si, é pequena, para criar um mercado interno de arranque para muitos serviços e muitos produtos no que respeita à sociedade de informação.
A estratégia que seguimos apostou em não esperar que o mercado resolvesse os problemas. Havia quem nos dissesse que a sociedade de informação é o mercado, mas nós opusemo-nos terminantemente a esta ideia. A sociedade de informação é, em primeiro lugar, a sociedade; na sociedade existe o mercado, mas, em primeiro lugar, vem a sociedade! E esta concepção tem consequências práticas.
A primeira consequência prática foi a de atacar o problema potencial da exclusão no momento em que ele estava a começar, fazendo com que, em todo o País, houvesse acesso à Internet nas escolas a partir do 5.º ano onde havia condições de integração razoáveis.
A segunda consequência prática foi a de apostar nas bibliotecas das escolas e nas bibliotecas públicas, criando espaços públicos que compensassem, à partida, aqueles que começavam a ser os factores de desigualdade no interior das famílias. Só que, nessa altura, há três anos atrás, eles ainda não funcionavam como factores de desigualdade nas famílias, porque não havia, praticamente, taxa de penetração, ou seja quase não havia Internet nas famílias portuguesas!
Assim, a explosão ocorrida nestes últimos anos foi acompanhada e posterior à criação de espaços públicos, que fizeram, precisamente, com que as divisões sociais se esbatessem no acesso às tecnologias de informação, e, nalguns casos, devo dizer-vos, ela foi acompanhada com políticas pró-activas de encorajamento daqueles que já estavam excluídos do acesso às tecnologias de informação.
O projecto que temos em desenvolvimento na área de Lisboa com as minorias étnicas, com as associações de imigrantes e com a segunda geração de imigrantes merece a pena ser visto com atenção. Refiro-me à criação da auto-estima e, portanto, de condições de valorização dos jovens filhos de imigrantes excluídos da escola ou reprovados na escola, disponibilizando-lhes associações onde, pela primeira vez, são tratados como "meninos ricos": têm computadores, é-lhes dada formação e a possibilidade de escreverem eles próprios, etc. - aliás, até aprendem a ler e a escrever rapidamente! É o factor da auto-estima que lhes é gerado.
Estou a falar-vos de políticas activas. Nada disto aparece, pura e simplesmente, fechando os olhos e esperando que o mercado nos resolva os problemas. É neste dilema de políticas que aqui anunciei que continuarei a trabalhar e a fazer política nesta área e com este objectivo.
Para tanto, desenvolvemos o Programa das Cidades Digitais em todo o País. O próximo Quadro Comunitário de Apoio está centrado, essencialmente, no desenvolvimento deste programa, que é, simultaneamente, um programa de uso social e de apoio à massificação do uso social das tecnologias de informação e um programa de modernização da administração das empresas e dos serviços.
Tenho todo o gosto - já o disse várias vezes e volto a disponibilizar-me para o efeito - em analisar em detalhe, convosco, a questão dos programas operacionais, designadamente este para a sociedade de informação. Trata-se, aliás, de um programa que está, neste momento, em negociação com a Comissão Europeia, porque estou convencido que os instrumentos que ele contém são absolutamente decisivos para a transformação do País, desde as empresas, ao comércio electrónico, à integração dos deficientes na sociedade portuguesa, à educação e à formação.
O Sr. Deputado Rosado Fernandes, citando "uma cidade ideal", colocou-me algumas questões que, desde já, agradeço.
Em primeiro lugar, reconhecendo o valor de toda a investigação, pura e aplicada, afirmou que existem certos sectores de investigação em que, neste momento, há necessidade de ciência, e deu-me o exemplo da fileira florestal na área da cortiça.
Ora, a fileira florestal na área do eucalipto é um domínio onde existe, neste momento, integração na investigação entre a universidade, o sector produtor e a empresa e houve a criação de massa crítica que permitiu a criação de uma instituição, que é "raiz" enquanto instituição de investigação à escala nacional.
Neste momento, a investigação da cortiça está mais segmentada... Existe investigação para a produção industrial, isto é, para os produtos transformados da cortiça, e existe investigação no que diz respeito ao sobreiro. Disse-me o Sr. Deputado que é necessário activar esta área e eu estou inteiramente de acordo consigo. Essa é, pois, uma das prioridades em que estamos a trabalhar.
A segunda questão que colocou prende-se com a oceanografia. Temos feito um enorme esforço nessa área, esforço esse que continuamos a desenvolver em colaboração com todas as instituições universitárias, com o IPIMAR e com o Instituto Hidrográfico.
Neste momento, só no Instituto Hidrográfico já existe um navio - o navio D. Carlos -, para o qual, neste momento, contribuímos com uma verba muito significativa em termos de equipamento e está a entrar em Portugal o segundo grande navio oceanográfico que reforçará muito a frota oceanográfica nacional.
Em paralelo, estamos a desenvolver um processo de coordenação dos meios oceanográficos europeus, na medida em que é impossível imaginar que Portugal possa, por si, com o mar que tem, ter todos os meios oceanográficos necessários para essa investigação. Ora, neste momento, existem meios oceanográficos supérfluos na Europa que não estão a ser utilizados por muitos institutos oceanográficos, designadamente em França e na Alemanha. Portanto, o que estamos a desencadear é uma política europeia de utilização comum dos meios oceanográficos disponíveis na Europa.
Quanto à terceira questão, devo dizer que procurámos desenvolver programas de investigação - que têm expressão não só neste Orçamento do Estado como no Quadro Comunitário de Apoio - integrados com políticas de investimento público.
Entendemos que grandes políticas de investimento público geram oportunidade de criação de emprego qualificado em Portugal, quer nas obras públicas, quer na modernização dos portos, etc., obras estas que têm um horizonte temporal que permite fazer trabalho de investigação sério e eficaz. Não são situações de curto prazo, mas, sim, de longo prazo e, portanto, permitem a criação de massas críticas suficientes e estas políticas têm repercussão no Orçamento do Estado, como já referi.
Por último, o Sr. Deputado Rosado Fernandes questiona-me sobre se os doutorados que estão a criar-se podem ser um esforço perdido, na medida em que todos têm de reconhecer esse esforço e de capturá-lo. A minha resposta é um pouco a que já dei à questão colocada pela Sr.ª Deputada Maria Luísa Vasconcelos: a verdade é que não há fuga! Temos de enfrentar os problemas para os resolver.