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Diário,, da Câmara dos JDeputadot

vêrno, que qtiere todo o país como seu feudo, isso tem de acabar. Não se diga isso neste momento; porque representa mais uma vê/ uma especulação política.

j E é curioso que, quando o Partido Republicano Português retira a sua representação do Cf o vêrno, quando deixa de ter Ministros, se pretende dizer qne é ainda a ânsia do Poder que leva os democráticos a atirar ;o Governo abaixo!

Não, não o derrubamos —já o disse ò Sr. Álvaro de Castro, já o disse o Sr..Domingo s Pereira, e ninguém poderia ter o direito de tirar tal conclusão das palavras bem expressas e bem claras aqui proferidas pelo Sr. António Maria da Silva. Se, porém, se torna preciso concretizar melhor o ponto de vista do Partido Republicano Português, que, embora não dando o seu apoio a este Governo porque, efectivamente, as circunstâncias não llio permitem — e isto por virtude de actos praticados pelo próprio Governo — todavia não pretende derrubá-lo, não quere substituí-lo, porque só o quereria quando se pudesse constituir aquele a que se referiu o Sr. António 'Maria da Silva, qne sjmpre foi preconizado por este lado da Câmara e o Sr. António Granjo sempre prejudicou, eu direi que o meu partido entende mesmo que óle deve continuar e que, se cair, será unicamente por muito bem o querer, devendo em tal caso pesar íntegra sobre os seus ombros a responsabilidade desse acto.

Nós, Sr. Presidente, não esquecemos a hora gravíssima que atravessamos. Foi com os olhos postos na Pátria que tomámos a nossa deliberação c que a comunicámos ao Parlamento. O que, todavia, queremos também é que o Governo tenha a consciência dessa hora e esteja resolvido a daqui por diante fazer uma política orientada apenas pelos superiores interesses do País o a colaborar connosco na votação do Orçamento Geral do Estado e das medidas de ordem económica e financeira que são absolulameute indispensáveis para acudir à crise gravíssima que nos assoberba. Se o Governo aceita esta plataforma, podendo ainda contar connosco em tudo o que diga respeito a ordem pública, poderá bem manter-se nas suas cadeiras.

A situação política iica assim perfeitamente esclarecida. Concretizarei mesmo

numa moção que vou mandar para a Mesa o modo de ver, na presente ocasião, do-Partido Republicano Português e, em face dela, estou absolutamente certo de que o Sr. Presidente do Ministério não levará por dianto o seu propósito de abrir uostc momento unia cri s o ministerial, que poderia ter as mais perigosos consequências. Não queremos abri-la, não desejamos a. responsabilidade do que ela se abra e, se se abrir, não ó por nossa culpa. Fique isto bem assente e no futuro por todas as maneiras o poderemos comprovai-.

Estou convicto do que estas declarações, que com toda a sinceridade já tinham sido feitas pelos Srs. António Maria da Silva e Domingos Pereira, terão a força suficiente para levar o Sr. Presidente do Ministério c todo o Governo ao convencimento de que não têm de esperar por parte do. Partido Republicano-Português nenhum combate, nenhuma violência, nem tam pouco qualquer assalto-ao Poder, dado aqui, lá fora ou onde quer que seja, mas sim uma colaboração dedicada e patriótica, desde qne pelos seus actos a ela possa corresponder.

A moção que vou mandar para a Mesa acha-se formulada nos seguintes termos:

Moção

A Câmara dos Deputados, firmemente disposta a cumprir dentro do mais curto-prazo de tempo a obrigação constitucional do votar o Orçamento Geral do Estado, como base da regeneração financeira- e económica do país, não descurando' as questões momentosas de carácter social, resolve dar a este Governo os meios constitucionais de governar, votando mais um duodécimo, o aguarda que o/ Governo, mantendo a ordem pública e-colaborando entretanto com o Parlamento, traga ainda nesta sessão extraordinária ou na sessão ordinária próxima, não-só a definição concreta e precisa da sua política financeira e económica, mas ainda as propostas da lei que entenda necessárias e urgentes para resolver a grave crise que o país atravessa, e passa à ordem do dia.

Lisboa, 19 de Outubro de 1920. — Barbosa de Magalhães.