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Diário da Câmara do$ Deputados

Sobre a questão de abastecimento de açúcar, folgo imenso que S. Ex.a tivesse chamado a minha atenção, pois me permite o ensejo de prestar1 alguns esclarecimentos.

É rara a câmara municipal ou outra qualquer entidade oficial que não aproveite o açúcar que se lhe envia para negociar com ele.

O Sr. João Gonçalves: — Por exemplo: a de Alenquer ...

O Orador: — E rialmente triste que eu chegasse a esta situação de não saber a quem hei de fornecer açúcar! E porquê? Porque não tenho -a certeza do que ele seja honestamente distribuído ao público. E o que sucede com o açúcar, sucede com o milho. Administradores do concelho, presidentes das câmaras e outras entidades, todos se conluem para que esses géneros não sejam honestamente fornecidos ao público.

O Sr. João Gonçalves:—Isto é um grande balcão! .. •

O Orador : — Citou o Sr. Manuel José da Silva o caso sucedido em Coimbra. Efectivamente, a Associação Comercial de Coimbra recebeu uma certa quantidade de açúcar, não 'sei a que título, por que não fui eu quem fez tal fornecimento.

O Sr. Manuel José da Silva:—Foi a pedido do Sr. Governador Civil.

O Orador:—E possível que a instâncias do Sr. Governador Civil, a Associação Comercial de Coimbra tivesse esse privilégio. Acontece, porém, que eu fui procurado por alguns representantes dá Câmara Municipal de Coimbra —digo-o bem alto para quo todos ouçam— que me pediram com o mais vivo -interesse o fornecimento de muito açúcar para a cidade de Coimbra a fim de satisfazer às necessidades de 60:000 habitantes, alegando aqueles amáveis cavalheiros que a Associação Comercial tinha recebido açúcar, cuja distribuição ninguém viu fazer. Acodi ao pedido, e desde logo mandei para Coimbra uns vagões carregados do açúcar, mas dois dias passados todo esse açúcar tinha desaparecido! Sei, no entan-

to, que se vende clandestinamente açúcar a 3$ o quilograma!

Estes factos fazem entristecer e desanimar quem se encontra gerindo os negócios do País.

Evidentemente que não possuo a prova, material de quem delinqúiu, pois de contrário mandá-lo ia para juízo. Luto com bastantes dificuldades para alcançar açúcar a preço barato, tanto mais que as companhias africanas provam com documentos-que deixam de ganhar muito dinheiro-fornecendo as ramas ao preço que o Estado as adquire, e, afinal, faz-se um verdadeiro negócio com esse indispensável género de primeira necessidade.,

Eu que procuro conseguir que o açúcar seja distribuído por maneira a bem servir o público, vejo finalmente que o-resultado é esses cavalheiros ganharem dois e três contos cm cada vagão.

.0 orador não reviu.

O Sr. Ministro das; Finanças (António Fonseca): — Relativamente ao assunto aqui ventilado relativo à Companhia dos Tabacos, devo declarar que essa companhia produz hoje o máximo que pode produzir em tabaco míi.nipnlíido.

O Sr. Júlio Martins: — ^Porque não há então tabaco nacional à venda?

O Orador:—Porque uma vez chegado o tabaco às casas de revenda, é logo as-sanibarcado. Hoje toda a gente assam-barca.

O Sr. Cunha Liai: V. Ex.a nesse caso.

-Intervenha então

O Orador: — Já lá vamos. Eu estou> respondendo às considerações de S. Ex.a pela ordem como S. Ex.a dirigiu o seu discurso. Referiu-se o ilustre Deputado primeiro à Companhia. Por isso comecei, por dizr-T quo a Companhia produz o máximo que pode fabricar; se não produz, mais é por falta de matéria prima, e a que há tem um aumento de COO por cento.

Se há falta de tabaco em Portugal, é porque, em grande quantidade, é elo transportado para Espanha, por contrabando.