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Relativamente ao número de doutoramentos, apraz-me, também, registar que o Sr. Ministro sabe melhor do que eu, que um doutoramento demora entre cinco e seis anos a fazer. Neste momento, a duração média para se fazer um doutoramento, é, felizmente, um bocadinho mais baixa do que há uns anos atrás, o que é um elogio à política científica do governo social-democrata, porque se os resultados estão a aparecer agora, atendendo à duração média desses mesmos doutoramentos, isso quer dizer que foram investimentos feitos antes - que o Sr. Ministro tanto criticou - que estão agora a dar frutos.
Espero, pois, que daqui a quatro ou cinco anos os investimentos que o Sr. Ministro está a patrocinar, neste momento, possam ter iguais ou melhores frutos. Digo-o, sinceramente, ainda que o "patrocinato" e, acima de tudo, a responsabilidade deste investimento seja uma questão de justiça que deve ser reconhecida relativamente ao crescimento que houve de alunos a frequentarem cursos de mestrado e que, obviamente, a seguir vão fazer os doutoramentos quer em Portugal quer no estrangeiro.
Portanto, até em referência a um elogio que a Sr.ª Deputada Maria Luísa Vasconcelos fez relativamente ao crescimento de 25% do número de doutoramentos, gostaria de registar o reconhecimento de uma política que foi desenvolvida já há bastantes anos.
Mas o que me preocupa ao nível das bolsas de doutoramentos, é saber qual é a perspectiva de crescimento, tendo em atenção que se nota uma procura crescente por parte da comunidade científica universitária em geral, relativamente a esses mesmos doutoramentos.
Assim, gostaria de saber o que é que está previsto em termos não só de dotação mas também do número de bolsas a atribuir para esses candidatos a doutorandos, alguns deles querendo fazer o doutoramento e tendo muito valor, mas não conseguindo, a maior parte das vezes, obter uma bolsa minimamente digna para que possam fazer esse mesmo doutoramento.

A Sr.ª Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia.

O Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia (Mariano Gago): - Srs. Deputados, muito obrigado pelas vossas questões. É um prazer ter a oportunidade de, em sede desta Comissão, poder discutir, de uma forma aprofundada, as questões que julgo serem essenciais, pelo que tentarei responder a todas pela ordem que foram colocadas.
A Sr.ª Deputada Maria Luísa Vasconcelos colocou-me duas questões, dizendo a primeira respeito à integração profissional dos novos e jovens cientistas ou, de uma forma mais vasta, de todos aqueles que, neste momento, se formam para profissões especializadas de natureza científica e técnica, pretendo saber como é que essa integração está prevista e com que verbas, visando evitar o desperdício e, sobretudo, o brain drain.
Ora, este problema é muito importante e por isso gostaria de gastar alguns minutos para explicar qual é a actual situação em Portugal e qual é a antevisão que tenho, falível, para os próximos anos, sobre esta matéria - aliás, nenhum país está livre de ter, nesta matéria, ameaças difíceis ou impossíveis de resolver e, nos últimos anos, a Europa teve uma experiência muito variada neste campo.
Lembro-vos que os dois países europeus que tiveram rápido desenvolvimento de recursos humanos para a ciência e que, ainda na década de 60 eram dos países mais atrasados da Europa, conseguiram sair desse subdesenvolvimento, fizeram-no com um preço social elevadíssimo: um deles a Irlanda; outro a Grécia.
No caso da Irlanda o seu sucesso foi tingido de um desperdício social gigantesco com taxas de desemprego altíssimas durante vários anos e, sobretudo, com uma exportação maciça daqueles que se tinham formado no sistema de educação superior e de ciência irlandês para o Reino Unido e para Estados Unidos da América. Só agora, mercê de uma política extraordinariamente agressiva, mas também fruto da necessidade de atracção de investimentos de alto valor acrescentado, é que é possível a Irlanda estar, de novo, a retomar todos aqueles que perdeu e grande parte dessa perda é irreparável.
No caso da Grécia a situação é diferente, porque não só a exportação de pessoal qualificado foi um facto, mas grande parte do investimento feito na Grécia pela União Europeia e pela própria Grécia não resultou em real desenvolvimento interno e nós temos hoje a Grécia, de facto, como um país que não descolou na maioria dos sectores.
Portugal, nesta matéria, tem uma situação singular que é a seguinte: durante as últimas duas décadas todos os especialistas em Portugal temiam a existência de um forte brain drain no País, pois Portugal tinha a mais elevada taxa de recurso aos sistemas estrangeiros de formação avançada de toda a Europa, porque nós temos hoje, em Portugal, o sistema mais internacionalizado de toda a Europa, porque quisemos ir mais depressa e, portanto, se, pura e simplesmente, recorrêssemos às universidades portuguesas não o podíamos fazer, teríamos de esperar 100 anos, pelo que tínhamos de recorrer aos sistemas de formação dos outros.
Todavia, o perigo de brain drain não se concretizou. Até hoje é escassíssimo o número de cientistas portugueses que ficaram a residir e a trabalhar de uma forma permanente no estrangeiro. Temos casos conhecidos, sobretudo nos Estados Unidos, muito mais do que na Europa, mercê de uma política fortíssima de integração que os Estados Unidos fazem das pessoas com sucesso que desenvolvem lá o início das suas carreiras.
Contudo, não quero só dar as boas notícias sobre esta situação, porque ela pode não durar durante muitos anos. Porquê? Porque na próxima década assistiremos à grande vaga de reformas nos grandes sistemas de investigação europeus. Estes grandes sistemas tiveram, no pós-guerra, um efeito de pico no desenvolvimento e recrutaram de uma forma que hoje se sabe que foi errada, preenchendo sistematicamente os quadros durante a década de 50, início da década de 60, isto sem diluir a absorção ao longo de muitos anos, o que significa que temos grandes sistemas de ciência na Europa em que quase 50% dos quadros superiores vão reformar-se numa década.
Obviamente que isso é um drama para esses países e, neste momento, estão a produzir-se novas políticas científicas e de recrutamento que não repitam o erro, recrutando de novo, num período de tempo curto, pessoas para ocuparem esses lugares, mas a verdade é que vai haver uma competição entre os vários países pelos recursos humanos à escala europeia, competição essa mais grave do que a que existiu no passado.
Neste momento, não há brain drain significativo em Portugal. Temos um brain drain muito menor, incomparavelmente menor, do que aquele que podíamos esperar de países semelhantes ao nosso, mas também