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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

instituto, cuja creação, ou melhor, organisação se propõe, se não são bem mais caros e despendiosos aquelles do que este. (Apoiados.) E vera o sr. Eduardo Abreu dizer-nos que lá fóra não ha institutos ophtalmologicos?!

Demonstrado fica que os ha, que todos os paizes, em que a sciencia não é uma palavra vã, os possuem, e que é uma vergonha para nós, que nos prezamos de acompanhar a civilisação, não possuirmos um unico estabelecimento de ophtalmologia.

Nós, que do estrangeiro tomámos modelos no muito que por lá ha de mau, tomemol-os tambem no que por lá ha de bom.

Chegou s. exa. até a affirmar que a elephantiasis é uma doença mais importante, e senso mais, tão espalhada como as molestias de olhos, inferindo d'aqui a necessidade mais imperiosa da creação de um instituto de dermatologia de preferencia ao instituto ophtalmologico.

A que ponto a cegueira voluntaria pela defeza de uma má causa leva os espiritos, ainda os mais lucidos, e quão provada fica a ineluctavel urgencia de manter um instituto de ophtalmologia n'um paiz onde taes cegueiras existem. (Apoiados.)

Que a elephantiasis seja uma doença asquerosa de ruim aspecto o ruins consequencias; que os infelizes que d'ella soffrem sejam dignos de dó e compaixão; que por elles nutramos os sentimentos de piedade affectiva do nobre deputado e illustrado medico, perfeitamente de accordo.

Mas d'ahi a concluir pelo seu maior valor sobre o largo capitulo das doenças do apparelho visual, vae uma distancia, que se não póde ultrapassar quer scientifica quer não scientificamente, mesmo nos paizes tropicaes e na India, onde ella mais alastra.

O ultimo relatorio que sobre o assumpto li, era de um medico inglez da India, e dizia elle, se bem me recordo, que n'aquella população enorme o numero de doentes da elephantiasis era de 99:000. Estou certo de que se parallelamente tivesse sido elaborada uma estatistica dos doentes de olhos, estes se cifrariam por milhões.

E s. exa. que é um medico distinctissimo, que tem empregado os seus esforços sempre por levantar á sua verdadeira altura a sciencia, de que é justificado ornamento, não devia combater um projecto d'esta ordem.

O sr. Eduardo Abreu: - Já em 1889 eu defendi a creação da cadeira de ophtalmologia.

O Orador: - Já n'esse tempo pedia s. exa. a creação da cadeira de ophtalmologia na escola medica e não se revoltava contra a idéa de para lá entrar um especialista distinctissimo, como outro cá não ha; e a propria escola medica acceitava com boa sombra essa nomeação, contra a qual agora veiu protestar, não julgando então preciso que se lustrasse e purificasse nas santas aguas do Ganges scientifico do concurso o indivíduo indigitado para lente da cadeira, que era o dr. Gama Pinto.

Hoje, que este preceito foi respeitado é que s. exa. vem combater o projecto; hoje que os escrupulos da escola e os direitos dos substitutos foram attendidos e que s. exa. não acceita a creação da cadeira no instituto de ophtalmologia.

O sr. Eduardo Abreu: - Traz comsigo augmento de despeza e voto contra tudo quanto seja augmento de despeza.

O Orador: - Mas s. exa. não póde dizer com fundamento que o projecto traz augmento de despeza. (Apoiados.)

É então por causa do principio santo das economias que s. exa. rejeita o projecto, mas não me parece que a existencia d'este se deva apreciar só por esse unico criterio. (Apoiados.) Não basta arvorar a signa das economias e grupar-se em volta d'ella com a insistencia de uma idéa fixa, é preciso distinguir e reconhecer que ha despezas que em sua ultima resultante são verdadeiras economias. (Muitos apoiados.)

Distingamos pois: o instituto ophtalmologico, tal qual se encontra, é só um elemento de despeza. Mas é justamente para transformal-o n'um estabelecimento condigno do fim a que se destina, e que a seu tempo se torne em fonte apreciavel de receita, que esse augmento de 6 contos de réis é pedido. Nas circumstancias em que o instituto se encontra, elle só é frequentado por doentes miseraveis e pobres, que não podem concorrer com qualquer quantia para diminuir a despeza ali feita pelo estado.

Com o augmento da dotação podemos, porém, collocal-o era condições de desafogo taes, que elle possa ser frequentado por pessoas que, sem serem ricas, possam comtudo pagar os cuidados e serviços que ali lhe sejam prestados.

Quanto ao preço por que ficam os doentes no hospital de Coimbra, o illustre deputado e meu amigo e collega Eduardo Abreu sabe que não é esse o preço dos doentes das enfermarias de clinica e que o preço medio por que fica um doente no hospicio dos Quinze-vingts é 4 francos, e de 4 thalers na Allemanha.

Note-se ainda que a montagem de um laboratorio completo sem o qual se não comprehende um instituto de ophtalmologia, como já disse, é despendiosa e cara.

Deduzindo todas estas despezas da dotação consignada ao instituto, vê-se que esta não é exagerada, e antes humilde e parcimoniosa.

Devo tambem acrescentar que as verbas propostas para o director e chefe de clinica do instituto de ophtalmologia são na verdade exiguas e mesquinhas para retribuição do trabalho verdadeiramente fatigante e aturado d'aquelles funccionarios. Basta que eu diga a v. exa., sr. presidente, e á camara, que o movimento annual do instituto é de 400 a 500 doentes internos por anno e de 100 a 100 externos por dia; sommando-se as operações em, 200 termo medio por anno, trabalhando o director e seus auxiliares indefesamente desde as nove horas da manhã até á uma da tarde, todos os dias. Compare-se com este o trabalho de qualquer dos nossos lentes que ordinariamente têem o trabalho semanal de quatro a cinco horas.

Se depois d'isto ha alguem que julgue um desperdicio a organisação do instituto de ophtalmologia, está no seu direito, mas não me parece que se abone com muito boas rasões.

Entre o facto de ver cerrar as partas de um edificio, onde os pobres acham guarida e allivio aos padecimentos que mais avolumam e atagantam a sua amargurada existencia e o de arrancar ao thesouro alguns parcos contos de réis que permittam a existencia e alargamento d'aquelle estabelecimento e garantam a permanencia dos clinicos que o dirigem, a minha philanthropia, o meu altruísmo e a minha rasão não têem sequer o esmorecimento de uma hesitação.

Voto firmemente pelo augmento da dotação, voto o projecto, porque votando-o estou ao lado dos milhares de assignaturas de ricos e pobres, de proletarios e industriaes, de commerciantes e titulares, representantes de toda a hierarchia social, que em representações instantes e calorosas imploraram do nobre, energico, justo e talentoso ministro do reino a conservação do instituto e do seu sabio e dedicado director, ainda á custa de quaesquer sacrificios.
(Apoiados.)

Nós, os que defendemos o projecto, se elle for approvado, dar-nos-hemos por pagos de nossas canceiras com o termos concorrido quanto em nós coube para a existencia de um estabelecimento que, se é uma manifestação de vida progressiva, é ao mesmo tempo um lenitivo a muito desespero e a muitas lagrimas. (Apoiados.)

Os que ali forem procurar guarida e balsamo, os que, entrando para ali mergulhados na tristura agra e dolente de cegueira, emergirem para a luz, podendo de novo admirar os esplendores da natureza, ressuscitados para o mundo exterior pela reacquisição do sentido, que mais