O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

 

Recordo-me que visitei uma zona no 1.º andar deste mesmo Centro de Botânica e os investigadores que me acompanharam na visita solicitaram-me que circulasse com algum cuidado nos "subúrbios" do centro da sala para evitar que, devido ao peso das pessoas que compunham a comitiva e ao peso das estantes ali colocadas, não caíssemos no rés-do-chão... Esta era a realidade na anterior legislatura e continua a ser a realidade em 2000.
Assim, pergunto-lhe, Sr. Ministro: as verbas orçamentadas, quer em termos de PIDDAC quer em termos de orçamento de funcionamento, vão responder minimamente às necessidades mais trágicas vividas por laboratórios como este?
É que, na audição parlamentar que efectuámos, foi claramente dito pelos investigadores presentes, quer fossem presidentes dos institutos quer presidentes dos conselhos científicos, que a sua vertente fundamental, a da investigação, é, neste momento, uma vertente de segunda oportunidade, porque o mais importante para eles era a prestação de serviços para poderem sobreviver.
Recordo uma notícia, que tenho comigo, em que se diz que "o Instituto de Meteorologia e Geofísica vende a investigadores dados que recolhe com fundos públicos" e, mais adiante, refere que "climatologistas queixam-se de falta de apoio". Assistimos, pois, ao que é perfeitamente degradante para instituições públicas: um instituto público vende os seus serviços a uma universidade para que esta investigue na área da climatologia, mas a preços de tal modo exorbitantes que os investigadores universitários não podem trabalhar devido ao que é preciso pagar.
Tenho comigo a notícia, repito, e, francamente, espero que o Sr. Ministro me responda que há nela algum exagero e alguma hipérbole, que estamos perante uma falsa questão, que não é a realidade, que os investigadores universitários não têm de pagar ao Instituto de Meteorologia e Geofísica os dados necessários para poderem investigar a fim de dar ao País o que, hoje, é um dado fundamental para a agricultura e para a nossa sobrevivência diária, num momento em que a vertente da climatologia é fundamental, também, para, de algum modo, colmatar a nossa incúria para que a nossa sobrevivência não possa estar à maré da natureza mas, antes, à maré da ciência e da tecnologia no século XXI.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado David Justino.

O Sr. David Justino (PSD): - Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, antes de mais, os meus cumprimentos.
Desejo pegar em três ou quatro pontos, parte dos quais relacionados com as propostas de lei de Orçamento do Estado para 2000 e as Grandes Opções do Plano, e também, com a intervenção que o Sr. Ministro fez em Plenário e que, talvez, valha a pena comentar e esclarecer.
Começo, precisamente, pela ideia inicial da sociedade de informação e do conhecimento.
Julgo que o esforço que tem sido feito relativamente a estes programas, nomeadamente em relação ao Programa Cidades Digitais e, igualmente, ao Programa Nónio, tem apresentado alguns resultados que me apraz salientar.
No entanto, coloco ao Sr. Ministro um problema de base, porque, eventualmente, andamos muito preocupados com os problemas de hardware e talvez menos com os de software, se me é permitida a analogia. Digo isto porque ignoro se o Sr. Ministro sabe, e se tem articulado com o seu colega da Ministério da Educação nesta matéria, que, na última proposta de revisão curricular do ensino secundário, não se encontra uma única disciplina de informática; encontro-a, sim, num único curso tecnológico, mas em todas as propostas que são feitas quer ao nível da formação geral quer ao nível da formação específica, não encontro uma que seja.
O que pretendo é questionar o Sr. Ministro - e, de certa forma, auscultar a sua opinião -, é sobre o que é que andamos a fazer. Andamos no discurso político cheio de vocabulário sobre a sociedade de informação, mas naquilo que é fundamental, que é o desenvolvimento de uma cultura científica, de formação de capital humano virado, precisamente, para os desafios que coloca essa sociedade de informação, baqueamos, esquecemos, e, eventualmente, apresentamos lacunas gravíssimas na formação desse mesmo capital humano.
Portanto, o que gostaria de saber é se, por acaso, o Sr. Ministro já conhece a proposta de revisão curricular e se tem uma posição ou, pelo menos, uma visão um pouco alternativa àquilo que foi apresentado.
O segundo aspecto que gostaria de chamar a atenção tem a ver com o problema, que cada vez mais os desafios da sociedade de informação coloca, da cultura científica em si.
O Ministério da Ciência e da Tecnologia tem desenvolvido algumas iniciativas quer junto do grande público quer junto das escolas - penso que isso é importante -, mas continuamos a debater-nos com algumas lacunas, que não vejo referidas no orçamento, e por isso é que estou a perguntar ao Sr. Ministro, no que respeita a algumas infra-estruturas de divulgação científica.
Estou a falar dos museus e, acima de tudo, dos museus para a ciência. Quer queiramos, quer não, todos conhecemos um pouco do que se faz em Londres, do que se faz em Paris, do que se faz em Nova Iorque, do que se faz um pouco por todo o lado, todos conhecemos a grande preocupação de investimento na divulgação cientifica e o aspecto e a preocupação pedagógica de fazer chegar esse investimento e esse esforço às escolas e aos mais novos.
Porém, em Portugal, continuamos a debater-nos com um vazio e com a falta de qualidade e de preocupação pedagógica ao nível da divulgação científica, nomeadamente através desses museus - que me apraz registar, mas não me satisfaz - e não sei até que ponto é que o Ministério da Ciência tem consagrado, em termos de Orçamento, qualquer investimento relativamente a este problema.
Ainda no que diz respeito ao desenvolvimento da cultura científica, há algo que me preocupa e tem a ver com o pretexto - é pena que seja só o pretexto, porque vamos ter de fazê-lo todos os anos -, do Ano Mundial da Matemática.
Assim, gostaria de saber o que é que o Ministério da Ciência e Tecnologia tem previsto para, em termos de associação ou não com o Ministério da Educação, o Ano Mundial da Matemática. Penso que o problema é também de desenvolvimento de cultura científica, mas é, acima de tudo, alertar, não só a opinião pública, os meios de comunicação, as instituições, para um grande investimento que tem de ser feito não só na matemática em si, mas, partir daí, chegar às outras disciplinas, às ciências exactas, às ciências naturais, etc., por forma a que se possa, de certa forma, superar as lacunas graves que o meio científico tem demonstrado em Portugal.