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facto, se consiga fazer alguma coisa que seja de proveito para a produção ligada à transformação?
Falou-me da dificuldade em encontrar organizações de produtores que criem a massa crítica que lhes desperte a necessidade da ciência. É que, como lhe disse no outro dia em tom jocoso, podem "fazer-se" milhares de doutores, mas se não houver uma massa crítica que acompanhe o seu trabalho dos níveis superiores até à base, então, tal como aconteceu no século XVI, em que havia centenas de bolseiros em Portugal, será um esforço completamente perdido.
É que se, por um lado, as nossas crianças e os nossos adolescentes e, por outro, os nossos produtores do interior não respeitarem o esforço dos que, quer queiramos quer não, vivem numa turris eburneus, a mentalidade - e é isso que falta e não dinheiro - que é necessária para que a ciência surta os seus efeitos, não terá o sucesso que o Sr. Ministro, possivelmente, até merecia que tivesse, pois sei que tem boa vontade para resolver este problema.
Portanto, dei-lhe um exemplo, fiz um comentário, repetindo um pouco o que tinha dito de outra maneira, mas gostava de uma resposta.
Sr. Ministro, o que vai fazer também, por exemplo, em relação ao mar? Temos dois barcos de oceanografia, um primeiro chamado Noruega, que foi oferecido pela Noruega, não sei se o meu amigo se recorda, e, agora, um outro. Entretanto, o que sabemos sobre a nossa costa com certeza? O que sei sobre os estuários é assustador e digo-o porque presidi a alguns júris de doutoramento em que a tese era sobre estuários, nomeadamente sobre o estuário do Sado. De facto, o que está a passar-se é preocupante porque, sem que esses viveiros e esses sapais sejam protegidos, é evidente que nunca mais vamos ter peixe na costa, já para não falar das artes ilegais.
Coloquei estas minhas preocupações mais sob o ponto de vista científico. Respeito a ciência fundamental. Julgo que Portugal não pode "perder a mão" na ciência fundamental. No entanto, no essencial, do que precisamos é de uma investigação ligada ao desenvolvimento em que, de facto, os resultados sejam avaliados. Precisamos que se crie a massa crítica, através dos ensinos médio, politécnico e universitário e, mesmo, para quem não tenha ensino, por forma a que as pessoas reconheçam essa necessidade, porque, depois, há um efeito de arrastamento, para que o esforço que o Sr. Ministro está a fazer venha a ter sucesso.

A Sr.ª Presidente: - Tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Luísa Mesquita.

A Sr.ª Luísa Mesquita (PCP): - Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, não queria tornar a colocar as questões que já suscitámos em sede da discussão na generalidade, mas, de facto, partindo do pressuposto de que todas as instituições públicas de investigação e ciência são o pilar supremo do desenvolvimento tecnológico no nosso país - e esta é a nossa leitura e penso que também a do Sr. Ministro -, para nós, continuam a ser preocupantes as verbas previstas em termos de Orçamento do Estado para todos estes laboratórios, todas estas instituições.
O Sr. Ministro dir-me-á "mas o aumento é visível". É verdade! Neste mundo de globalização, globalizando os números tal como se globalizam as economias e as leituras políticas, de facto, há alguns acréscimos. Mas a questão que se põe é a de que, "engordando" estatísticas, muitas vezes diminuem-se actos e acções pragmáticos necessários à sobrevivência de elementos que contribuem para as estatísticas globalizadas. É assim que, em nossa opinião, o Orçamento do Estado "veste" a política, quer na área do PIDDAC quer na área do funcionamento, dos chamados laboratórios de Estado.
O Sr. Ministro sabe que foi com alguma expectativa que entendemos o processo, desencadeado pelo seu Ministério, de avaliação destas instituições, que, em nossa opinião, instituições já o seriam pouco, moribundas seriam quase na sua totalidade, e havia que tomar medidas para que não pudéssemos falar da ciência dos outros sem possuirmos já a nossa própria ciência e o nosso próprio processo de investigação. Daí que o que foi feito na anterior legislatura, no sentido da avaliação, do encontro dos diagnósticos e das medidas políticas, de natureza económica e não só legislativa, que pudessem dar vida a estes laboratórios, foi por nós entendido como extremamente positivo.
Contudo, diagnósticos feitos, algumas medidas tomadas, para nós, a "radiografia" ainda é francamente preocupante. É preocupante no que tem que ver com os recursos humanos, no que tem que ver o estado de degradação de alguns destes laboratórios, preocupante, também, no que tem que ver com a ainda frágil implementação de algumas das medidas de natureza legislativa que foram tomadas na anterior legislatura. Aliás, o Sr. Ministro entenderá que estamos perfeitamente à vontade para dizer isto porque, inclusivamente, procedemos à apreciação parlamentar de algumas dessas medidas, tentando incutir nessa sede algumas das nossas propostas que considerávamos mais vantajosas para o País e para esses laboratórios do Estado.
Mesmo assim, consideramos que essas medidas são as que existem, são lei, têm de ser implementadas e estes organismos têm de contar com órgãos capazes de as dinamizar e de promover o desenvolvimento económico e também científico do País.
Nesse sentido, Sr. Ministro, gostaria que particularizasse, não que me respondesse o que já ouvi na discussão na generalidade, em Plenário e na Comissão, que foi que as verbas aumentam na sua globalidade, mas, sim, que me respondesse relativamente aos laboratórios de Estado e vou dar-lhe dois ou três exemplos.
Na audição parlamentar que fizemos, o Sr. Presidente do Instituto Hidrológico disse, com toda a clareza, que se "conflitua" - e é esse o termo que ele utiliza - com o mesmo Orçamento do Estado há seis anos.
Quanto ao Instituto de Investigação Científica e Tropical, visitei-o, Sr. Ministro, e foi degradante o que vi. Concretamente, visitei o Centro de Botânica daquele Instituto, centro este que, mesmo no estado em que está, é considerado um dos melhores do mundo e tem o maior e o mais diversificado herbário do mundo, em opinião dos investigadores que lá trabalham - não em minha própria opinião, pois não estou em condições de afirmá-lo.
Ora, o que vi é perfeitamente "medievalesco". Na verdade, quando perguntei se, porventura, tinham algum sistema de alarme e contra incêndio que, em caso de perigo, pudesse salvaguardar todo o material ali existente, responderam-me: "não, não temos desde 1996; continuamos a não ter no ano 2000, porque precisamos de 4000 contos para encher os extintores contra incêndio que nos permitam resolver a situação em tal caso. Sistema de alarme não temos, porque tivemos um hipotético curto-circuito em 1996 e, depois disso, nunca mais tivemos disponível uma verba de 4000 contos para resolver esta situação".