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O Sr. Barbosa de Magalhães:—V. Ex.a mudou do lugar...

O .Orador: — Se estivesse no seu partido creia V. Ex.a que, a ninguém que estivesse dizendo o que eu digo, eu faria as interrupções que V. Ex.a faz. Não costumo fazer interrupções, porque as discussões devem sustentar-se num plano mais alto, que não seja o plano de baralhar.

Sr. Presidente : é inteiramente impossível este Tratado da Paz. Hoje há uma força nova que não se amolda ao capricho da civilização capitalista (Apoiados).

Um direito novo se levanta e ai daqueles homens públicos que, ou por paixão ou por deficiência, não o queiram ver.

Sr. Presidente: ou nós compreendemos inteligentemente o momento, colaborando todos na realização desse novo direito para salvar os destinos'da raça, ou continuamos a ser os mesmos homens que, negociando a guerra, de-ivíiram Portugal sem dinheiro, sem ouro.

Sr. Presidente: o Parlamento vai sancionar o Tratado da Paz. Pouca influência tal facto terá nos seus destinos; as reparaçães que a Alemanha deve aos aliados não chegarão para pagar a dívida da França. Da guerra saímos com honra e com brio, como exproprio da raça portuguesa, honra e brfo que cabem aos homens que sacrificaram a sua vida, que lutaram pela sua terra, que deram o seu sangue, à ordem do comando, para defender a honra da raça.

Para esses homens, Sr. Presidente, vai a comovida homenagem minha e do meu partido, que em face da insólita agressão alemã votou a intervenção na guerra.

Para esses, toda a comovida homenagem da minoria socialista, mas a respeito de quaisquer benefícios para o Pais não se fiem, havendo apenas uma cousa que temos de fazer por força: fechem V. Ex.as os olhos, tomem uma colher de -açúcar e votem o Tratado. •

Sr. Presidente: depois de terem votado o Tratado, o que peço aos homens que têm por obrigação olhar a situação internacional do meu país, é que não se fiem nas garantias da Sociedade das Nações que o Tratado contêm, e íaçam uma política inteligente, hábil e oportuna; mas essa política não pode ser feita obscuramente,

Diário da Câmara dos Deputados

dentro dos gabinetes dos Ministros, mas sim em público, para que se saiba a razão por que a politica portuguesa se desloca para um determinado lado, ocupa uma determinada posição, defende um determinado ponto de vista.

Se porventura a próxima deslocação do nosso eixo* político fizer com que se dê uma ameaça militar, emfim, Sr. Presiden-.te, vamos então para a Sociedade das Nações a fim>de que ela nos defenda.

Mas, sobretudo, no que os homens públicos, do meu país se devem inspirar é na legalidade e terem a competência precisa para a enfrentar, a inteligência para a compreender, levando os corações ao alto e sabendo compreender a gravidade do momento que atravessamos, para que Portugal se possa integrar no futuro, mantendo a sua tradição gloriosa.

Isto está nas mãos dos homens públicos do meu país, e é necessário ter a consciência limpa e ir ao encontro dessa civilização.

- Sr. Presidente: tenho tido nesta Câmara ocasião de afirmar que hoje não tolero, em nome do princípio socialista, uma raça a governar outr» rapa. p.omo não tolero o

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colectivismo do Estado, como se fez em Espanha. A entente entre os pOA^os, sim, mas o domínio de outro povo, não.

Sr. Presidente: vou terminar as minhas considerações pedindo aos homens do meu país, a quem cabo restabelecer as relações com as outras nações do mundo, que estudem bem o problema e digam ao País claramente qual a sua posição, para que não caia de chofro sobre a nossa naciona-; lidade a impressão profunda que'causou a carta do nosso Ministro João Chagas, publicada no Diário de Notícias, em que apesar de todas as intervenções na guerra se diz, duma forma bastante clara, que se não tivermos juízo estamos ameaçados de ^perder as nossas colónias.

E necessário que acabe a política de gabinete e que se galvanize a opinião do País, porque se tivermos de morrer, é mais bonito morrer de pé do que acabrunhados e tristes.

Tenho, porém, a convicção de que tal não sucedera, pois que conto muito com as virtudes da nossa raça.