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SESSÃO DE 15 DE FEVEREIRO DE 1886 457

Não obstante tudo isto, o sr. Fontes persiste em man-ter-se no poder, declarando, como negociante fallido ou fidalgo arruinado, que ainda tem pulso, que ainda marcha com vigor, e que não ha indicação constitucional para largar as pastas. Todas as indicações são interpretadas pelo governo á sua vontade e ao sabor das suas conveniências; neste ponto é um verdadeiro rabino. (Apoiados.)
O silencio da maioria, diante do convite feito pelo governo para se manifestar e explicar, é interpretado como assentimento. (Apoiados.)
As censuras acres e vehementes do meu illustre amigo, o sr. Castello Branco, contra o nobre ministro do reino, acabam mesmo agora do ser tomadas pelo sr. Pinheiro Chagas como um elogio.
Não se diga que tudo é fictício, porque a agitação, o desespero e a indignação são reaes e têem causas muito positivas, (Apoiados.) e é necessario atalhar o mal emquanto é tempo. O povo já não póde mais, e o descontentamento latente, que de ha muito lavra surdamente pelas camadas sociaes, começa a explosir. (Apoiados.)
Quer-me parecer que tornou a chegar a epocha para alguns dignos membros da outra casa tornarem a tremer de susto. (Apoiados.)
Mas a imprensa tambem não é indicação constitucional, porque o governo não lê jornaes. (Apoiados.)
São todos a puxar e o governo ha de cair, mas é preciso que caia a tempo e que não insista na realisação da prophecia do fallecido duque, para não termos de repetir o trop tard da historia franceza, e ouça-me quem me deve ouvir, attendendo as minhas palavras quem deve attender. (Impressão.)
Sr. presidente, a agitação é real, a indignação do paiz é verdadeira, e posso asseverar que são assustadoras as noticias, que particularmente chegam das provindas. (Apoiados.)
O sr. Azevedo Castello Branco:-Eu não dei por isso.
O Orador: - O illustre deputado disse que o sr. Barjona tinha tomado as providencias, que nesta casa tinham sido reclamadas pelo meu particular amigo e distincto collega, o sr. Eduardo José Coelho, que, se não esperava do ministro favor, desejava ao menos que elle fizesse justiça aos correligionários que o apoiavam.
O illustre deputado não deu por isso?
Também o sr. Chagas não deu. (Apoiados.)
O que é certo é que para o sr. Fontes as indicações constitucionaes assimilham-se aos mysterios theurgicos da Eleusina. (Apoiados.)
Este governo, que representa um tumor impertinente na nossa vida constitucional, uma aberração extravagante e notável descarrilamento na rotação dos partidos, já se não apoia em principio algum de interesse publico, em idéa alguma de rasão ou de justiça; vive e sustenta-se pelo iman de forças occultas como o caixão de Mahomet no templo de Meca. (Muitos apoiados.)
Parece que a questão da rotação está reduzida a uma questão de força e de capricho, mas tambem se me afigura que o paiz está resolvido a mostrar até onde chega essa força e esses laços mysteriosos e magneticos.
Sr. presidente, progressistas, constituintes, republicanos, e miguelistas, tudo está indignado contra a marcha do governo. (Apoiados.)
As grandes e as pequenas industrias, as companhias poderosas, todas as classes, desde as mais humildes até às mais elevadas, e até os próprios regeneradores em grande parte, tudo conspira contra a administração nefasta deste gabinete. (Apoiados.)
A imprensa, não só da opposição, mas do gabinete, já se mostra enfastiada com tanto desatino. (Apoiados.)
Todas estas possantes e poderosas manifestações de descontentamento publico e desagrado para com o gabinete não são ainda indicações sufficientes, que mostrem ao sr. Fontes que já não governa para proveito do paiz. (Apoiados.)
(Interrupção.)

Mas não se admirem v. exa. No anno passado, o sr. Luciano de Castro declarou aqui bem alto que sabia de alguns empregados de algumas repartições do estado, que roubavam e não tinha duvida nenhuma em declarar os nomes, se porventura se procedesse a um inquerito, e com esta accusação iam envolvidas muitas outras, relativas ao regulamento de contabilidade.
É que s. exa., a respeito de indicações constitucionaes, assimilha-se ao celebre Bertholdo, que tambem não póde achar arvore do seu agrado para se enforcar. (Riso.)
Os esbanjamentos e desperdícios dos redditos do thesouro, a má applicação que o governo tem dado ao dinheiro do povo, que é o seu suor e o seu sangue, a par dos pesados tributos com que o tem sobrecarregado, e a immoralidade em muitos actos políticos, é que têem provocado toda essa indignação, e, como reaes são as causas, effectivas devem ser as consequencias. (Apoiados.)
O paiz não acredita na probidade política e administrativa do gabinete e ha factos, que o têem levado a essa convicção. E pela minha parte não sei se diga que o governo tem protegido e protege os ladrões.
O sr. Presidente: - Peço ao sr. deputado, que retire as palavras proteger ladrões. (Muitos apoiados.)
O Orador: - Sr. presidente, numa das sessões parlamentares do anuo passado o meu illustre e illustrado chefe o sr. José Luciano, quando apreciava com aquella superior competência de abalisado jurisconsulto, que o paiz lhe reconhece, as transgressões, que o governo tinha feito no regulamento de contabilidade publica com relação ao pagamento das despezas com o cordão sanitario, declarou bem alto que em algumas repartições do estado se roubava; que elle, orador, conhecia pelo nome os ladrões, que não dizia aqui quem elles eram, mas que não duvidaria fazel-o em um inquerito ou syndicancia.
E qual foi a resposta do sr. Hintze a essa accusação tão grave, feita por voz tão auctorisada e por estadista tão eminente! Nenhuma!!(Apoiados.)
Qual era a obrigação do sr. ministro, não era mandar inquirir, nomear inqueritos e syndicancias para averiguar de factos de tanta gravidade? (Apoiados.)
Mas s. exa., nem ao menos na resposta que deu ao meu illustre chefe e prezado amigo se referiu a esta accusação.
Depois d'estes factos e de se negarem inquéritos quando se accusam roubos importantes, o que quer a camara que o paiz supponha? (Apoiados.) Pois não será isto proteger mais ou menos os ladrões? (Apoiados.)
O sr. Presidente: - Convido o sr. deputado a retirar essa expressão, que póde significar injuria.
O Orador: - Visto que v. exa. julga que a palavra não é parlamentar, retiro-a; mas continuo a manter a minha idéa, dizendo que o governo, depois de um estadista eminente do paiz e chefe do partido, declarar - que havia ladrões nas repartições publicas, e que numa syndicancia não tinha duvida em declarar os nomes - o governo não respondeu, ficou silencioso, o ainda até hoje nenhumas providencias tomou, e quando se lhe denunciam crimes e factos desta ordem e se lhe pede inquérito recusa o tenazmente.
São estas as palavras que me occorrem para exprimir a idéa por periphrase, e fica por isso rectificada a phrase; mas este modo de dizer não será equivalente ao outro, e não significará protecção dada aos ladrões? (Apoiados.)
Mas, sr. presidente, ponhemos agora de parte tudo isto, deixemos os actos geraes do governo e a agitação que lavra no paiz; não foi para isso que pedi a palavra, nem era intenção minha quando a pedi, fazer as considerações a que fui levado pelos apartes e pelas interrupções.
Pedi a palavra para fazer algumas perguntas ao sr. ministro da fazenda; já o tinha feito noutras sessões, e suppunha que elle hoje estivesse presente; como o não vi,