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Stssão de 27 de Fevtreiro de 192Ú

O Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros (Melo Barreto): — Pedi a palavra para dizer ao ilustre Deputado Sr. Manuol José da Silva, que já assinei a comunicação e que V. Ex.a já a devia ter recebido.

Todos os esclarecimentos do meu Ministério, que não sejam de carácter confidencial, estão sempre à disposição do qualquer Sr. Deputado.

O Si. Plínio e Silva: — Sr. Presidente Peço a V. Ex.a se digne chamar a atenção dalgum dos membros do Governo para as considerações que vou fazer. Sinto não ver presentes os Srs. Ministros da Guerra e do Comércio, aos quais muito em especial deve interessar o assunto que vou tratar.

Procurarei sintetizar a minha exposição por forma a conseguir não exceder os dez minutos que o Regimento me concede para falar antes da ordem do dia, o que é na verdade difícil, pois os automóveis que fizeram serviço no Corpo Expedicionário Português davam tema para s.er tratado desenvol viciam ente com o maior interesse.

Segundo as informações que há muito venho obtendo, todo aquele material necessita de grandes reparações, sem o que não poderá ter o mínimo aproveitamento. Sou de opinião que ele ainda é aproveitável, mas não concordo com o sistema escolhido para o reparar.

Gostaria imenso de fazer a história do automobilismo militar português durante a guerra, elucidando assim o País em mais uma página da nossa desorientação, e simultaneamente como ainda se conseguem, apesar de tudo, verdadeiros milagres, devido ao esforço gigantesco de meia dúzia de obscuros, humildes, caprichosos e honrados portugueses.

Obtido esse material na América, o que, a meu ver, foi um erro de que lhe sofremos sempre os funestos resultados, lá foi, depois de inúmeras o variadas peripécias, parar a França. Claro é que chegou tarde, o que aliás não nos deve admirar, pois é nosso velho hábito andarmos sempre atrasados... mesmo de automóvel.

Pouco ou nada se pensou na organização a valor dos meios indispensáveis para garantir o seu permanente funcionamento, reparando-o a tompo e horas, quando tal fosse necessário.

Assim, logo que, chegado que foi a França, começou a precisar de concertos, que exigiam a montagem duma oficina especial.

Seria lógico que conscienciosamente se estudasse o local mais apropriado para ser feita a respectiva instalação. Mas qual história!... Tudo sempre ao acaso, sem o mínimo critério razoável. Disparates oatrás de disparates.

Emfim, deixemos por agora essa longa tragédia. Basta dizer que as grandes oficinas de automóveis chegaram a estar a vinte oito horas das primeiras linhas, situação em que se encontravam quando do 9 de Abril, e de onde tiveram de ser desmontadas nas piores condições, sob a ameaça do boche lhes deitar as mãos. Depois ainda de várias mudanças vieram as oficinas finalmente parar a Ambleteuse, onde, a meu ver, deviam ter sido inicialmente montadas, na hipótese de se devotem instalar, no que não estou absolutamente de acordo. Resultado: perdeu-se tempo incalculável, gastou-se imenso dinheiro e o número de automóveis incapazes aumentava dia a dia, chegando a mais do duzentos, quási metade do total de que dispúnhamos. Mas prossigamos.

Actualmente devem ser em número de quinhentos os automóveis e camiões regressados ou ainda a regressar a Portugal, o que, segundo as ordens dadas, vai ser reparado no Entroncamento com pessoal que fez parto do Corpeo Expedicionário Português, e contratado como civil. Os tratos que este material tem sofrido é de produzir calafrios. Quem deles quiser ter uma pálida idea vá a Santa Apo-lónia e lá encontrará dois desses desgraçados veículos, para ali abandonados há muito tempo.

Que tristeza tudo isto faz! Se continuarmos assim, tudo se perderá cornpleta-mente e todo aquele material que, tam útil nos podia ser, sobretudo no actual momento, ern que lutamos com uma pavorosa crise de transportes, para cousa alguma nos servirá.