2009), efetuam-se regularmente atividades de

estabilização de emergência, analisadas criticamente por Díaz-Raviña et al. (2012). Naquele país tem-se

recorrido com frequência a hidrossementeiras extensivas, complementadas ou não por hidromulch, por vezes

com recurso a meios aéreos, no caso da dispersão simultânea de sementes e de mulch/palha, prática que

entre nós tem ainda uma expressão residual. Por exemplo, foram realizadas sementeiras de gramíneas e

leguminosas em Mangualde em 2017 e em Monchique-Silves, em 2019. Todavia, estes trabalhos foram

executados por via aérea, numa área reduzida e muitos meses após o incêndio. Experiências conduzidas por

Vázquez et al. (2018) evidenciaram resultados muito mais interessantes, no caso pela aplicação extensiva de

mulching comparativamente à mera sementeira, além duma melhoria a mais longo prazo nas propriedades do

solo.

Têm também sido testadas poliacrilamidas (PAM), polímeros sintéticos de alto poder coesivo (na prática

agentes floculantes) que melhoram as propriedades físicas do solo, embora tenham sido realçados alguns

efeitos contraditórios da sua aplicação em áreas ardidas. Em termos experimentais, mais recentemente, têm-

se aplicado poliacrilamidas aniónicas granulares, com resultados prometedores na proteção do solo no pós-

fogo (Inbar et al., 2015). Estes autores verificaram que inicialmente se produzia um aumento da viscosidade

dos escoamentos superficiais e da solução do solo, ao mesmo tempo que se dava a estabilização dos

agregados quando o PAM ficava adsorvido nas partículas de solo. Vários tipos de polímeros têm sido

aplicados com sucesso, como os polissacáridos e as poliacrilamidas lineares, sendo realmente as PAM

aniónicas, de alto peso molecular, as que demonstraram uma capacidade superior (Sojka et al., 2007). Um dos

problemas na sua aplicação resulta da difícil dissolução do produto, precisamente devido à sua viscosidade

elevada, pelo que é necessário o recurso a grandes quantidades de água. Assim, a aplicação na forma