4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
tamento do nosso, ainda vasto, dominio colonial, que estava o resurgimento brilhante da patria portuguesa. Dedicou elle, por isso, á cansa das colonias o mais largo periodo, da sua vida e o mais indefesso do seu trabalho.
Como funccionario, na coadjuvação que prestou insistentamento aos homens, qualquer que fosse o partido a que pertencessem, que occuparam o logar de Ministros da Marinha; como jornalista, em todas as associações de que fez parte, affirmou-se um trabalhador indefesso e fecundo a favor das colonias.
Alem d´estes predicados, outros reunia Tito de Carvalho, que dia a dia vão rareando. Era um bom, e um modesto, e envolvido na sua modestia, no seu quasi retrahimento de tudo que representasse ostentação e brilho, assim se foi refugiar para sempre nos mysterios do tumulo. Era um bom.
Alguem disse que as evoluções da historia mostram que a justiça não se afasta nunca das cousas humanas, e quer se trate dos povos, quer dos individuos, chega sempre para todos a sua hora.
Se ás regiões mysteriosas, onde neste momento paira o espirito d'elite de Tito de Carvalho, chegasse o echo só que fosse, amortecido, das cousas d'este mundo, elle devia regosijar se ao ver que não lhe faltaram, depois da sua morte, os testemunhos de respeito, consideração e estima, a que a sua longa vida de trabalhador honesto tinha direito.
Elle, orador, como Ministro da Marinha, encontrou em Tito de Carvalho a mais leal e a mais prestimosa das coadjuvares, prestada sempre com o mais absoluto e intransigentes desinteresse.
Foi seu amigo em vida; cumpre por isso um dever, gratissimo ao seu coração dolorido, vindo aqui, em nome da minoria progressista, e em seu proprio nome, deixar testemunho da sua saudade e ao mesmo tempo o preito da sua homenagem pela sua memoria venerada e querida.
(O discurso será publicado na integra quando S. Exa. remetteu.
O Sr. Belchior José Machado: - E com o coração cheio de commoção que me associo com toda a minha alma ao voto de sentimento que V. Exa. acaba de propor á approvação da Camara pelo fallecimento de Tito Augusto de Carvalho.
Eu tive a honra de servir ao lado do illustre extincto durante nova annos successivos, e posso garantir a V. Exa. e á Camara que é impossivel encontrar-se funccionario mais distincto, cidadão mais prestimoso.
Tito de Carvalho seguia a maxima de Cicero. Punha acima de tudo a honestidade e a virtude, mas apesar d'isso teve inimigos, e quem os não tem?!
Foi um servidor lealissimo, um caracter diamantino, um coração nobre e uma alma generosa...
Lealissimo disse, Sr. Presidente, porque estou convencido que os illustres estadistas dos dois lados da Camara que teem gerido a pasta da marinha, não contestarão esta affirmação, por que reconheceram em Tito de Carvalho qualidades nobilissimas. (Apoiados).
Tito de Carvalho militou no partido regenerador, de que foi um correligionario convicto e prestimoso; mas ao assentar-se na sua cadeira de chefe de repartição de que foi um modelo de intelligencia, de trabalho e de sabedoria punha de parte a política para ser um funccionario generoso, guiando-se unicamente pelos dictames da sua consciencia que era pura e crystallina. Tito de Carvalho foi um jornalista valioso, defendeu com toda a energia da sua intelligencia, com todo o vigor da sua penna a integridade com nosso dominio colonial, por estar convencido de que o futuro de Portugal estava no desenvolvimento das colonias; e está hoje mais que provado que Tito de Carvalho não se enganava. Isto causou-lhe dissabores, mas Tito de Carvalho tinha razão. Foi um trabalhador incansavel, trabalhava muito e bem, conhecendo como poucos os problemas mais vitaes do nosso dominio colonial (Apoiados). Com que primor de linguagem, com que profusão de conhecimentos relatava elle os assumptos mais difficeis e delicados da sua repartição, e os que os Ministros lhe distribuiam?! (Apoiados).
Tito de Carvalho não foi apreciado como devia, porque era excessivamente modesto, mas era um talento de primeira grandeza. Foi amigo de Barros Gomes, que o apreciou como poucos pelo seu talento e pelas suas virtudes. Tito de Carvalho não era ambicioso, por isso não ascendeu aos logares eminentes, apesar de ter intelligencia de sobra para os desempenhar. (Apoiados).
Os seus conselhos eram bons; a sua opinião firme e bem fundamentada, - e felizes d'aquelles que a seguiam.
Vou terminar dizendo que o país perdeu um funccionario distinctissimo, o jornalissimo um publicista convicto e o partido regenerador um correligionario dedicadissimo (Apoiados). Morreu um homem de bem e um homem util. (Apoiados).
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem.
O Sr. Presidente: - Em vista da manifestação da Camara considero a minha proposta approvada. (Apoiados geraes).
Não pode realizar-se o aviso previo marcado para hoje, por não estar presente o Sr. Ministro respectivo; mas, tanto o Sr. Ministro como o Sr. Deputado serão avisados do dia em que elle se deverá realizar.
O Sr. Antonio Centeno: - Aproveita a presença do Sr. Presidente do Conselho para que lhe diga quando tenciona mandar realizar a eleição da mesa da Misericordia de Estremoz.
A mesa d'essa Misericordia foi dissolvida em maio do anno passado pelo governador civil de Evora, depois da auctorização dada pelo Sr. Ministro do Reino, que para isso se baseou num artigo do Codigo, que não vinha nada para o caso.
Os estatutos e compromissos d'aquella Misericordia determinam que, quando por qualquer circumstancia a mesa seja dissolvida, sejam convocados os membros d'essa associação, para procederem á eleição, no prazo de sessenta dias.
Ora, desde maio até hoje, não vão decorridos sessenta dias, mas quasi um anno, e, no entanto, essa eleição ainda se não fez, e isso por conveniências políticas o pessoaes do Sr. Governador Civil.
A mesa da Misericordia foi dissolvida com o pretexto de se recusar a dar posse ao medico que para ali fôra nomeado, medico que é o proprio governador civil, e que levou o seu substituto a officiar á mesa para lhe dar posse, aproveitando sempre a hora em que o provedor não estava presente, para assim se poder falsamente informar o Sr. Ministro do Reino de que a Misericordia se recusava a dar posse ao medico e haver pretexto para a dissolução.
As eleições para Deputados já se realizaram, e, portanto, já esta questão não deve ter hoje importancia para o Governo. As aguas mineraes se não tiveram virtudes medicinaes, tiveram a virtude de transformar um energico francaceo num Deputado hinteaceo.
Parece-lhe, pois, ser occasião de restaurar o imperio da lei, mandando que se proceda á eleição da mesa da Misericordia de Estremoz.
(O discurso será publicado na integra quando S. Exa. o restituir).
O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (Ernesto Rodolpho Hintze Ribeiro): - Faltando apenas, creio, dois minutos para se entrar na ordem do dia, não posso, em tão curto espaço de tempo, responder ao illustre Deputado acêrca do assumpto sobre o qual S. Exa. fez largas considerações.
Devo, porem, dizer o seguinte:
A dissolução da mesa da Misericordia de Estremoz foi