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244-B DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

não ter sido liberalissimo e tolerante até ao ponto de me poderem classificar de menos conveniente.
Já disse a v. exa., e a alguns collegas meus regeneradores, que nos tres concelhos de que se compõe o meu circulo estavam tres escrivães de fazenda regeneradores fazendo politica contra mim e com favor dos seus partidarios ; pois eu não pedi que esses escrivães fossem incommodados, transferidos ou suspensos.
O sr. ministro da fazenda sabe muitissimo bem que quando eu tive a honra de ser administrador do concelho de Guimarães, n'uma epocha triste e calamitosa, os empregados publicos que existiam em Guimarães eram todos regeneradores; pois nem um só empregado foi demittido, suspenso ou transferido.

e isto não são actos de tolerancia não ha demonstração possivel.
Para demonstrar a v. exa. até que ponto chegou a minha tolerancia, basta dizer que durante todo o tempo do governo progressista foram presidentes da commissão de recenseamento, nas Caldas da Rainha, dois homens que eram absolutamente inelegiveis, porque um, era recebedor da comarca e o outro medico da camara municipal.
Estes individuos foram eleitos para a commissão de recenseamento, quando o n.° 9.° e 11.° do § l.° do artigo 7.° do codigo administrativo diz claramente que elles são inelegiveis, porque não podem ser eleitos para as commissões de recenseamento senão individuos elegiveis para cargos municipaes, e esses cavalheiros eram inelegiveis.
Os meus amigos politicos queriam que eu levasse um recurso contra este facto, para tirar da commissão do recenseamento aquelles individuos que eram regeneradores. Não fiz tal cousa, porque não quiz que n'esse acto se visse uma vingança politica.
Tive a ingenuinidade de acreditar que alguns dos srs. ministros, que se diziam meias amigos, o eram realmente, portanto não queria praticar um acto qualquer que podesse parecer uma vingança.
Muitos outros factos analogos podia citar, mas não o faço para não cansar a attenção da camara.
Todos sabem que o sr. ministro da fazenda, pouco tempo antes de se sentar n'aquellas cadeiras, fui a Guimarães visitar os seus amigos, e s. exa. sabe que não foi perturbado no seu passeio triumphal, nem foram perturbadas as ma-nifestações que lhe quiseram fazer.
Se um ou outro individuo progressista se misturou com os regeneradores dando vivas a esse partido e aos seus homens mais eminentes, de onde podia resultar a alteração da ordem, o sr. Franco Castello Branco sabe que eu reprovei esses actos, porque a obrigação do governo é não provocar. Agora commigo succede exactamente o contrario, é o governo e os seus amigos que provocam, desejando encontrar pretexto para prenderem e acutilarem os meus amigos.
Se em Guimarães se fizesse cousa analoga ao sr. Franco Castello Branco, que longos discursos repassados de indignação não lhe ouviriamos.
Agora manda o governo, de que s. exa. faz parte, fazer aos meus amigos o que o sr. Franco de certo não queria que lhe fizessem aos seus em Guimarães. Quando tive a honra de ser administrador do concelho de Guimarães foi esta cidade e concelho visitado pelo sr. Franco Castello Branco e toda a povoação de Guimarães fez a s. exa. uma apotheose verdadeiramente magestatica, e eu nem com uma só palavra prohibi essa manifestação, e applaudo-me por isso, e declaro que hei de sempre proceder d'este modo.
Ora, procedendo eu assim, doe-me profundamente a guerra atroz e desnecessaria que o governo mandou fazer contra mim, e contra os meus amigos e a que ainda hoje está consentindo que se faça.
Sei, que o sr. ministro das obras publicas, segundo dizem ha seus amigos, poz a sua pasta sobre a minha eleição, dizendo que me guerreava por uma questão pessoal, e s. exa. não ha de sair hoje d'esta casa sem declarar qual o motivo que deu causa a essa questão pessoal.
Dizia o sr. Arouca e diziam os seus amigos que se o partido progressista propozesse outro candidato não seria guerreado.
A guerra era só á minha pessoa, a mim só é que estava declarada a guerra de exterminio.
Declaro que nunca tive incompatibilidades pessoaes com o sr. ministro das obras publicas até ao começo da minha eleição, e por tanto é para estranhar que se servisse da auctoridade de que está revestido para attentar contra as liberdades publicas, e para, por todos os meios ao seu alcance, derrotar um individuo que não queria por principio nenhum, que fosse eleito, tendo ainda todos os seus collegas no ministerio a proteger estes intuitos. D'aqui em diante é melhor fazer as eleições no ministerio do reino e escusamos de estar enganando o paiz e os eleitores. É completamente inutil produzir uma agitação no paiz, porque só por uma excepção podem vir á camara os deputados que o governo não queira.
Tenho orgulho de dizer que bem pouca gente poderia resistir á guerra que se me fez, e se resisti, é porque tenho saude e tenacidade, do contrario não resistiria á lucta ingente em que o governo me lançou. Para o governo a minha eleição era questão de vida ou de morte.
Devo declarar a v. exa. que n'este momento ainda se estão praticando as maiores atrocidades nu meu circulo, como se estivessemos no periodo mais agudo da lucta eleitoral.
Escrevi ao sr. presidente do conselho relatando-lhe os factos que se estão passando em Obidos, e declaro que tive a veleidade de suppor que s. exa. daria algumas providencias; mas infelizmente s. exa. não as deu, ou sou mais levado a acreditar, que s. exa. não fui obedecido nas ordens que deu.
Sei que muitos governadores civis d'este paiz e muitos administradores de concelho, como por exemplo o de Penafiel, quando recebiam ordens do sr. presidente do conselho diziam que o governo governa na capital o que elles governaram nos seus districtos ou nos seus concelhos.
Bonitas e bellas theorias que demonstram bem o estado anarchico em que está o paiz e a pouca auctoridade que tem o sr. presidente do conselho para se fazer obedecer.
Que hajam auctoridades administrativas que digam isto, comprehendo, mas que haja um ministro do reino que não desse immediatamente a demissão a essas auctoridades, é que não posso admittir; e portanto os factos levam-me a concluir que o sr. presidente do conselho não deu ordens nenhumas, ou se as deu, não foi obedecido.
Estou perfeitamente espantado em presença dos factos que se têem dado e continuam a dar no meu circulo, porque nunca suppuz que o sr. Serpa fosse um homem ferino; pelo contrario, suppunha até que s. exa. fosse um cavalheiro humanitario, bondoso, que se compadecesse, emfim, das desgraças do povo. Mas o que eu vi foi, que, tendo escripto uma carta a s. exa. dizendo-lhe que estavam presos injustamente amigos meus, e tinha corrido sangue em Obidos, s. exa. não deu providencias e os factos repetiram-se.
Hoje recebi uma carta, que não leio para não fatigar a camara, carta em que se relatam os factos mais attentatorios que a imaginação póde conceber. No meu circulo não se está em Portugal, está-se debaixo da auctoridade do czar de todas as Russias; o que se está ali fazendo não se acredita; custa a conceber que a dois dedos da capital se esteja vingando um governo dos individuos que não qui-zeram votar no seu candidato. (Apoiados.)
O crime dos meus amigos é este e só este.
Um governo não se vinga. Os ministros devem ter alma generosa e grande, só assim podem alcançar perdão para os attentados que se commetterem. Não é irritando-nos que se consegue que usemos n'esta casa de brandura e suavidade.
Os meus amigos estão na cadeia. Recebi telegramma