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APPENDICE Á SESSÃO DE 16 DÊ MAIO DE 1890 244-E.

Socego da sua vida campestre, se deliberassem vir até aos pés de El-Rei pedir providencias, é porque os factos eram graves, gravissimos até, e porque já se tinham esgotado todos os outros meios. E eu applaudo-me porque essa commissão de proprietarios adoptasse essa resolução, porque tiveram a honra de ver El-Rei pela primeira vez e foram encantados pela affabilidade com que foram recebidos por Sua Magestade, indo dizer maravilhas para o povo dos seus logares. Alem d'isso, regressaram mais tranquillos porque Sua Magestade lhes prometteu providencias que o governo se recusava a dar.
Sr. presidente, eu tive a honra de mandar a Sua Magestade El-Rei um telegramma em que dava a minha palavra de honra de que estes factos eram verdadeiros, e eu não sou homem que dê a minha palavra em vão e muito menos ao meu Rei.
Para provar que as violencias ali praticadas foram extraordinarias, basta um facto que vou citar á camara.
O governo queria absolutamente vencer a eleição no meu circulo fosse como fosse e pelo que fosse, e como sabia que era em Peniche que eu tinha o maior numero de amigos, dirigiu para ali os seus principaes ataques.
Foi ali que os amigos do governo, e não digo o proprio governo, porque quero, acreditar, na palavra, de honra do illustre ministro das obras publicas, tentaram roubar a urna;
Existiam em Peniche, nada menos que tres administradores de concelho! Um effectivo, um substituto e um interino!
0 sr. Jayme Pinto: - Tambem já apanhei d'isso. (Riso.)
0 Orador: - O administrador do concelho, interino, foi para lá na ultima semana fazer a eleição. É conhecido pela cunhada de Sovelão, e tanto foi para lá mandado por este governo simplesmente para fazer a eleição; que dizia, mostrando uma carta do sr. Lopo Vaz, n'ella o auctorisava a commetter todos os attentados, que tinha sido alugado por 200 libras só para me vencer!
Vozes : - Ouçam, ouçam!
O Orador:- Este homem, sr. presidente, mostrava, como disse, a todos uma carta do sr. Lopo Vaz, auctorisando-o a praticar toda a sorte de violencias, roubos e assassinatos, com tanto que vencesse!
Vozes: - Tanta cousa junta.! (Riso.}
O Orador: - Eu, sr. presidente; declaro a v. exa. que não acredito que tal carta fosse verdadeira.

ma voz: - Então para que a cita?
O Orador: - Eu cito o facto. 0 administrador mostrava essa carta a toda a gente e dizia ser do sr. Lopo Vaz. Eu tenho conhecimento do caracter do illustre ministro da justiça; mas o povo é que o não tem e acreditava que a carta era verdadeira. (Apoiados da esquerda.) O fim era intimidar o povo, mostrando que era inutil tudo quanto fizesse por mim, porque elle havia por força vencer a eleição, porque o ministro a isso o auctorisava.
O sr. Ministro da Justiça: - V. exa. diz-me quem era esse administrador. O Orador: - Pois não. Esse administrador era o celebre e tradicional Ferreira das Neves, conhecido pela alcunha do Sovelão pelas proezas praticadas n'uma eleição na Arruda. Note v. exa. que eu tenho muitissima pena de não ter vindo preparado para este debate, mas reservo-me para em occasião opportuna, a fim de com documentos, provar a a authenticidade d'estes factos;
Uma VOZ: - E a celebre carta?
O Orador: - Eu já disse a v. exa. que não acreditava que ella fosse verdadeira, mas francamente v. ex.ªs, bem comprehendem que verdadeira ou falsa o administrador não m'u daria, nem a daria a ninguem. (Muitos apoiados dos esquerda).
Não estejamos aqui com artificies a querer enganar o paiz. O que eu digo a v. ex.ªs é que o administrador do concelho, dizia e fazia acreditar ao povo e aos influentes que levava carta branca para vencer a eleição e que podia, se tanto fosse necessario, roubar e assassinar, pois a tudo isso estava auctorisado pelo governo, como provava pela carta que fazia acreditar possuir. Eu não acredito.. n'isto, mas o que é facto é que elle o dizia e o povo acreditava.
O sr. Ministro das Obras Publicas: - Elle já dizia a mesma cousa em 1886, quando foi administrador progressista.
O Orador: - Pois se v. exa. sabia que esse administrador tinha essas bellas qualidades e que ia comprometter o nome do governo para que o nomeou?! (Apoiados)
Pois v. exa. sabem que elle era useiro e veseiro em praticar d'esses factos, e alugaram-no por duzentos libras para ir para aquelle concelho? Para que foi isso?
Justamente para praticar d'estes factos em que já era useiro e veseiro com perfeita conivencia com srs. ministros, que já sabiam o que elle era, (Apoiados.)
E eu sei quem indicou a v. exa. este individuo para administrador do concelho. Ha de vir tudo para aqui, visto que s. ex.ªs dizem que no meu circulo não se praticaram violencias. Não se provoca um homem como eu, quando falla a verdade; porque de todos os factos que relato fui testemunha, porque estava lá. Não andei a passear pelas ruas de Lisboa, deixando os meus amigos entregues só às pre- potencias do governo e aos trabalhos da lucta eleitoral.
O sr. Presidente: - Peço ao sr. deputado que restrinja quanto possivel as suas considerações, porque estamos com a hora bastante adiantada e ha um projecto importante para discutir na ordem do dia.
O, illustre deputado póde annunciar uma interpellação ao governo e é então occasião propria de v. exa. explanar a suas considerações. (Apoiados.)
O Orador: - Sr. presidente, eu vou satisfazer ao pedido de v. exa., mas v. exa. comprehende que desde que os srs. ministros disseram que não se tinham praticado violencias no meu circulo o que eu estava mal informado, esquecendo-se s. ex.ªs de que eu estava lá e vi e assisti a tudo, não posso deixar de responder.
Se não se praticaram violencias, e nem os srs. ministros eram capazes de ordenar tal cousa, (Riso) para que fim então se mandou para Peniche um administrador de concelho, na ultima semana da eleição, administrador conhecido pela alcunha de sovellão useiro, e veseiro, como já disse, n'estas proezas eleitoraes, segundo se dizia, e parece que elle o não negava, alugado por duzentas libras para vencer a eleição fosse pelo que fosse? E se v. exa. quizerem posso citar nomes, porque os cavalheiros que o diziam são incapazes de faltar á verdade.
Eu digo o que lá se fez.
Este, administrador dizia: eu sei que não tenho votos, mas não venho cá para arranjar votos, venho para vencer a eleição, para isso é que cá venho e foi para isso que o governo me mandou. Votos não posso ter e portanto não peço nenhum".
E sabe a camara em que elle se fiava e com o que contava para vencer, alem de todos os elementos e dos policias que lá tinha e que o acompanhavam de Lisboa? Era , com a cavallaria, que tinha sido mandada pôr ás suas ordens; mas que por um d'estes actos da mais subida honradez do official commandante da força, não se realisou o que estava premeditado.
O illustre presidente do conselho e ministro da guerra mandou passar uma guia ao commandante da força de cavallaria que para ali foi,- note a camara, para uma praça de guerra como é Peniche,- para se apresentar ao administrador do concelho!
Ora, como n'uma praça de guerra quem manda militarmente é o governador d'essa praça, o commandante da força não se apresentou ao administrador, mas sim ao go-