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8 Diário da Câmara dos Deputados

abandonar as cadeiras do Poder sem que ! se façam ouvir os canhões no alto da Avenida.

Chegou o momento, sim, do Govêrno vir ao Parlamento, em sessão pública, ou secreta, dizer com que elementos conta para jugular a revolução que se avizinha.

Chegou o momento, sim, do Govêrno nos dizer e nos explicar, claramente, quais os indivíduos que entram nessa revolução, e se ela é republicana ou monárquica, ou se tem outro rotulo. Se o Govêrno não quiser seguir êste caminhe, mal andará, e nós não nos arrecear-mos da sua repressão porque pouca confiança nos merece para a defesa das instituições.

Não se esqueça o Govêrno daquela frase de Saint Jugt: "Os pó vos despedem os raios".

Não queira o Sr. Presidente do Ministério com a sua persistência em manter-se no Govêrno comprometer a República, e mais: a própria nacionalidade. Preferível é que o "povo despeça o raio", para que o raio não caía na cabeça do Govêrno.

Tenho dito.

O Sr. Rêgo Chaves (Ministro das Finanças): - Comunicarei ao Sr. Presidente do Ministério as considerações que acaba de fazer o Sr. Deputado.

O Sr. Orlando Marçal: - Há dias fiz-me eco nesta Câmara dum protesto do Presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Valongo contra algumas arbitrariedades e bem injustificadas cometidas nesse concelho, pelo respectivo administrador.

Houve a pretensão de rebater essas claras e verdadeiras afirmações com telegramas que tambêm aqui foram lidos.

Ora, Sr. Presidente, às minhas mãos e ao meu conhecimento acabam de chegar várias cartas e telegramas de homens duma só fé e duma intangível honestidade política que são bastante eloquentes no seu enérgico protesto acêrca do estado de verdadeira afronta às prerrogativas da lei e à liberdade dos cidadãos que foi levada a cabo pela referida autoridade que infelizmente superintende nos destinos do aludido concelho de Valongo.

O que ali se está passando não pode prosseguir, sem uma cabal, uma inflamada, uma interminável e decidida campanha, até que os altos poderes se compenetrem da necessidade de reprimir de vez a anarquia que ali impera por parte do seu representante.

O Sr. Mem Verdial (interrompendo): - Essa anarquia só existe na cabeça dalguns valonguenses.

O Orador: - Pode dizer-se o que se quiser, mas o que certamente não conseguem, por mais esfôrços que se façam, é transviar-me do caminho encetado, nem sobretudo abafar a voz da verdade. O que digo, provo-o com documentos que não admitem dúvidas, porque reflectem a limpidez dos caracteres das individualidades de quem dimanaram e que são as mais destacantes daquele meio social e político.

Mas seguindo a natural esteira das minhas considerações, sou obrigado a pedir ao Sr. Ministro das Finanças que neste momento, e muito bom, representa no Parlamento o Sr. Presidente do Ministério que chame à inteira responsabilidade de inacreditáveis actos praticados, essa autoridade que obedece a intuitos por agora ocultos que eu não quero classificar, mas que saliento para que a Câmara e o Govêrno sôbre elos se pronunciem, antecipadamente certo de que os há-de repudiar com a mesma energia com que eu os proclamo.

Essa autoridade tentou reprimir pela extrema violência da fôrça armada uma ordeira manifestação caracterizadamente republicana, onde o amor e a fé patrióticos vibravam em mesmo, saídos do coração dos verdadeiros paladinos do ideal, só porque ela demonstrava a mais eloquente prova de vitalidade dum partido organizado que lhe recusa a sua colaboração e se divorciou inteiramente da sua incompreensível orientação política.

E quando se vitoriava a República, dentro da Câmara Municipal, quando o regime era aclamado, quando a voz da, verdade se elevava dentro das suas salas, vexaram-se pelo atropelo, pela arbitrariedade e pela afronta os mais sagrados direitos da liberdade de opinião, ofendeu-se o povo republicano daquela localidade e os homens mais ilustres que gozam do seu carinho, do seu apoio, da sua solidariedade.